O Cap Magellan é uma Associação que foi criada em 1991 na França. Está sediada em Paris e o objetivo da primeira geração que criou Cap Magellan era “o português ou luso-descendente”, que já tinham nascido em França, que estavam cansados dos preconceitos que rodeavam a Comunidade portuguesa e lusófona de França. E daí o lema: “Agiter lusophone”, que expressa um pouco “mexer com a perceção que existia da Comunidade na França” que representavam a Juventude lusófona, dar representação à cultura, ajudar os jovens nos problemas que eles podiam enfrentar naquela época, focado mais no trabalho. E por isso que um dos primeiros eixos foi criado dentro da Cap mas depois da cultura, foi o DSE, o “Departamento de Estágio e Emprego”.
Lurdes Abril, a Presidente encontra-se em Lisboa. Nasceu em Portugal, é da Serra da Estrela, do Concelho de Gouveia. Os pais emigraram para a França e esteve lá até acabar os estudos superiores em direito. “Tornei-me voluntária da associação em 2018, quando estava na faculdade e depois do COVID, em 2020, decidi regressar a Portugal, porque sempre me senti portuguesa, mesmo quando deixei o país com apenas um ano de idade, o coração tinha ficado cá”. Tornou-se a representante da Associação em Portugal, e começou a desenvolver as presenças no Conselho Consultivo no CNJ. No ano passado, em abril “tornei-me Presidente depois de 10 anos da Ana Martins, que estava antes de mim.”

Objetivos do CAP Magellan
Foram criados muitos fóruns do emprego, porque a Juventude, naquela época, enfrentava um dos maiores desafios, encontrar trabalho e fazer com que a língua portuguesa, a herança lusófona fosse uma arma, uma coisa positiva. E então lá foram desenvolvendo ações à volta desse tema. Foram também desenvolvidos outros eixos de ação, por exemplo, na cultura foi criada a revista “O Cap Magui” há alguns anos atrás. “Alargámos também para uma revista, o CAP Mag Junior”, que é uma revista só escrita em português, para um público entre os 8 e os 12 anos. Porque este projeto, que “nós lutamos há muitos anos para uma melhor representação do ensino da língua portuguesa em França”, que é “onde estamos presentes, achamos que há uma diferença de tratamento entre a língua francesa aqui em Portugal e a língua portuguesa na França, que não se explica.” Refere a Presidente
A Comunidade lusófona é muito importante em França, para além da Comunidade portuguesa, que dizem que representa dois milhões. “Somos muito mais do que dois milhões, se contarmos todos os lusófonos dessa comunidade, os angolanos, os moçambicanos, os brasileiros, por isso somos uma Comunidade muito importante e que fala a língua portuguesa. Há 30 mil vagas para aprender o português em França. E aqui em Portugal há 250 mil vagas para aprender francês.”!

A França é um país Membro Observador Associado da CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e não fazem nenhum esforço para valorizar, promover o ensino da língua portuguesa. Tendo então surgido o projeto do CAP Mac Júnior da “nossa revista para as crianças”.
Decidiram fazer um suporte para as crianças terem mais proximidade com a língua portuguesa. Que se traduz em conteúdos de qualidade variado para os jovens terem o contacto com a língua portuguesa. “Acompanhamos essa revista também das sessões de leituras para aquelas crianças que possam praticar o português, e conhecer outras crianças também, que sejam da Comunidade, e possam começar a desenvolver uma rede nesse sentido.”

No aspeto cultural também “temos a nossa gala”. Na qual colaboram na Comunidade Lusófona de Paris, mais especificamente e no seu todo na França. “Temos prémios financeiros e não financeiros que remetemos nessa gala para o melhor estudante, para o melhor projeto associativo”.
Também “temos um eixo de ação na parte da língua portuguesa”. E fizeram o Cap Junior, mas também “fazemos, promovendo, por exemplo, a quota do 7%, que é um contingente especial para os jovens lusodescendentes aqui no ensino superior em Portugal”, que permite aos jovens descendentes, usufruir na primeira vaga de acesso ao ensino superior, uma quota de 7% e foi acrescentada a 3.5 à segunda vaga.

“Vamos tentar que ela seja alagada à terceira vaga”, fazendo a promoção do ensino português em Portugal, junto desses jovens. Conseguimos também trazer essa Juventude que se calhar já nasceu na França, que já está um bocadinho mais longe das origens, de volta a Portugal. Ver Portugal com outros olhos, não apenas como o país de férias. E assim fazer com que tenham vontade de regressar.”
Ao nível de cidadania também trabalham bastante com a campanha de segurança Rodoviária, que este ano cumpriu 21 anos. É uma campanha de segurança Rodoviária que acontece em três países: França, Espanha e Portugal. Fazem o caminho dos emigrantes de volta a Portugal. Começam sempre em Paris, com uma ação de sensibilização e vida noturna, porque a campanha de segurança Rodoviária tem dois eixos. O eixo dirigido aos emigrantes para a sensibilização aos perigos das viagens durante o percurso, ou seja, são muitos quilómetros entre a França, a Bélgica, Luxemburgo, Suíça até Portugal.

