A Leitão & Irmão começou no Porto em 1822, coincidentemente, ou não, a Constituição da República Portuguesa foi no mesmo ano e é o mais antigo texto constitucional português tendo assinalado uma tentativa de por fim ao absolutismo e inaugurar em Portugal uma monarquia constitucional. Duzentos e dois anos, o fundador da casa de seu nome, José Pinto Leitão a 22 de março de 1822, foi admitido na Confraria dos Ourives, tendo sido aprovado como mestre ourives do ouro, podendo usar a sua marca própria. Isso quer dizer que era ourives há mais de 10 anos. É o tempo que leva para que um profissional desta área se tornar ourives. Mais de dois séculos de história preenchem os escaparates da Leitão & Irmão, cujo lema é criar peças únicas, inovadoras e exclusivas. E como dizia o pai de Jorge Leitão “nós fazemos as peças para os clientes e não para nós”.
São “certamente” a marca mais antiga de Portugal, revela-nos o proprietário da Leitão & Irmão, Jorge Leitão, que se prontificou a contar a história da joalharia que lhe pertence e que passou de geração em geração, recuando no tempo até ao seu trisavô. “Penso eu, ou pelo menos entre as mais antigas Joalharias em Portugal.”
A herança vem de geração em geração, como referido anteriormente, desde o seu trisavô. E o sogro dele era já era uma pessoa, importante no Porto, porque esteve ligado ao grupo de comerciantes que financiou as tropas de D. Pedro, liberal na luta com D. Miguel, seu irmão absolutista, e ganhou D. Pedro.
A história da casa Leitão também tem alguma coisa a ver com isso. Porque, como era comum à época, o Rei entendeu dar um título a quem o ajudou, nomeadamente neste caso, “ao meu quarto avô” sobre o dito senhor Leitão, fundador da casa, e o referido sogro de seu nome José Teixeira da Trindade, fez saber a casa imperial, porque nessa altura D. Pedro já estava de volta ao Brasil. Que nomeassem o genro que trabalhava muito bem como ourives da casa imperial brasileira, e que tinha muito interesse.
E assim foi, o primeiro título que a casa Leitão tem ourives da casa imperial do Brasil, no Porto, na Rua Das Flores, que era o arruamento dos ourives no Porto. As profissões antes estavam arruadas, “nós já não estamos no Porto”, desde 1877, “fomos nomeados ou intitulados, porque é um título, joalheiros da coroa portuguesa pelo rei D. Luís. Tínhamos que estar em Lisboa, onde estava a Corte. E ficámos no largo do Chiado.”
O “The Place” Portugal para o luxo é o largo do Chiado, agora é Avenida da Liberdade, mas o largo do Chiado é sempre, o largo do Chiado, e “estamos lá desde 1877.” “Desde o século XIX que só estamos em Lisboa e em Cascais, mais concretamente no Estoril. E o resto temos com um mercado online que estamos a desenvolver.” Têm que acompanhar as novas tecnologias se querem estar no mercado.
A inspiração
“Somos uma indústria criativa, portanto nós estamos permanentemente a criar obra nova. O que não quer dizer que não mantenhamos certos modelos durante 100 anos ou mais.”
De qualquer forma, “tudo aquilo que nós manufaturamos e vendemos é criado por nós e é original, nada é copiado.” E a principal inspiração é Portugal, “porque somos portugueses e não temos vergonha disso.”
E Portugal “é possivelmente a maior fonte de inspiração nas artes plásticas que há no mundo inteiro.” Vou explicar como: Porque o mundo conheceu novas cores, novos sabores, novos animais, novas formas de encarar a vida. Tudo isso à conta das viagens oceânicas dos portugueses.”
A riqueza plástica que Portugal trouxe à Europa e que a Europa levou para a Ásia, para a América e para a China. Na realidade, deve-se a Portugal, é uma fonte de inspiração “que eu diria” que é uma fonte de inspiração inesgotável. “Original e nossa.”
Peças do início de 1822
“Temos um alfinete de peito feito para o quarto centenário da Índia”. Do caminho marítimo para a Índia, quando se comemorou há 20 anos atrás, o quinto centenário. Há 120 a 130 anos, faziam peças comemorativas cuja inspiração era Portugal.
Em termos de exportação, “exportamos pontualmente através da nossa loja online, o nosso conceito de produto significa que só se vende produto Leitão & Irmão nas lojas Leitão & Irmão e salvo a loja online, não temos nenhuma loja fora de Portugal.”
São muito procurados pelo mundo inteiro. Pelos emigrantes não tanto como desejariam, refere Jorge Leitão. Pelos estrangeiros espalhados pelo mundo sim. Os clientes americanos têm força e são clientes importantes, os clientes do continente africano tiveram alguma força, já não corresponde hoje em dia, os brasileiros ainda têm alguma força, mas, de facto, os clientes com mais impacto são os norte-americanos.
