Em entrevista ao Jornal Comunidades Lusófonas, o Presidente do Conselho da Diáspora Portuguesa, António Calçada de Sá, traçou os nove pontos que o Eurafrican Forum nos dias 25 e 26 de julho se propunha. Falou da importância do Continente Africano e o que a União Europeia, conjuntamente com Portugal podem fazer pelo continente africano.
Vão apresentar um apanhado dos dois dias do Fórum e entregar aos países interessados. Neste Fórum estiveram presentes Embaixadores, Investigadores, Empresários, e outros onde apresentaram um conjunto de ideia de debate sobre África e a Europa. A importância das infraestruturas, ciência, tecnologia e energia, foram alguns dos pontos que mais se insistiu. O Conselho da Diáspora Portuguesa tem feito ao longo destes 12 anos de existência um trabalho digno de registar.
Calçada de Sá, foi muito assertivo na sua abordagem, falou sobre o Eurafrican Forum, e o seu impacto. O Continente Africano tem e muito a ganhar com as ajudas do velho continente europeu, e como alguém disse no fórum “o Continente europeu é rico, mas velho, e o continente Africano é pobre, mas jovem”.
Para Calçada de Sá delineou o âmbito e importância dos Conselheiros que estão nos vários continentes. São um pouco o eco e ressonância do que foi o evento. “O Eurafrica Forum 2025, na sua oitava edição, foi, até penso que é capaz de ter sido a edição com maior impacto. Tivemos o privilégio de contar com a participação de 6 ministros. Ministros do Governo de Portugal e Ministros do Governo de Angola. Alguns representantes da União Europeia. Empresários, Académicos, pessoas do mundo da cultura, foram 2 dias em que estiveram 500 pessoas em cada um dos 2 dias.” Revela o Presidente.
Estiveram a fazer a cobertura jornalística mais de 20 meios de comunicação social. O Eurafrican Forum conseguiu aquilo que “nós estávamos”, à espera, quando desenvolvemos a ideia e até o próprio título. Tratar de ver primeiro, de um ponto de vista institucional, e de um ponto de vista do grande debate, como espaço e plataforma de reflexão e debate, e está a conseguir fazer também que possam convergir interesses que são legítimos no continente africano, e no continente europeu, tendo Portugal um pouco como centro e plataforma para essa União, esse vínculo. Foram dois dias em que se falou também de comércio, e de investimento.
Também se abordou políticas para o progresso que tem a ver com: Educação saúde, a igualdade de género, a segurança, entre outros assuntos. Estiveram em debate outros tópicos importantes, como financiamento dos grandes projetos. Apoiar o ecossistema de inovação que existe em África. As startups, um capítulo importante que também foi discutido, o da energia, e África como uma grande solução para este processo de transição energética que está em curso.
Os mercados globais, onde África tem que se fazer ouvir mais. África tem que estar presente nessas grandes discussões, porque é um grande continente. A parte das infraestruturas e o défice de infraestrutura e falta de financiamento, são questões prementes, no caso da tecnologia, tem de haver um vínculo muito forte, sem ter uma transferência de conhecimento, mas também uma transferência de tecnologia que acelera estes processos, e o fator geopolítico, em suma, estes foram os nove grandes tópicos, que se discutiram no Eurafrican Forum 2025, uma agenda bem completa.
A partir daí, o que é que se pode fazer com esta agenda? Segundo o presidente do Conselho, “vamos escrever um resumo, executivo, sobretudo o que se falou, e as ideias que nós ouvimos, ao longo destes dois dias e vamos compartilhar com as instituições portuguesas, com algumas instituições africanas, no sentido de, a partir daí se puderem até gerar alguns projetos.” Revela Calçada de Sá.
“O Conselho da Diáspora provém de 22 fundadores, herdamos uma diáspora, já a começar a crescer com 70 e poucos, 80 membros. Neste momento somos 336. Estamos em 5 continentes em 44 países, temos projetos fantásticos espalhados por todo o mundo. Temos os núcleos regionais da diáspora a funcionarem nos distintos países nas distintas regiões. São 14 centros regionais, 13 centros de competência. Temos a diáspora jovem, com toda a sua energia e com toda a sua vontade a colaborar também. E muitos outros projetos. Tudo isto há-de poder encaixar e vai encaixar com certeza numa agenda que tem a ver com o Eurafrican Forum, ” explica o Presidente.
Falou sobre os conselheiros, qual é o papel destes na comunicação com os países para fazerem o esse trabalho lá fora. Há uma conexão, ou é feito localmente em Portugal?
António Calçada de Sá, começa por dizer que esta relação é absolutamente bidirecional, ou seja, nós por um lado temos alguns projetos que são mais centrais. E também aquilo que nós chamamos, o botão, que é tudo que tem a ver com essa realidade que existe em 44 países, em 5 continentes e aí sim nós não só ouvimos como dependemos muito da opinião que vem desses conselheiros que estão espalhados pelo mundo. Descreve o Presidente.
“Temos que pensar que são pessoas que alguns deles são empresários, que estão em países que geram tanto impacto, que se calhar se estivessem em Portugal, seria uma empresa cotada.” Repara António.
A Diáspora tenta que estejam nesses radares. São pessoas que são verdadeiros motores de diplomacia económica, porque conhecem as realidades locais, não estão lá há três ou quatro anos, são pessoas que estão na sua primeira, segunda geração. Que conhecem as realidades onde se encontram, estão sempre muito preparados para poderem dar recomendações que são muito aplicáveis no terreno e, nesta arquitetura, nesta organização neste momento, no Conselho da Diáspora Portuguesa no Mundo.
