O Cônsul de Cabo Verde do Porto, Carlos Machado, adiantou-nos que apesar de não haver uma falta de emprego em Cabo
Verde, vê com otimismo a vinda de Cabo-verdianos para Portugal. O mesmo se passa com os estudantes que, e devido à língua é mais fácil estudar em Portugal, e também devido à aproximada relação que existe entre estes dois países. Apesar da maioria da emigração Cabo-verdiana estar nos Estados Unidos, Portugal é o segundo país que acolhe mais imigrantes daquele país. Cifram-se em cerca de um milhão que estão espalhados pelo mundo.
A sua ida para o Consulado do Porto teve a ver na altura com o falecimento do anterior Cônsul. E não havia representação Consular no norte, nomeadamente do Porto, as pessoas que viviam longe tinham que se deslocar a Lisboa para tratar de qualquer assunto, perdendo um dia de trabalho, e dinheiro para as despesas das viagens. E o embaixador de então que, o atual Cônsul tinha tido boas relações ao nível de apoios a Cabo-verdianos, foi convidado em 1998 para ser o novo Cônsul-Honorário do Porto, “e aqui estou há 26 anos no consulado.”
“Eu gosto do que faço”, na altura houve uns abaixo-assinados para a embaixada a solicitar que fosse nomeado um Cônsul no Porto. “Tinham solicitado e o então embaixador convidou-me. Eu aceitei como cabo-verdiano, seria um apoio que viria a dar aos meus conterrâneos, uma representação, junto das entidades oficiais e junto de empresários.” É um trabalho não remunerado. “Mas eu tinha disponibilidade de tempo, e como pertencia ao ISMAI na altura, e estava no Conselho Fiscal da Cooperativa, podia gerir o tempo, tinha as manhãs livres e achei que não devia recusar um pedido desses, a Cabo Verde e aos cabo-verdianos.”
Presença dos Cabo-verdianos em Portugal
O Cônsul referiu que é benéfico quer para Portugal, quer para Cabo Verde haver mão-de-obra mais qualificada e que é bom que Portugal empregue Cabo-verdianos. Quantos aos estudantes que se formam em Portugal também é benéfico para o país, pois pode beneficiar com mão de obra mais qualificada desses jovens. Muitos não regressam a Cabo Verde e ficam por cá a trabalhar. Uma vez que há falta de de mão-de-obra cá, Cabo Verde, ao contrário tem muita e às vezes mão-de-obra qualificada. De maneira que vê com bons olhos virem e terem um trabalho e de ajudarem as famílias em Cabo Verde, – o Cabo-verdiano tem muito isso, de ajudar a família.
“Portugal tem ido a Cabo Verde buscar mão-de-obra especializada, já contratou muitos condutores, para a zona de Setúbal e perto do Porto, para conduzirem transportes públicos, “vieram aos 10 e 15 de cada vez” refere o Cônsul. E para a hotelaria também vieram muitos, alguns com formação, outros com experiência. “Houve uma altura que se ouvia dizer que iam para o Algarve 1500 Cabo-verdianos para os Hotéis no sul do país, e em Cabo Verde ficaram preocupados e até disseram: “Vamos ficar sem mão-de-obra… não vieram os 1500, mas vieram muitos”. Segundo o cônsul, não vê isto como uma problemática, mas sim como positiva quer para Cabo-Verde e para Portugal.
Neste momento Cabo-Verde não atribui Bolsas de estudo, atribui bolsas de mérito aos melhores alunos. Há acordos entre Instituições de Ensino Superior, e também na formação profissional, com as Câmaras, essencialmente, em que os Cabo-verdianos vêm para cá em condições especiais, por exemplo, o caso do ISMAI, onde o Cônsul é sócio. “Nós temos acordos com as câmaras e damos 50% de desconto nas propinas na escala de anos. Mas concorrem através das câmaras. Ou num regime Internacional.”
Quantos Cabo-verdianos emigraram, há dados?
Segundo o Cônsul consta-se que há mais Cabo-verdianos fora do que dentro do país. “Mas suponho que é capaz de rondar perto de um milhão de Cabo-verdianos e descendentes de Cabo Verde, temos uma grande colónia nos Estados Unidos, depois em Portugal e depois outros países: França, Holanda, Itália. Um pouco por todo o mundo.”
Relacionamento diplomático entre Portugal e Cabo-Verde
“Excelente praticamente desde o início da Independência”, as relações entre Portugal e Cabo Verde “estiveram sempre muito bem e cada vez melhor, neste momento, acho que as relações são excelentes.”
Uma vez que Cabo Verde não teve luta armada, que foi feita na Guiné-Bissau, Cabo Verde não teve aquele trauma da luta armada. Houve uns problemas no início perto da Independência e pós Independência, “mas não há trauma”. Os portugueses que vão a Cabo Verde sentem-se em casa. “As relações são boas, as pessoas integram-se bem, poderá sentir-se isoladamente um caso ou outro, mas de um modo geral não há essa problemática.” Atesta o Cônsul Carlos Machado.
Ficaram lá muitos portugueses na altura da Independência e continuam a ir muitos portugueses para Cabo Verde trabalhar.
Em relação à integração Cabo-verdiana em Portugal, mais concretamente no Norte, da qual é o responsável Consular, não tem tido grandes razões de queixa, aparece um caso ou outro, “mas não tenho razão de queixa. Aliás, os Cabo-verdianos, por exemplo, no ISMAI, que é o que eu conheço melhor. A Comunidade estudantil, está bastante integrada.”
No Porto, essencialmente, de um modo geral estão bastante integrados. Em Lisboa já é um pouco diferente porque se encontram muitos em bairros problemáticos, mas no Porto estão espalhados, não há bairros de Cabo-verdianos, há zonas em que há mais Cabo-verdianos, como é o exemplo de Ramalde, e perto das Fontaínhas, mas não há aqueles bairros como há em Lisboa. Chegou haver, mas já foi demolido, e os Cabo-verdianos foram realojados, mas espalhados. Não se pode dizer que haja um bairro de Cabo-verdianos, no Porto e na zona Norte. Que é a área jurisdicional do Consulado no Porto.
A emigração portuguesa em Cabo-Verde
Os portugueses continuam a emigrar, e África continua a ser um dos destinos também de eleição, e Cabo-Verde não é exceção, segundo o Cônsul de Cabo-Verde remete em primeiro lugar o fator da língua, e depois por ser um país atrativo com um “clima extraordinário, com praias muito boas”.
Nalgumas áreas, Cabo Verde tem menos mão de obra especializada, falta de quadros especializados no ensino, e considera a emigração portuguesa positiva para ajudar Cabo Verde a desenvolver-se.
Mensagem aos portugueses emigrados em Cabo-Verde e aos Cabo-verdianos em Portugal
A mensagem para os portugueses que pretendem ir para Cabo-verde é: “para irem, e verem que se sentem como Cabo-verdianos em Cabo Verde.”
E aos Cabo-verdianos que pretendam vir para Portugal ou que já se encontram cá, é: “que trabalhem e façam a sua vida sem criar problemas. E que tentem valorizar-se, para que um dia se quiserem regressar a Cabo-Verde já vão com outras condições.”