Miguel Matias, estudou “Computer Science”, Informática, na faculdade de Ciências de Lisboa, na altura foi o primeiro curso desta área em Portugal. Depois foi para a Accenture como consultor de sistemas de Informação e de Gestão. Mais tarde fez um mestrado em Espanha e em Portugal com AESE e IESE, um MBA. A licenciatura da Faculdade de Ciências é considerado um MSI, porque tem a duração de cinco anos, e que agora são equivalentes a Mestrado, em Inglaterra são os Masters of Science.

Fez um Mestrado no IESE Barcelona, um dos maiores cursos de MBA da Europa e do mundo. Completou também uma pós-graduação em Liderança no INSEAD, em França, Paris, é uma escola de Gestão, já se encontrava a trabalhar na Galp.
Foi consultor durante 10 anos, primeiro na Accenture, depois na Deloitte Consulting, sempre na área da energia. Ofereceram-lhe uma oportunidade na Galp para ser o diretor de inovação da Galp energia, e entrou em 2000. Esteve na empresa mais ou menos 6 anos como diretor de inovação, a reportar à administração a vários administradores.
Teve a oportunidade de desenvolver vários projetos de inovação. Alguns ficaram conhecidos como por exemplo, a garrafa pluma de gás natural, uma garrafa cor de laranja mais leve, como também o pagamento com a via verde nos postos da Galp e também nos parques de estacionamento.

Hoje em dia consegue-se pagar com a via verde em vários sítios. Isso também foi um dos projetos que na altura que lançaram, conjuntamente com a BRISA em 2004, quando se deu o Euro 2004, em que a Galp foi patrocinador.
Também lançaram as primeiras plataformas online de compras eletrónicas, chamada Fórum B2B.com, compras online, e leilões online, que permitia fazer compras conjuntas. Na altura, com a parceria da EDP, e da Galp, em que Miguel também era administrador da empresa.
Fizeram uma parceria com a TMN para um portal do automobilista, chamado Fast Taxes. “Em que trouxemos o Presidente da Microsoft, na altura, era o Steve Ballmer, para lançar o projeto connosco. Foram vários projetos de inovação muito interessantes, muito diversificados, porque às vezes não se tem a noção, mas uma empresa oil and gas como a Galp, tem uma grande diversidade de presença.”
Depois, na área industrial também desenvolveu vários projetos, nomeadamente na logística. Projetos na área do hidrogénio, um posto a hidrogénio e de autocarros a gás natural. Foi uma altura “muito interessante” que lhe permitiu ficar a conhecer ainda mais o setor da energia por dentro, e desenvolver também as competências e ajudar a desenvolver a Galp. Foi um momento “interessante que a Galp também deu um salto, em termos de comunicação e de imagem”.
Depois, a Galp decidiu voltar ao petróleo – porque a Galp Energia nessa altura tinha como objetivo ser um polo de agregação das várias energias, queria desenvolver as energias renováveis, e compraram uma empresa de energia solar na altura. Mas depois não deu seguimento.
“Eu não queria voltar ao petróleo, então resolvi sair da Galp em 2006, para lançar uma empresa chamada Self Energy. Já ligada às energias renováveis, com o objetivo de desenvolver comunidades de energia que pudessem de alguma forma ser autossustentáveis, e produzir a sua própria energia com as tecnologias que havia, o solar térmico, o solar fotovoltaico, com as baterias, que já eram eram muito caras, muito emergentes na altura.”
Desenvolveu esse negócio em Portugal, depois em Espanha. Mais tarde foi para o Reino Unido, em 2008. Chegou à Inglaterra pela via profissional, não académica. Porque o Reino Unido era, e é, na Europa, o país, em termos de legislação para a área da eletricidade, um dos mais avançados, tem uma legislação bastante aberta e desenvolvida, e permite a inovação de várias tecnologias. Os negócios correram bem por terras de sua Majestade e depois virou-se para Moçambique.
Foi viver durante um tempo para aquele país africano dos PALOP, com uma parceria com o Grupo Visabeira para criar vilas solares. Era um modelo de negócio, que visava desenvolver a eletrificação rural, pequenas redes para permitir chegar a energia fora das cidades, onde não há rede, e mais uma vez, só consegue chegar com energia solar e com baterias, isto em 2010 em Moçambique, desenvolveram essa parceria durante vários anos e correu muito bem.
“Para mim, continua a ser o projeto mais interessante, em que eu tenho mais orgulho é este projeto em Moçambique com 50 vilas espalhadas pelo território todo, que passaram a ter energia através deste projeto, são vilas solares em todo o território Moçambicano”. Foi um projeto que foi pago pela União Europeia, por um fundo de carbono. Mas que permitiu a mais de 100 mil pessoas terem acesso à energia. E isso, “é muito reconfortante.”
