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Segunda-feira - 6 Maio 2024

Vice-reitor do ISCTE, Jorge da Costa: Proximidade entre estudantes, professores e a sociedade é um dos nossos “segredos”

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O Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, com mais de 50 anos de existência, é uma instituição de ensino superior com características muito próprias que introduziu cursos que não existiam então em Portugal, como a Sociologia e a Gestão. Hoje, tem mais de 14 mil alunos, uma parte dos quais são estrangeiros – dos PALOP, da China, do Brasil e de outros países, alguns dos quais em programa de Erasmus. Sendo uma universidade de média dimensão apresenta um rácio de empregabilidade dos seus diplomados no primeiro ano.

Entrevistamos Jorge Costa, vice-reitor para a Investigação e Modernização Tecnológica, desde 2018, que tem na sua alçada os gabinetes de apoio à investigação, a informática e os sistemas de informação.
Apresente-nos o Iscte, as suas valências e as características que o distinguem em relação às outras universidades.

Sendo uma instituição de média dimensão no setor de ensino universitário público, o Iscte é um Instituto Universitário, portanto, não cobre todas as áreas de formação, sendo especializado em Ciências Humanas e Socais, Políticas Públicas, Economia e Gestão, Arquitetura e Tecnologias, com destaque para as tecnologias digitais aplicadas – cujos cursos se iniciaram no ano letivo passado, na nova escola de Sintra.
Ao contrário da maior parte das outras Universidades, o Iscte distingue-se também, por estar organizado em Escolas e não em faculdades – ou seja, muita da gestão da instituição é feita a nível central, ao nível da Reitoria.

Qual a vantagem do Iscte em relação às outras Universidades?
Diria que haver uma estrutura centralizada, ao contrário do que poderíamos supor, permite maior agilidade na gestão. Por exemplo, fazer algo que é pouco comum nas universidades: termos ofertas, “produtos” que cruzam áreas científicas.

Na componente de ensino, ao longo destes 50 anos de existência, vemos que cursos que agora são banais foram criados no Iscte.

Em 1972 não existiam no país cursos de Gestão. Também não existia Sociologia. Logo depois do 25 de Abril inovamos também com criação de Informática para Gestão. Mais recentemente criamos Ciência de Dados – que cruza matemática, informática e gestão. Também criámos um mestrado em Ação Humanitária, que é um cruzamento de vários saberes, incluindo Gestão e Logística, Ciências Sociais, Direitos Humanos, Saúde, Política Internacional, etc.

Mais recentemente criamos cursos que não são engenharias, mas são ligados às tecnologias e a áreas científicas específicas, e deram origem à nossa Escola de Sintra que está agora no segundo ano das suas licenciaturas. Aí oferecemos, no concelho com mais população jovem do país, cursos de tecnologias digitais aplicadas à área da saúde, aplicadas à educação, à gestão, etc.

Acreditamos que podemos formar “tecnólogos”, ou seja, profissionais que saibam usar as novas tecnologias – e as que estão por inventar – e ao mesmo tempo possam intervir com respostas adequadas, a todos os níveis, em setores como o da Educação, Saúde, Empresas, etc. A sociedade mostra que precisa de pessoas que saibam usar as ferramentas, mas também que saibam falar com as pessoas, apoiar, fazer as pontes.

Isso também acontece já na Investigação?

A nossa grande imagem de marca é a interdisciplinaridade, essa capacidade de ultrapassar as fronteiras entre áreas do saber e criar respostas, produtos, estratégias que as cruzam. Claro que isso também se aplica na Investigação, pela qual sou responsável.

Cada vez mais, os problemas que se colocam às empresas, à administração pública, aos vários setores da sociedade, necessitam de respostas elaboradas por várias disciplinas. Se uma cidade, como Lisboa, tem problemas na mobilidade, resolve-los exige a participação de urbanistas, engenheiros, sociólogos. Está no ADN do Iscte cruzar várias áreas de conhecimento. As melhores soluções para os problemas encontram-se dessa forma.

Quantos alunos estrangeiros há no Iscte?
Mais de dois mil alunos. São os chamados estudantes internacionais, mas neste lote não integramos os que têm nacionalidade portuguesa e uma segunda nacionalidade, ou seja, têm dupla nacionalidade – e serão cerca de duas centenas.

Qual diria ser o segredo do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa?

O segredo reside, creio, na oferta formativa, em que tentamos diversificar os saberes. Na oferta formativa procuramos “impor-lhes” outras áreas de conhecimento que não sejam a área de conhecimento principal. Isso acontece nas licenciaturas ou nos mestrados. Hoje as empresas apreciam que os seus profissionais dominem na sua área, mas tenham também outros recursos. Por exemplo, o nosso curso de Psicologia é dos mais reputados do país, com uma forte componente em Psicologia das Organizações, orientada para o mercado laboral, é muito apreciado pelas empresas.

