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Segunda-feira - 9 Dezembro 2024

A (re)valorização da emigração na literatura portuguesa

Destaques

Nos últimos anos o panorama literário sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto expressivo de obras de autores nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro, que através do mundo dos livros têm dado um importante contributo para o conhecimento de múltiplas dimensões da realidade emigratória portuguesa. 

Capa da V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora


Um dos exemplos mais recentes, que asseveram a importância destas obras no campo da mundividência da emigração, mas também da criação literária, até porque como destaca a Professora Catedrática da Faculdade de Letras do Porto, Ana Paula Coutinho, no trabalho O português migrante: uma leitura da revista Peregrinação, conquanto “seja já vasta a bibliografia produzida por nacionais e estrangeiros sobre a emigração portuguesa, a sua dimensão cultural e literária tem sido utilizada, quando muito, enquanto documento de leitura sociológica ou antropológica, mas pouco explorada, desde logo em termos criativos e, consequentemente a nível da crítica literária”. Encontra-se vertida na V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora.

O livro dado agora à estampa, é um novo contributo da Oxalá Editora, uma editora na Alemanha, vocacionada para a publicação da obra de autores da diáspora, dirigida pelo jornalista, autor e editor Mário GM dos Santos. Coordenada pela escritora São Gonçalves, presentemente a residir no Luxemburgo, e com prefácio da escritora luso-canadiana Irene Marques, atualmente a residir em Toronto, e que em 2000 doi distinguida com o Prémio Literário Ferreira de Castro, a obra reúne três dezenas de poetas residentes na Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Luxemburgo, Suíça e Estados Unidos da América.

Como salienta Irene Marques no prefácio da obra: “Nesta coletânea, e talvez, como não poderia deixar de ser, encontramos também poemas que abordam diretamente a emigração e a saudade: saímos de Portugal porque a vida assim nos pediu. Saímos para alargar horizontes (ontológicos, económicos, coisas que dentro de nós pediam e que ainda não tinham nome). Saímos para ver, constatar o que        existia para além daquele nosso pequenino mundo à beira-mar plantado. Saímos e agora ponderamos como era esse mundo quando o deixámos, como será agora, como poderíamos ter sido se não tivéssemos dele saído. Sonha-se em voltar, mesmo que só através de uma viagem poética, num vai-e-vem de alma, que romantiza, que enaltece, transportando-nos a uma infância que nunca mais podemos recuperar. Porque a infância é uma outra vida que jamais poderemos reaver. A infância é a saudade”.

Neste sentido, a V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora, encorpada por uma trintena de poetas residentes nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, muitos deles já com obra publicada aquém e além-fronteiras, não deixando de contribuir para o fomento da criação literária. Representa um relevante contributo para o conhecimento do fenómeno da emigração portuguesa.

Um fenómeno complexo, que nas palavras abalizadas de Eduardo Loureço, um dos maiores pensadores da cultura portuguesa, nos “põe em causa, a diversos níveis, de maneira indirecta, a imagem de nós mesmos, mas por isso deve ser apreendida na sua verdade, de maneira adulta e não servir de pretexto como serve a muita gente, a fantasmas colectivos, uns positivos outros negativos, que têm pouco a ver com ela”.

A recente edição da V Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora, e tudo aquilo que ela representa, revivifica a máxima de Emily Dickinson, uma das figuras mais importantes da poesia americana: “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”.

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