Recomendamos que façam pausas, que verifiquem que se a viatura está em boas condições, pois são muitos quilómetros de estrada. “Estamos nas fronteiras sempre no último fim de semana de Julho ou no primeiro de Agosto, para dar as boas-vindas aos emigrantes. Esse é o eixo dirigido à viagem propriamente dita. E o segundo eixo é dirigido aos jovens, onde fazem uma sensibilização sobre os perigos da estrada.
No âmbito mais festivo, ou seja, o perigo do álcool e outras substâncias, estão presentes em discotecas, festivais, e festas populares. Dão uma pulseirinha ao condutor da noite, “ao que nós chamamos o capitão da “Soirée”, o capitão da noite. “Conduzir ao beber é preciso escolher”, ou seja, quem vai conduzir não vai poder beber. Ao fim da noite, sopram no balão, se estiverem ao nível legal, levam o saco ou um brinde e vão mais descansados para casa.

Fazem uma série de campanhas, também fazem o apelo ao voto, ou seja, este ano “fui a muitas campanhas de apelo ao voto. Tivemos muitas eleições tanto na França como em Portugal.”
Fizeram uma sensibilização ao dever cívico de ir votar, e também tomaram várias posições, nomeadamente contra a extrema-direita, tanto na França como em Portugal. “Recusamos-nos a entrar em contacto com o partido do Chega, e apelámos a votar contra a assemblée nacional na França, pois somos uma associação apartidária.