Uma regra dos nossos cursos é terem obrigatoriamente uma optativa escolhida de outro domínio científico, que não o principal.

Oferecemos também, no início das licenciaturas, a possibilidade de os estudantes trabalharem competências transversais, para estarem mais aptos, por exemplo, a gerir reuniões, gerir equipas, elaborar relatórios, etc. E uma das novas optativas que temos é Ciência de Dados, que tem tido muito sucesso. Cada vez mais as pessoas têm de manipular dados e saber retirar informação desses dados. O carácter híbrido das nossas formações demonstra ser uma mais-valia para os estudantes e os empregadores.

Finalmente, talvez devido à forma gradual como o Iscte cresceu – começando há 50 anos com 250 alunos e estando hoje nos 14 mil – a proximidade entre estudantes e docentes é algo que marca. Aqui temos uma proximidade que nos permite interagir, e melhorar a transferência de conhecimento entre o corpo discente e docente. Creio que é um dos nossos “segredos”.

O Iscte tem convénios com empresas e parcerias com universidades estrangeiras?

Com certeza. Muitos dos cursos conferem diplomas de duplo grau ou diplomas conjuntos. É muito frequente um aluno frequentar seis meses outra universidade – americanas, europeias ou asiáticas – e, graças a esses convénios, acabar por ter dois diplomas.

Há outros casos em que o programa é lecionado por docentes nossos e docentes estrangeiros e, no final, os alunos terminam com um diploma conjunto (com duas assinaturas).

Quanto à questão da ligação às empresas, várias multinacionais e as grandes consultoras estão, de alguma forma, em contacto connosco. Temos um indicador, que é o sistema de procura. Para as licenciaturas o índice de procura ronda os 150, ou seja para cada vaga temos 1.5 alunos que colocam o Iscte com primeira escolha, é o índice de procura mais elevado de todas as universidades portuguesas! Todos os anos recebemos 1400/1500 novos alunos nos nossos cursos. Se mais vagas houvesse, mais alunos teríamos. Todos os cursos de licenciatura são preenchidos logo na primeira fase de candidaturas. Tradicionalmente, os cursos com mais procura são os da área de Gestão, os de Informática e o curso de Psicologia.

Depreende-se, do que disse, que a empregabilidade é elevada?

Num levantamento feito há pouco, concluiu-se que 98% dos nossos alunos de licenciatura e mestrado, ao fim de seis meses já se encontravam a trabalhar. Os dados oficiais atestam isso mesmo: temos bastante procura e elevada empregabilidade.

Que diria se lhe pedíssemos um balanço dos últimos 50 anos?

Conseguimos marcar a diferença pela implementação de cursos que não existiam, criando ofertas formativas diferenciadas. Depois, a nossa capacidade de inovar na área da investigação está a trazer resultados bastante positivos, até porque internamente tentamos que este espírito interáreas se aplique na investigação. Nesta área estamos divididos em unidades de investigação e procuramos criar pontes e conexões entre área através de projetos de investigação multidisciplinares.

Recentemente foi inaugurado um novo edifício, paralelo à avenida das Forças Armadas, precisamente para albergar a investigação do Iscte.

É um edifício multidisciplinar, que funciona com “open space” (espaços amplos) onde se encontram os investigadores de várias unidades de investigação.

Entre cada piso há duas salas de convívio, para a pausa do café, e esperamos que esses espaços sirvam também para investigadores de áreas diferentes trocarem ideias. As aulas de doutoramento acontecerão aí no novo edifício. Ainda na investigação, com bolsas ERC (European Research Council) – as mais sonantes a nível europeu – temos três investigadores que ganharam, cada um, uma bolsa dessas. O novo edifício será seguramente um centro de desenvolvimento da ciência, com os mil alunos de doutoramento a trabalhar com quase mil investigadores e todas as equipas de gestão de ciência e apoio à investigação, em conjunto, no mesmo espaço. O novo edifício do Iscte_Conhecimento e Inovação é a nossa “incubadora de ciência”.

Quer deixar uma mensagem aos emigrantes e luso descendentes?

Somos uma Universidade portuguesa ligada ao resto do mundo. Lecionamos em português e Inglês, em muitas áreas, mas a nossa grande oferta ainda é em português. Permite aos lusodescendentes o regresso às origens, mas sempre com a visão aberta para o resto do mundo, que o Iscte fomenta. A isto juntamos milhares de estudantes de outros países, os nosso programas de doutoramento com a China, os nossos alunos dos PALOP e as centenas de alunos da América Latina e Europa. Somos uma universidade que é como uma casa, onde qualquer um se sente em casa, mas ao mesmo tempo que gosta de receber gente de todo o mundo.

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