Têm essa vantagem que é, alguns projetos que são muito transversais, um pouco top down e depois esses projetos botton up, que têm a ver com as realidades locais, os que estão nos Estados Unidos da América, os que estão se calhar no Brasil, na África ou na Ásia, têm ideias diferentes sobre necessidades diferentes, sobre projetos diferentes. “E é isso que estamos a tentar fazer convergir. E o Conselho da Diáspora nunca teve tanta vitalidade como tem neste momento.” Afirma
Convergir no mesmo espaço 44 países, o Presidente da República Portuguesa e o Presidente de Angola. O resumo deste Fórum?
Para Calçada de Sá, o caminho faz-se caminhando. E, portanto, neste caso concreto, acho que ficou muito clara e que existe uma sintonia, uma convergência de interesses. Obviamente que a União Europeia, por um lado, e a União Africana pelo outro, têm que identificar os pontos de convergência.
Se pensarmos que entre 2052, e 2100, África vai ser o continente com a maior população a nível mundial, vai ter mais população que a Índia e que a China juntos. E com a população mais jovem, e um continente com recursos, não é recursos para serem explorados. Recursos que vão ser compartilhados na criação de valor e para a melhoria da educação, das infraestruturas e do bem-estar da sociedade Africana.
“Se nós conseguirmos fazer isso, todos temos a ganhar, se África ganha a Europa ganha e se os dois ganham, o mundo ganha.” Explica.
Os dois Presidentes deram mensagens muito positivas. Têm que ver como é que podem colaborar em alianças, porque uma coisa são alianças e outra coisa são imposições. Neste caso concreto, têm a questão das infraestruturas em África com grandes oportunidades no investimento, e na melhoria da situação em África, a questão da energia, da agricultura e da alimentação que está vinculada à agricultura. Áreas muito frágeis no continente Africano.
A mensagem do Presidente da Angola, o continente africano e a Europa?
O Presidente João Lourenço disse: que Portugal está lá há mais de 5 séculos, e uma coisa é a nossa permanência ao longo de tantos séculos.
Para Calçada de Sá existem países e regiões que, num determinado momento, – pelas circunstâncias que estão a viver – têm mais apetite para investimento. Noutros momentos, se calhar têm mais apetite para resolverem as suas questões internas. Isto aconteceu com a Europa, se calhar aconteceu com os Estados Unidos. E pontualmente com a China. Não é uma questão de quem chegar primeiro, é uma questão que tem a ver com estratégias e momentos.
E que não deve prejudicar minimamente a estratégia da União Europeia para África, ou seja, não são corridas de 100 metros, são pequenas maratonas, e saber se “nós, queremos chegar ao fim, e se podemos chegar ao fim. Se estamos preparados para chegar ao fim e depois é preparar essa corrida.” Revela.
“Acredito muito nas capacidades, nas competências que existem na Europa, no campo da tecnologia, do Estado de direito, dos direitos humanos. As políticas de género, a inovação, a tecnologia. Enfim, tudo aquilo que a Europa tem construído ao longo de tantas décadas, e que conformam o seu estado de bem-estar também. Muito disto, pode e deve ser levado como o nosso legado para África.” Vinca o Presidente.
Onde pretende chegar o Eurafrican Forum, do Conselho de Diáspora Portuguesa?
“O Eurafrican Forum está na sua oitava edição. Eu espero que daqui a um ano, quando estivermos a organizar a nona edição do Eurafrican, possamos mostrar em conjunto algumas das coisas que já deveriam ser um bocadinho, o resultado daquilo que nós vimos e daquilo que nós dissemos e vamos fazer. De certa forma resumir com possíveis projetos para o continente africano e para a sua relação com a Europa e com Portugal. Concretamente, na próxima edição nós deveríamos poder mostrar alguns resultados.” Revela o Presidente.
Onde é que vai acabar? Não se sabe, o caminho está por fazer. “O caminho é interessante”. São tantas as coisas que estão pendentes por fazer em África. É uma terra, uma região, um continente com um potencial tão enorme, que não é possível fazer futurologia.
“Eu acho que nós devemos ter objetivos de curto, médio, e longo prazo. “Eu penso que vamos ter que trabalhar nos objetivos de curto prazo.” Enfatiza o Presidente do CDP.
“Também acho que isso isso tem que ser visível e no Médio e longo prazo, está completamente respaldado por uma posição institucional, política de diplomacia económica, no sentido de haver esse apoio. Se um conjunto de empresas europeias, portuguesas, ou outras querem ir para África, se os mecanismos de financiamento estão claros, e se o apoio Político no Público ou privado, se existe cá e lá, em princípio, isso deveria correr bem. Nós temos todas estas grandes ideias e temos que colocar no papel e ver setores, empresas, e o que é que nós podemos fazer? Interroga o Presidente.
Daqui a 6 meses e não é ver daqui a 10 ou 20 anos, é uma viagem e nos seus distintos capítulos, não vê mais do que uma oportunidade, têm que se concentrar nos aspetos de execução.
Não é falar tanto, é fazer mais e, portanto, isso tem a ver com as realidades dos países. A realidade das empresas.
Segundo o Presidente, é um sinal positivo, não nos esqueçamos que hoje é Sábado 26 de Julho. E tivemos aqui uma sala cheia com mais de 500 pessoas. Para ouvirem as mensagens de 2 Presidentes da República de Portugal, e de Angola.
O Conselho de Diáspora está à procura disso, expandir a sua rede, “podermos constituir um elemento de Soft Power, de influência positiva a favor de Portugal, dos interesses de Portugal, da marca do prestígio de Portugal no Mundo.” Termina Calçada de Sá.