Qual é a peça com um maior valor monetário
A peça que fizeram até agora, neste momento na loja, custará 30 mil euros, é um colar que é inspirado na viagem de um rinoceronte quem vem da Índia até Lisboa, oferecido pelo Rajá de Mussaraf, ao nosso Rei D. Manuel primeiro em 1515, a chegada do rinoceronte está documentada em Portugal. A peça mais fantástica que se criou foi a coroa de nossa Senhora de Fátima. Está guardada no santuário de Fátima, é a coroa que a nossa Senhora usa. Se tivessem que fazer uma peça hoje em dia valeria cerca de meio milhão de euros.
Mas essa peça não tem valor determinado, pois está nela muitas peças em ouro oferecidas pelas mulheres de Portugal a nossa Senhora. A casa Leitão recebeu todas as joias que as Mulheres de Portugal, isso passou-se em 1942, foi tudo derretido e transformou tudo nessa coroa. “Eessa coroa tem lá dentro as ofertas de milhares e milhares e milhares de portugueses, é impagável”. Atesta o Joalheiro. Essa coroa pesa cerca de dois quilos.
A nova vaga de investimento no Ouro
É uma forma de aforro, continua a ser uma forma de aforro, são peças no seu entender que não são caras porque não têm manutenção e duram pelo menos mais do que uma geração, portanto, só gasta uma vez.
“Se dividir o preço da peça pelo tempo de vida da peça é muito barato”. Argumenta Jorge Leitão. “Como é que eu vejo esta, tendência de corrida ao ouro com alguma consistência. Vejo como uma falta de confiança de nos mercados financeiros e no dinheiro em si.”
O ouro como o dólar americano, o dólar canadiano ou a libra inglesa e o Franco Suíço. É um commodity que se compra e vende com grande facilidade. “Nós compramos ouro nas empresas que se dedicam a vender ouro, enquanto matéria prima há variáveis. Não é um produto misterioso. É caro, mas é de fácil acesso à indústria.
Para ser joalheiro são precisos 10 anos de aprendizagem, desde aprendiz até primeiro oficial. E a Leitão & Irmão tem neste momento três aprendizes, e têm mestres cuja função é produzir e não ensinar, mas abrem exceções e acabam por ensinar. “Somos uma empresa privada, na fábrica trabalham perto de vinte, dos quais três são aprendizes, e os restantes são mestres ou quase mestres.”
Nestes tempos modernos a empresa é sustentável e uma empresa que desde sempre reciclou as suas matérias primas, não por nenhuma preocupação ambiental, mas porque valem muito dinheiro”. Não só ouro e prata como as pedras preciosas.
“O cuidado que há, por exemplo, em relação aos diamantes, é um mercado que está regulado e que funciona. Todos são certificados, com origem” não têm diamantes de sangue, nem de conflito, e não sustenta guerras, há todo um cuidado nas matérias-primas deste negócio, seja ouro, ou pedras preciosas para estarem regulados e trazer ao produtor, (nós) e ao cliente final a certeza que essas matérias-primas não contribuam para qualquer situação de mal estar no mundo.
Esta prática tem 20 anos, porque comporta muito valor, para estabelecer uma comparação, 1 kg de ouro valerá cerca de 75 mil euros euros hoje em dia – é algum dinheiro, é um maço de cigarros. Serviria para lavar dinheiro, para todas as todas as funções que não devem surgir e por isso esta indústria tem esse cuidado há bastante tempo.
Peças em que há apego afetivo e que “custa” vender
Jorge Leitão confessou-nos que há muitas na realidade, “e há peças que nascem e que gostamos particularmente delas mas temos pena de as vender, mas o meu pai dizia-me: lembre-se que a gente trabalha para os clientes, não para nós.”
“Fazemos tantas coisas engraçadas, fizemos uma coleção de ovos grandes, com pouco mais de meio metro de cada um. São os ovos do dragão, porque o ano passado foi o ano do dragão, simbologia chinesa, já agora o primeiro europeu a chegar à China era português. Portanto, nós vamos sempre à procura de uma de uma ligação portuguesa.” Esta Portugalidade está intrínseca na hora da criação de uma peça em ouro ou prata.
Uma mensagem aos emigrantes
Jorge Leitão tem uma opinião muito “pessoal” sobre os emigrantes, também ele foi um emigrante quando era jovem e sabe bem o que é ser emigrante. Segundo ele, acha que não lhe compete dizer isto, mas acha que podemos dizer o que “o país tem muito orgulho neles”. “Acho que é isso que se pode dizer, (…) eu acho que os bons é que foram embora, porque tiveram a coragem de ir. Falta esse detalhe.”
Tiveram a coragem de ir à procura, tiveram a necessidade também, mas também tiveram a coragem de ir. Portanto, “acho que sim, a mensagem é uma certa vaidade que o país tem em quem os representa fora de Portugal.”
“É a mensagem mais verdadeira que eu posso dar. Pelo menos é que eu penso e que eu sinto.” E todas são pessoas de valor que foram à procura que lutaram, que sofreram, “mas vou dizer uma opinião pessoal. Não há um relativo sucesso sem dedicação, sem sacrifício”. Este conceito moderno de que “tudo aparece sem nada se fazer, não corresponde à realidade”.
“Nada é fácil na vida. Isso é uma ilusão que as pessoas têm. Não existe isso. Tem que haver dedicação, tem que haver ciência e tem que haver alguns espírito de sacrifício.” Termina Jorge Leitão.