Paula Abreu, fez o seu percurso inicial académico em Portugal, licenciou-se em Matemáticas Aplicadas na (UAL), Universidade Autónoma de Lisboa. Seguiu para os Estados Unidos mais precisamente para a Big Apple em finais dos anos 90. Fez o mestrado na Stony Brook, em Long Island, e Professora Doutora (fez doutoramamento) na Columbia University em Manhattan, em Bioestatística. Hoje trabalha na Pfizer Inc, onde desenvolve trabalho na investigação.
Estudou matemáticas aplicadas em Portugal e foi tirar o mestrado na Universidade de Stony Brook, uma universidade estadual em Nova Iorque, em Long Island, perto da cidade que nunca dorme. Foi com o intuito de fazer o mestrado, – que concluiu – e começou a trabalhar em investigação científica e tirou o doutoramento na Columbia University, Nova Iorque, em Bioestatística.
Essa foi a sua base académica, e tinha na mente ser professora universitária, investigadora científica, mas morando em Nova Iorque, acabou por mudar de ideia, porque trabalhar numa companhia farmacêutica, naquela época, fins dos anos 90, que havia bastante interesse em estatística, com aplicações em estudos clínicos, saiu da vida académica e candidatou-se na Pfizer.
Primeiro trabalhou na Schering Plough, hoje comprada pela empresa Merck. Na Schering Plough trabalhou como Research Assistent Director, onde foi “sponsored “, com o visto H1B, e de seguida com o “Green Card” (equivalente ao cartão de residente). Sempre teve em mente trabalhar na Pfizer Inc, na época a única companhia farmacêutica com sede em Manhattan, mas a Pfizer HQ na época só contratava profissionais com o “Green Card”.
Saiu da vida académica em 2000. Começou a trabalhar na Pfizer em 2004. Fez a sua carreira quase toda, nos primeiros quatro anos em investigação, na área do desenvolvimento das drogas, estudos clínicos, que passam basicamente por quatro fases, ou quatro tipos de estudo, dependendo da população que se usa, “das indicações que estudamos, no início trabalhei em desenvolvimento”. Refere Paula Abreu. A Phase 1-3 é considerada desenvolvimento ( antes do medicamento ser aprovado).
A sua carreira na Pfizer, tem sido na sede, em Nova Iorque, e a sua experiência foi direcionada em novas indicações (fase 4 post approval medical affairs area) por um periodo de 10 anos, trabalhou como suporte ao departamento de Mercados Emergentes, “sempre na área de biostatistica/matemática”, enfatiza.
Qual é o impacto do seu trabalho no resultado dos medicamentos?
Segundo a cientista, “o estatístico desenha os estudos conjuntamente com os médicos,” os estatísticos não têm que ser o especialista na área terapêutica que trabalha, mas claro que ajuda bastante entender a doença e as variáveis, mas este tipo de trabalho é em conjunto.
“Trabalhamos numa equipa, normalmente um médico, e o estatístico”, desenham um estudo e depois tem uma equipa mais técnica ou mais operacional, como coletar os dados nas várias clínicas, nos vários hospitais, nos vários chamados investigadores, designada de biométrica, que são dados. “Limpar os dados, programar, e o estatístico é o líder dessa área, a biométrica”. Explica a cientista.
“Nós somos as primeiras pessoas a receber os resultados de um estudo, porque somos nós que fazemos o estudo e conduzimos a análise do estudo”, exemplifica. Diria que, em resumo, o estatístico, desenha o estudo, analisa-o, e reporta o estudo, que é uma parte essencial de uma submissão.” Menciona Paula Abreu. E com isso, uma parte substancial da aprovação do medicamento é baseada em estudos clínicos, nos quais, o estatístico lidera a equipa e é o responsável pela Análise e Report. Depois tem uma segunda parte, de regulamentação, dependente da Agência. Se é uma agência americana, FDA, ou uma Agência Europeia.
Cada agência regulatória pede requisitos diferentes. E tem departamentos para isso, o departamento de marketing, como desenhar, ou apresentar um medicamento, – uma vez que já foi aprovado e finalmente tem toda a parte comercial e financeira. “Eu acho que é importante a parte do processo científico que é demonstrar a eficácia e os efeitos secundários ou a segurança do medicamento”, adverte.
Licenciou-se na UAL em matemáticas aplicadas
Paula Abreu descreve o seu percurso académico, “que foi em matemáticas aplicadas, mas aqui (nos Estados Unidos) quando fiz o meu mestrado, no último semestre temos que fazer um programa de estágio, e na época fiz na Stony Brook, que tem um hospital muito grande de investigação científica, e eu fui trabalhar nesse hospital como estatística, e fiquei encantada. Gostei muito de ver a aplicação em saúde pública ou em medicina. Os médicos realmente valorizam bastante as análises matemáticas, e resolvi continuar nesse campo e fui estudar bioestatística que é a estatística aplicada à biologia.” Exemplifica.
