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Segunda-feira - 14 Outubro 2024

EXCLUSIVO: Sofia Soares, a experiência de emigrar “Do it!”

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Sofia Soares é uma de muitos jovens que quando chegam à Universidade ficam um pouco à “nora” sem saber muito bem que curso escolher, ou o que pretendem ser no futuro. Frequentou a escola secundária em Beja, no Alentejo. Escolheu ciências para ter acesso à escolha de mais cursos universitários, mas só gostava de Biologia. Acabou o secundário com 17 anos porque nasceu no mês de novembro e entrou na escola primária com 5 anos, daí ter começado a universidade em Inglaterra aos 17 anos.

Devido à sua tenra idade, nunca trabalhou em Portugal, e não tem a noção de como é trabalhar por terras lusas, só ouviu o que os amigos lhes contam. Já está em Inglaterra há 9 anos e vai candidatar-se este ano para o passaporte britânico, “não para ficar cá para sempre, mas para poder ter liberdade de sair e voltar quando quiser.”

Escolheu sair do país depois da secundária em Beja nunca teve nenhuma ideia clara do que queria fazer.

“Os meus pais preocupados, agendaram uns testes psicotécnicos para ver se me ajudavam a descobrir a minha vocação.” Os testes revelaram então que o seu trabalho deveria estar relacionado com crianças, sugerindo medicina pediátrica, para a qual não tinha notas. Antes de se ir embora do consultório o psicólogo disse-lhe que a via na área de psicologia, mas com mais alguma coisa mas não sabia dizer o que.

Uma amiga “partilhou comigo que ia para Londres fazer um curso de psicologia criminal, e foi o único curso que tinha ouvido que me causou algum interesse.” Sem pensar muito, “partilhei a ideia com os meus pais que me apoiaram a ir com a minha ideia em frente.” E aos 17 anos estava em Inglaterra a estudar Criminological Psychology in Buckinghamshire.

No entanto, a sua amiga foi para Londres estudar escrita criativa. “A seguir ao meu curso, ainda tinha curiosidade em perceber mais como a mente funcionava, então, fui para Londres fazer um mestrado em cognitive neuroscience and neuropsychology na Birkbeck University. Fiz o mestrado em part-time (em dois anos) enquanto trabalhava part-time como professora assistente numa escola de necessidades especiais, que senti que se relacionava com o meu curso, porque estava a estudar autismo, dislexia, adhd etc.”

A seguir ao mestrado ainda tinha interesse em continuar a sua formação académica e fazer um PHD (Doutoramento), mas o covid não facilitou, e depois de tentar durante um ano percebeu que nesta altura do mundo, os laboratórios não estavam a funcionar e as bolsas estavam paradas.

Começou a trabalhar numa escola de ensino “normal”, onde ganhou interesse em tornar-se SENCO (special educational needs coordinator) e para o ser, tinha que se tornar professora primeiro. E assim o fez. “Sou professora de ciências numa escola secundária no conselho mais privado de Londres e também sou a coordenadora do departamento de necessidades especiais, uma posição que não existe em Portugal, pelo menos na mesma capacidade.” Continuou com interesse em fazer um Phd, “mas em termos económicos de momento não compensa e então é difícil de racionalmente justificar essa escolha, talvez no futuro.” Revela-nos Sofia.


Gosta de estar no Reino Unido?

“Sim, gosto.” Diz prontamente Sofia. “Gosto da cultura de trabalho, uma cultura de positividade e de apreciação pelo trabalho. Apreciação, que é mencionada e agradecida verbalmente. Gosto do acesso fácil à cultura, aos teatros, aos museus grátis. Gosto da cultura de ir para o parque quando está sol e gosto dos parques vastos e sempre com vida, com movimento. Gosto de cultura de correr na rua e de andar de bicicleta ser o método de transporte de muita gente, incluindo eu. Sinto-me bem aqui, sinto que tenho oportunidades e que posso ser aquilo que quiser, sinto que as carreiras não são estáticas e mudam bastante ao longo do tempo, e gosto dessa liberdade.” Enfatiza.


Alguma vez se sentiu discriminada?


Não sabe bem o que os ingleses acham dos portugueses, “mas sei que sempre fui muito bem tratada independentemente de ser portuguesa. Sempre achei que as pessoas estavam sempre prontas para ajudar, até quando não pedia ajuda, parecia confusa, as pessoas perguntavam se precisava de ajuda para alguma coisa. Nunca me rodeei de portugueses até há 3 anos atrás.” Tinha sempre a sensação que os portugueses que lá estavam da sua idade estavam sempre a pensar em voltar e não a aproveitar a experiência de lá estarem na totalidade e sem pensar muito a longo prazo.

Pensa regressar a Portugal muitas vezes. Ultimamente “tenho pensado mais a longo prazo e onde gostava de estar daqui a uns anos, mas na verdade não gosto de fazer planos muito rígidos, prefiro deixar a vida acontecer. Gostava de viver ainda noutro país, gostava de mudar, mas para voltar para Portugal precisava de uma proposta financeira apropriada ou de um motivo maior.”

Um conselho para quem pensa em emigrar?

“Do it!” Independentemente de ser uma experiência boa ou má, aprende-se sempre muito. “Na minha opinião abre-nos um bocado os olhos para a realidade dos outros e como isso pode ser a nossa se assim o desejarmos. Quebra certas barreiras que pomos a nós próprios ou que temos de viver num país não tão desenvolvido em termos de formas de trabalhar eficazmente.” Termina Sofia Soares.

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