“Não temos nenhuma afiliação política. Somos simplesmente uma associação de jovens que tentam agir.”
Na qualidade de Presidente, “em Portugal, também temos membros do Conselho de Administração da Direção cá. Membros do Conselho Consultivo, que é o Conselho que representa a Juventude junto do Governo. Somos a associação que está convidada a representar as comunidades e o nosso objetivo nessas reuniões não é para pedir mais direitos para os jovens lusodescendentes, em detrimento dos jovens que estão aqui. Não, não é isso, o nosso objetivo é relembrar que um jovem que saia do território nacional que já não está nas fronteiras nacionais, deixa de ser um jovem que interessa a Portugal.” Há iniciativas para atrair portugueses que se encontram no estrangeiro e que podem encontrar em Portugal uma oportunidade. Também existe o Programa Regressar, uma iniciativa dos governos.
Apoio das Embaixadas e Consulados em França
Ao nível de representação diplomática, “temos bastante sorte na França.” Há muitos consulados espalhados um pouco por toda a parte. “Não somos o país que está pior representado, ou que tenha muitos motivos de queixa”. “Estive há pouco tempo com representantes que está na Estónia, e explicou-me que lá a Embaixada fica entre a Suécia e a Estónia.
Às vezes sentem dificuldades em fazer marcações. Mas na França não há muitos motivos para queixas com a representação diplomática. Enquanto associação sempre “tivemos um bom contacto com todos os consulados na França e com os senhores embaixadores em Paris. Há pouco tempo, no dia 12 e 13, estivemos no Salão de Versailles. Foi uma Feira sobre o ensino superior “e nós estávamos a representar o ensino superior. E contámos com a presença de vários Institutos do ensino superior.”
De Portugal “tivemos o Instituto Politécnico de Bragança, o Politécnico de Leiria, o Instituto Piaget, a Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro, UTAD. Também tivemos a Agência Erasmus e na nossa cerimónia de abertura, contámos com a presença do Embaixador, da Cônsul, e do Secretário de Estado das Comunidades, em representação do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por isso, da nossa parte, é verdade que temos um diálogo com as instituições na França, e com as Instituições aqui em Portugal.”
É claro que “gostaríamos que fosse ainda mais frequente, mas percebemos perfeitamente que Portugal é um dos países onde as comunidades estão espalhadas por todo o planeta e não pode ser só a França a pedir e a monopolizar a atenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros.”
Há pouco tempo participaram num curso dos dirigentes associativos da diáspora, em Braga, junto com outros dirigentes associativos. A maioria eram da América Latina e “apercebi-me das dificuldades que eles sentiam naquela parte do planeta”. E que às vezes “as nossas frustrações enquanto associação ao nível de financiamentos que existem, por exemplo, a Direção-Geral dos Assuntos Consulares, e por vezes sentimos muita frustração, enquanto associação, muitas das coisas que fazemos é graças aos financiamentos, nomeadamente a financiamentos públicos. “E quando não conseguimos esses financiamentos públicos nem privados, há atividades que não conseguimos levar avante, e isso é frustrante.” Mas se tivermos em termos de comparação, verificamos que na América Latina, por exemplo, não têm o que “nós temos ao nível de oportunidades com a União Europeia, com o Erasmus, e isso também faz com que tenhamos uma perspetiva diferente e apreciarmos um pouco melhor a nossa situação na Europa.”
Como é que são vistos os portugueses desta nova geração pelos franceses?
“Eu diria que temos uma nova geração que é bastante orgulhosa das origens.” Passámos por uma fase onde os jovens e o ocidente não queriam assumir a parte portuguesa ou a parte lusófona, muita das vezes, porque não sabiam falar a língua. Hoje sente-se que há uma frustração dos jovens que não sabem falar a língua de Camões, de não terem os pais que ensinassem”.
A verdade é que “eu tive a sorte, porque os meus pais se sentiram sempre portugueses, e sempre fizeram de tudo para que eu aprendesse português e a cultura Portuguesa. Por isso fui uma privilegiada nesse sentido”.
“Eu sei que houve uma segunda geração de imigração quando chegou à França. Que um dos objetivos era a integração e para se integrar, as pessoas começaram a dar nomes franceses aos filhos, começaram a minimizar a importância das origens portuguesas, não ensinavam português.”
E agora, hoje em dia há o movimento inverso, ou seja, ao contrário dessa geração que pensava que a melhor opção era integrar-se e esquecer o passado. Temos uma nova geração que tenta valorizar essas origens, que tenta reconetar-se. Que é uma riqueza. Quando antigamente pensava-se que ser português não era uma coisa boa, hoje em dia, valoriza-se; a língua, saber falar português é uma oportunidade para fazer os estudos em Portugal. “É positivo, os estudos portugueses são de qualidade, ou seja, eu acho que há uma evolução da parte da Comunidade lusófona nesse sentido, neste momento da parte francesa.”
Não significa com isto que é tudo um mar de rosas, “penso que vamos a ter preconceitos de uma parte da população que ainda é muito de espírito fechado, mas como tem havido nos últimos anos, “Portugal está na está na moda, está em voga, há cada vez mais franceses virem a Portugal a descobrir a outra parte de Portugal.” Descobrir uma parte da cultura portuguesa que não conheciam porque só estavam em contacto com a Comunidade Portuguesa de França, “que não representa Portugal ao nível global”. Agora, “estamos com um número “excessivo”, ou seja, as pessoas que só vão a Lisboa e Porto. Mas também há cada vez mais estrangeiros que realmente se interessam pelo nosso património. Há uma evolução.”
O facto deste ano termos comemorado os 50 anos do 25 de abril é um tema que se falou muito em França. Houve uma abertura sobre sobre o 25 de abril e o que representa, o Presidente Macron, fez um discurso sobre sobre esta data tão importante do nascimento da democracia em Portugal.
Na Embaixada de França em Lisboa, houve uma exposição sobre o olhar francês do 25 de abril, e até se percebe também qual foi a perceção da revolução naqueles anos em França. Por isso sim, “eu acho que há uma evolução, mas também é um combate que há-de sempre pairar, porque infelizmente nem toda a gente é tão aberto de espírito. Para muitos os portugueses serão os porteiros e os homens das obras, só o tempo dirá quando é que esta empreitada terá o seu fim!”
Quantas pessoas é que fazem parte do Cap Magellan?
É difícil contabilizar só para ter uma ideia só na campanha de segurança Rodoviária aqui em Portugal durante o verão, só jovens, “temos mais de 100, 150 mais ou menos”, na equipa no dia a dia “temos uma equipa de cerca de 10 pessoas”. Um Conselho de administração com sete pessoas. Uma rede de voluntários espalhada por toda a França. Também há representação em alguns países da Europa. “Por isso somos muitos”. E o que faz “a nossa força é que cada um dá o que pode, ou seja, temos voluntários que vêm quase todos os dias, que participam nos nossos eventos.
Na escola, ou seja, cada um dá o que pode. E é isso que o torna belo “quando trabalhamos juntos, conseguimos sempre dar vida a projetos que alcançam o máximo de membros possíveis da Comunidade. E, por isso, não é o número que nós olhamos, é para a motivação de cada um, porque às vezes só com uma pessoa alcança-se muito.”
Uma Mensagem aos emigrantes que se encontram pelo mundo, ou aqueles que queiram e pretendem sair do país?
“Eu acho que é bom, nunca julgar uma pessoa pela decisão que toma”, ou seja, um português que decida sair de Portugal, não tem mal nenhum. Cada um toma a decisão sem ter de se debater longamente, só temos é de respeitar.
“Já fui questionada muitas vezes por ter regressado a Portugal, e isso não é bom. Regressei porque gosto de cá estar, porque me sinto bem. Eu estava sempre a dizer, a decisão é minha.”
O povo Português, de maneira geral, é um povo que está sempre a desafiar-se, sempre a lutar para o seu próprio bem, para o bem dos seus filhos e “eu fico muito orgulhosa de fazer parte desta comunidade que nunca abandona e que está sempre a procurar alcançar um futuro melhor. Por isso, uma mensagem de esperança e espero sinceramente que cada pessoa que esteja em Portugal, ou lá fora, que encontrem um futuro feliz que estão a construir a cada dia.”