Na época todo o dinheiro era direcionado para a investigação científica, com ênfase no “Human Genome”, que estava na moda, o número um tópico de research que tinha como objetivo de terminar o projeto em 2000.
“Lembro-me que era nos inícios do ano 2000. Depois houve uma mudança, dado que já tínhamos o mapa dos genes. O foco em doenças complexas, tal como o cancro, o Alzheimer, os planos passaram a ser mais ligados a este tipo de doença, e eu trabalhei durante muitos anos em oncologia.” Explica.
Na Columbia University, não fez estágio no hospital, a trabalhar com médicos, porque optou por dar aulas durante o seu doutoramento, direcionando a experiência na educação, dava aulas e não fazia investigação científica. Mas durante o mestrado, determinou o seu gosto pela investigação científica.
Como é que foi sua a sua entrada na Pfizer?
“A minha entrada no mundo corporativo farmacêutico, no “Big Pharma” não foi difícil, porque candidatei-me com o visto de estudante. Não sei se hoje ainda é assim, mas antigamente quando acabei os estudos em 1999, o Governo Americano dava um ano de um visto chamado “Practical Training”, que era um ano em que podíamos ficar a trabalhar, e nesse ano, se a empresa, ou as empresas que nos contratavam, podiam fazer o sponsor com um visto de trabalho, o H1B, que ainda existe” refere a ciêntista.
Há época, havia a intenção de demonstrar que não estavam a dar esse trabalho a um estrangeiro e a tirar o lugar a um americano, os americanos que se candidatassem eram entrevistados da mesma maneira que os estrangeiros.
Havia muito essa atenção, de que o estrangeiro não trabalhasse com um salário inferior, ou que a empresa não contratasse o estrangeiro, por outra razão que não fosse a meritocracia, mas as empresas podiam optar se queriam entrar nesse programa do H1B ou não. A Pfizer não entrava, só contratava pessoas com cartão de residente (Green Card), ou americanas, aqui em Nova Iorque, nos laboratórios, noutras fábricas que tinham, a regra de contratação de pessoas era através do cartão de residente ou cidadãos americanos.
“Penso que noutros centros cientificos da Pfizer, com laboratorios em Michigan e em Connecticut eram mais liberais nesse sentido. Normalmente esse tipo de empresas de grande dimensão não se encontram em Manhattan, devido à falta de espaço, estão mais concentradas em New Jersey ou em Connecticut, onde há mais espaço.
Uma vez que possuía um Doutoramento não foi muito difícil conseguir emprego, pois as empresas davam preferência a profissionais que fossem detentoras desse título e quando obtive o “Green Card” candidatei-me à Pfeizer e fui aceite.” Relembra.
“Nunca senti discriminação, mas hoje vivem-se tempos diferentes, mas eu nunca senti que houvesse distinção entre ser americana, Green Card ou estrangeira com visto de trabalho. Porque o foco era e é quem é melhor a fazer este tipo de investigação. Qual é a experiência,” explica.
Também relembra que na realidade, “não havia muitos americanos, nem há muitos americanos a quererem ir para a investigação científica, a maioria dos académicos nos Estados Unidos são estrangeiros, pessoas que vão para a América, porque tinham um financiamento muito grande na investigação científica. Havia muito trabalho nessa área, era uma oportunidade para nós, pessoas de todo o mundo que queríamos fazer esse tipo de atividade aqui.” Salienta.
Nos últimos 25 anos tudo mudou. Já não se vê tanta investigação científica, já não há tanto investimento nessa área, porque os Americanos, quase todos, não se interessam por esta atividade e vão muito para a vida financeira ou empreendedorismo. Gostam de abrir as suas empresas, pequenas, médias, preferem a vida Corporativa. O que proporcionou ao estrangeiro ter mais “abertura” e “facilidade” na área da investigação. “A competição entre todos os estrangeiros, como por exemplo chineses, muitos russos, nos anos 90 e início dos anos 2000, era uma competição saudável. Não havia um status de imigração.” Refere Paula Abreu.
Há muitos portugueses a trabalhar na Pfizer?
Não gosta muito de interferir na vida profissional das outras pessoas, mas assegurou-nos que há pelo menos uma portuguesa ou lusodescendente, Lídia Fonseca, a ocupar a posição de leadership em tecnologia. Ela é “Head of Technology and Business”. Também referiu que há um português que trabalha em Vaccines Commercial, o Nuno Santos, mas “estamos a falar numa empresa que tem cem mil empregados. Eu acho que talvez sejamos 10 portugueses espalhados pelas várias áreas. Mais os que se encontram no resto do mundo, e claro na Pfizer Inc portuguesa, não sei quantos empregados há na sede portuguesa.” Conclui a cientista.