Em 2010, a empresa Self energy cresceu muito depressa, e foi comprada pelo Grupo Soares da Costa na altura, “era sócio maioritário e vendi a maioria, à Soares da Costa”. O Grupo teve os seus problemas, e na altura enfrentou as dificuldades que as construtoras tiveram de enfrentar, e fez com que Miguel prosseguisse outro caminho. A partir de 2014 decidiu voltar a pegar na área de Inglaterra e de Espanha e emigrar para o Reino Unido.
A partir de 2014, a base da empresa passou para Inglaterra, com um acordo que fez na altura com o Grupo Soares da Costa. Eles ficaram com Portugal e Moçambique “e eu fiquei com Reino Unido e Espanha e fui viver para Londres.”
Neste momento vive entre Sintra e a capital inglesa. Não está permanente em Londres. Tem visto de residência permanente, mas em termos de impostos, decidiu passar para Portugal porque, começou cá com alguns projetos, trazendo também algum investimento britânico. E continua a fazer negócios, particularmente nestes últimos 10 anos com o desenvolvimento de vários projetos em que Portugal está a beneficiar.
Durante a fase do covid, lançou cá dois ou três projetos, uma fábrica de painéis solares, em Moura, no Alentejo, painéis solares flexíveis e de baterias, que está em fase de desenvolvimento, é uma área de grande potencial para Portugal, pois são tecnologias europeias.
“Quando se fala muito de re-industrialização da Europa e de criar empregos com a re-industrialização, nós já estamos a fazer isso no Alentejo. Numa zona que precisava muito deste investimento e continua a precisar e estamos a evoluir, ficamos muito contentes, apesar das dificuldades burocráticas que temos que passar.”
Em Portugal é tudo muito demorado. Qualquer que seja a proposta. “Tenho esse projeto e outros em Sines na área do hidrogénio verde, com apoios também do PRR, estamos a tentar implementar dentro dos prazos, mais uma vez, esbarramos na fase do licenciamento, porque tudo é muito demorado.” Estamos a tentar conseguir conciliar tudo juntamente, com um terceiro negócio, que já tinha, a Self Energy , criando todo este conceito de comunidades de energia renovável que agora o país tem, e que tem uma legislação das mais interessantes na Europa e que mais uma vez pode atrair muitas empresas.”
Neste momento, “como membro do Conselho da Diáspora, sinto-me mesmo um embaixador de Portugal, mas ao mesmo tempo de poder trazer alguma da experiência que ganhei lá fora e trazer para o país com alguns investimentos para cá.”
O Lítio
O Lítio é uma pedra, a extração da pedra de Lítio processa-se da mesma forma que a extração de uma pedra de mármore. E essa foi uma das questões que levou Miguel Matias para as baterias, e trazer alguns investidores para o país, porque Portugal tem lítio, e no seu entender há que explorar os recursos que o país tem: “Imagine-se ter as pedras de mármore e não podermos explorar!”. Em Évora e noutros sítios, “há gente de todo mundo à procura do nosso mármore, e até algumas pedras de granito, e há a extração destas pedras. Há um custo ambiental, sim, mas tudo tem um custo ambiental, mas não há nada que não tenha custo ambiental.” Sustenta Miguel Matias.
Isto é uma questão, “de fazer a conta entre custo e o proveito”, e tentar minimizar todo esse impacto. “A nossa exploração sendo feita na Europa será a “melhor do mundo”, porque atualmente o lítio que temos nas nossas baterias, dos carros, telemóveis e dos computadores, tudo tem lítio, e já tem lítio há 20 anos, e é explorado na China, na Bolívia, no Chile, sem o mínimo de condições, e nós somos às vezes muito hipócritas, (…) “eu até gosto das baterias, mas não as quero no meu quintal”!
“Não faz sentido”, além de que, do ponto de vista económico, Portugal tem de explorar o lítio, porque tem das maiores reservas na Europa. “Temos que nos habituar a ter os nossos próprios minerais, a nossa própria capacidade, porque ficamos dependentes da China ou dos Estados Unidos, depois aparecem estas guerras comerciais, e ficamos muito expostos, nós temos que ter a nossa capacidade desenvolvida e temos que pensar como Europa não apenas como país, vila ou cidade”.
Nuclear a fonte de energia do futuro?
Miguel Matias, não considera a energia Nuclear como o futuro, mas sim o presente. É uma tecnologia muito antiga, e que já está quase obsoleta, e precisa de ser mudada, com alguns novos reatores que estão a ser criados. “Vamos continuar a precisar a energia nuclear nesta fase de transição energética. Como vamos continuar a precisar de gás natural. Mas o ideal, a energia do futuro é claramente a renovável.”
O único senão das energias renováveis é que “nós não temos ainda toda a tecnologia para permitir 100% renovável a toda a hora e, vamos precisar de tecnologias para a transição. Uma das tecnologias é o Nuclear.”
