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Quinta-feira - 10 Julho 2025

EXCLUSIVO: Uma conversa de café onde as palavras fluíam como o vento

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Pedro Santos, é um profissional das ciências,
mas vê na escrita a sua verdadeira essência. “Consome” muita literatura, quer seja contemporânea ou clássica, e escrever sobre ele é um verdadeiro desafio, não vão as palavras sair das linhas que vai ser um “ai que nos acuda”. Terminou o secundário com 17,
18 anos, na Escola José Saramago em Mafra, e sabia que gostava de Biologia. Apesar de ter conhecimento que era uma área com pouca
empregabilidade, “era um cordeirinho” pois não sabia o que seguir. Licenciou-se em Ciências da Saúde. Foi uma espécie de
curso comum, ou seja, à maneira do sistema anglo-saxónico, “os profissionais de saúde têm uma primeira licenciatura que serve como um “tronco comum” e a partir daí especializam-se.”

A por a leitura em dia no trabalho

Serviu-lhe como se fosse uma primária, só para ter algumas valências, em termos de empregabilidade, não deu em “nada”, mas deu-lhe a possibilidade de concorrer como licenciado em Ciências Farmacêuticas, onde frequentou durante cinco anos.

Esteve um ano parado – dos estudos – a fazer um part-time. Concorreu a Ciências Farmacêuticas na altura, sugestão de um professor seu que achava que devia seguir algo mais prático e não tanto uma área de investigação.

Algures em Londres

Inscreveu-se em Ciências Farmacêuticas, “porque é uma área onde há uma farmácia em cada esquina”, salienta Pedro, e lhe permitiria arranjar emprego mais rapidamente. Teve batalhas longas com a química, “que é de facto complicado”. Mas a verdade é que depois, com o estágio, apercebeu-se que até gostava da sua profissão.

Enquanto não terminava a tese de licenciatura, e como precisava de ganhar alguma autonomia financeira, durante cerca de quatro anos e até para ganhar experiência enquanto profissional em farmácia, começou a trabalhar na área. “Cresci bastante” e concluiu a tese sobre a diabetes, e ao contrário do que pensava, o trabalho estava bastante bom. Terminou-a em 2022 e, atualmente é um farmacêutico, digno de carteira profissional.

Integração no mercado de trabalho em Portugal

Estação de Paddington em Londres

Pedro relembrou que já trabalhava em farmácia quando estava a estudar. Enquanto não tinha o curso terminado, trabalhou como técnico de Farmácia desde 2017, até se licenciar. Trabalhou na mesma farmácia, primeiro como técnico durante quatro anos e meio. Ainda fez lá meio ano como farmacêutico, tendo concorrido mais tarde para outra farmácia perto de Mafra, onde se encontra atualmente.

A emigração, faz parte do vocábulo de Pedro?

Quando era mais novo, não pensava em emigrar, “fui sempre um rapaz, algo ligado à estrutura familiar, nomeadamente à minha mãe, irmã, tios, e avó. E achava que o meu local seria cá, o meu percurso enquanto estudante e trabalhador. Acrescenta também algumas crenças fundamentais, como a questão da religião”. A questão da família, embora seja basilar, além daquela que “nós temos também aquela que escolhemos”. Também pesa o fato de que “eu gosto do meu país, mas não me considero um nacionalista, portanto, eu acho que se houver a possibilidade e se quiser, atualmente não, sinto-me bem onde estou. Emigrar pode ser uma opção.”

Os locais onde gostaria de viver, era em países da Europa Central, ou seja, “tenho um gosto especial pela a Alemanha, que foi o primeiro país que visitei.”

Não conhece aprofundadamente a cultura alemã, mas identifica-se um pouco, talvez por precisar de um pouco da organização na sua personalidade. Por outro lado, porque a Alemanha, “é em termos de sociedade, mais equilibrada entre Estado e sociedade civil.”

O que quer dizer com isto que é um “Estado mais liberal”. O Estado consegue preocupar-se mais em garantir mais serviços essenciais, e o privado também é mais participativo, e o que notou lá é que, as pessoas são rigorosas no seu tempo de trabalho, mas também têm passatempos, e tempo livre para se distraírem. “Em Portugal às vezes as pessoas perdem o tempo que podiam ter além do trabalho para se dedicarem a outras atividades lúdicas”.

Viver em Portugal

“Eu acho que Portugal, ou seja, em termos de salário, é algo desafiante porque os salários não são propriamente muito convidativos, se calhar é a razão para que alguns colegas meus irem embora”. Tirando a questão da casa, o custo de vida cá “até é baixo”. Ou seja, “acho que o grande problema em Portugal são mesmo o preço para uma pessoa viver sozinho e constituir família.”

