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Sábado - 19 Julho 2025

EXCLUSIVO: SEM CORRENTES – Um olho negro e uma guerra invisível

Destaques
A notícia da semana? Dois bilionários, protagonistas de uma era que já parece ficção científica, entram em confronto  e um deles sai com um olho esmorrado.

Até parece anedota, mas não é. O que se passou entre Elon Musk e um antigo “Bro”, companheiro inseparável Mr Trump, o Comandante e Chefe dos Estados (Des)Unidos da América. Com certeza um embate que se adivinhava. Uma versão de um garantido sucesso de bilheteira “Narcisista Vs Vilão Lunático” , que deixo como minha contribuição gratuita para a série “Bond”! 

De amigalhaços a palhaçada está assumido o divórcio no que foi mais do que um episódio de bastidores este é um claro sinal de algo maior. De que até os intocáveis têm limites. De que até quem ajudou a erguer um império tecnológico-mediático pode ser descartado, calado, espancado (literalmente ou metaforicamente) quando ousa questionar o poder que ajudou a consolidar. Até porque a máquina “Maga” andava-lhe com uma sede (como se diz na minha terra)! Bem expressada pelo arqui-inimigo Mr Bannon e que mostra que ele cumpriu o que havia prometido e agora começa festim da destruição do Musk que como Ícaro voou alto demais. 

É aqui que a história se repete. Sempre.

É assim que o totalitarismo ganha forma. Sempre! 

Os que, no início, aplaudem e celebram o líder que promete fazer tudo o que desejam, acabam por ser as suas primeiras vítimas quando ousam duvidar. O culto da personalidade transforma-se rapidamente em culto da obediência. E quem não obedece, desaparece.

Foi sempre assim  em todas as épocas, sob diferentes nomes, bandeiras ou ideologias. A mecânica do poder absoluto nunca muda. Só muda a roupagem.

Ver estes ciclos a repetir-se, com outras caras e outras ferramentas, é, em si, profundamente perturbador. Porque já não há desculpa para a ignorância. Porque já sabemos como acaba, sempre.

Mas o mais inquietante nisto tudo e que quase passou despercebido por detrás das luzes dos flashes e do olho roxo, foi o anúncio de uma proposta de lei que visa impedir os estados norte-americanos de legislarem sobre Inteligência Artificial durante dez anos. Sim, sim, um “free pass” para uma nova era de “move fast and break things “ tão profeticamente proferida pelo prodígio, não menos vilão, “‘menino-homem-robot” Meta, para um  “move faster and break even more”, este cunhado por mim . 

Uma década inteira sem controlo. Sem regras. Sem proteção. Um voltar ao espírito do velho Oeste Americano mas desta vez com brinquedos de destruição e até exterminio da humanidade.

Uma década a deixar que corporações privadas, com interesses próprios e sem qualquer mandato democrático, definam o que é permitido, quem tem acesso, quem é vigiado, quem é invisível.

“A ausência de regulamentação na inteligência artificial quer transformar o setor num verdadeiro faroeste digital.” Afirmo. 

Esta é a grande questão do século. A inteligência artificial não é uma “ferramenta” neutra. É um campo de batalha. É poder, é controlo, é economia, é soberania. É manipulação emocional. É guerra híbrida. É futuro.

Assistir ao nascimento de uma lei que pretende não regular esta realidade é, no fundo, abdicar da nossa própria capacidade de decisão enquanto sociedade. Digna do título de um dos livros da minha vida : “servidão humana”. Será se nada fizermos . 

Por isso o resumo da semana (e do século), não é sobre Elon Musk. Nem sobre o seu olho. É sobre o que está a ser desenhado por detrás dele, nas sombras.

E por isso, esta crónica não é sobre a pancada.

É sobre o silêncio que se lhe segue.

É sobre o que nos está a escapar, enquanto estamos distraídos. Os que não estão são chamados a agir. Não mais tarde porque em muitas coisas já vamos tarde demais. 

Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.

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Criada por Marisa Monteiro Borsboom, Sem Correntes é um espaço de cidadania ativa e pensamento livre em português.

Não procura consensos fáceis, mas romper a apatia através da palavra com propósito.

Aqui levantam-se perguntas difíceis, exploram-se dilemas atuais e convoca-se à ação, à escuta e à responsabilidade de construir um mundo mais justo, com todos e para todos e ativar a agência humana.

Por Marisa Monteiro Borsboom

Marisa Borsboom / Correspondente no BENELUX
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