Considera que um dos grandes problemas que é a nossa sociedade tem também é a mentalidade. Dá-se pouco valor, ao aspeto profissional, ao colaborador. “Vejo uma sociedade muito ressentida, o português, está um bocado parado no tempo. Porque está sempre a pensar num Portugal que foi grande, e que talvez não foi assim tão grande. E esta prisão no passado e no nacionalismo que já não existe, (na sua maioria) faz com que não avance.”

Mais do que aumentar salários em Portugal, importa que as pessoas também “deixem o seu ressentimento de lado”. Falta às vezes alguma “simplicidade nelas nas próprias. Vejo demasiado queixume. Pouca gratidão. E pouca proatividade.”

A saúde dos Portugueses visto pelos olhos de um Farmacêutico

“É preocupante”. Hoje em dia criou-se muita ideia de que vários problemas de saúde serem de origem ou tendência genética. É verdade a tendência hereditária, como por exemplo os problemas cardiovasculares, nomeadamente a trombose, ou ter um AVC, um enfarte. O Crescimento exponencial da diabetes, como consequência da obesidade. E as pessoas aceitarem isto como uma consequência da hereditária, “mas não é bem assim”. Ou seja, “não é só os genes que se herdam. Os maus hábitos também”. O que lhe preocupa no português é que há uma grande apatia e pouca alteração de hábitos.

Mas isto não é só em Portugal que se assiste, é também uma tendência mundial. As pessoas estão muitas vezes viradas para mono soluções, como por exemplo, tomar um comprimido. E pouco mudam os seus hábitos alimentares em Portugal “que são muito errados”. Bem como os hábitos de atividade física.

Pedro pensa que se devia apostar mais na mente, através da leitura, por exemplo, ou através da internet, onde há um leque variado de opções, como por exemplo canais onde se pode aprender coisas no YouTube ou noutras plataformas.

E não é necessariamente para serem melhores, com a premissa de que “eu tenho que ser o melhor”. Se uma pessoa tiver mais conhecimento “acredito que possa sentir que a sua vida é mais valorizada, e tenha mais sentido. A saúde só vai melhorar quando as pessoas também melhorarem a sua forma de ver a vida e de viver a vida. Este aspeto fará que quando vão, por exemplo, “no meu caso à farmácia, estejam mais abertas ao que o profissional, o farmacêutico possa-lhes ensinar melhor a tomar os medicamentos, evitando os excessos.”

Mas também não fugir aos medicamentos, que às vezes podem ser necessários, mas usá-los sobretudo com parcimónia. Mas esta cultura tem um historial e há necessidade também de mudanças de paradigmas entre o doente e o médico, o profissional deve ter um papel importante nisto. Deve identificar interações medicamentosas. Ou seja medicamento, medicamentos, medicamentos, suplementos, medicamento, doença. “Penso que o farmacêutico tem um papel fundamental nisto.”

A escrita como forma de vida ou apenas um passatempo

“É é difícil responder”, desabafa Pedro. A leitura, em primeiro lugar para se tornar um escritor. “Tenho de ler mais”. Modestamente defende que “todos podemos” ser criadores, e o que é ser criador? Sermos capazes de sermos autores da nossa própria mente, da nossa própria ação. E pensa que a escrita é muito importante, é algo bastante ativo, ou seja, é uma forma de se conseguir trespassar “o que tenho cá dentro para as folhas”. Mas isto implica uma grande responsabilidade. Porque obviamente, eu ainda não sou “ninguém”. Refere.

Evidentemente “eu não conheço a história, não conheço a política. Mesmo “na minha área não sou uma autoridade em saúde, ou seja, tenho muito ainda a aprender.” “Isto não é uma coisa má!”

Há uma música do outro lado do oceano, do Brasil, que tem um verso que diz: “viver a alegria ser um eterno aprendiz”. E respondendo diretamente à pergunta, “eu devia ver a escrita como algo mais profissional, algo mais constante”. Ou na área da poesia ou até na prosa. “Diria que sim, mas vai implicar também “da minha parte, um esforço por ler mais e conhecer mais. E sobretudo, tornar-me mais responsável, para conseguir entregar algo que seja útil.”

Os portugueses leem muito ou pouco?

A leitura tem de ser encarada como um prazer. É um hobby, e deve ser algo que seja livre, das pessoas, ou seja; muitas pessoas não vão gostar de ler e não há nenhum mal nisto. Isso só se faz com qualquer coisa por erro tentativa. A pessoa que está em Portugal, na China, no Brasil, na África do Sul, seja lá onde for, ela sabe do que gosta. E, de facto, “nós vamos recolher textos. Seja em páginas, seja em “audiobooks”, seja com os “notebooks” que agora existem. Uma pessoa vai sempre encontrar qualquer coisa que possa ler e que lhe diga algo”. E, portanto, “eu convido as pessoas a ler.”

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