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Sábado - 19 Julho 2025

Joe Silvey: um pioneiro da nação canadiana

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Monumento de homenagem em Vancouver ao pioneiro português Joe Silvey e às suas duas esposas nativas, em memória do desenvolvimento da região e da tolerância étnica.

Na passada terça-feira, comemorou-se o Dia Nacional do Canadá, um feriado simbólico que desde 1 de julho de 1867 assinala a independência deste território do Reino Unido, através da união de três colónias britânicas, a Província do Canadá, atual Ontário e Quebeque, e a Nova Brunswick e a Nova Escócia.

Estabelecida em grande parte da América do Norte, a sociedade canadiana destaca-se pela sua génese multiculturalista, intrinsecamente associada ao facto de possuir um dos maiores índices de desenvolvimento humano. Na base da mescla de grupos, idiomas e culturas étnicas que coexistem no Canadá, encontra-se o pioneirismo luso, que muito antes do fluxo migratório das décadas de 1950-60, teve no cabouqueiro Joe Silvey um precursor da presença portuguesa no território.

Natural dos Açores, Joe Silvey ou José Silva, terá deixado a ilha do Pico em 1846, ainda a entrar na adolescência, embarcando num barco baleeiro americano. Esfumada a quimera do ouro que levou à época infindos aventureiros à Califórnia, instalou-se na Colúmbia Britânica por volta de 1860, onde veio a unir-se a Khaltinaht, neta do chefe índio Kiapilano, e de cuja relação nasceu a filha, Elizabeth, a primeira criança de sangue europeu nascida em Vancouver. Joe acabaria por se tornar, em 1867, o primeiro europeu a receber a nacionalidade canadiana, tendo por essa altura aberto em Gastown um saloon chamado The Hole in the Wall (O Buraco na Parede).

Após a morte da sua primeira mulher, o açoriano natural do Pico vendeu o saloon e instalou-se em Stanley Park, onde se dedicou à pesca, tendo sido o primeiro a conseguir uma licença oficial para pescar com a técnica da rede de cerco. Até à sua morte em 1802, Joe casou-se ainda com a índia salish conhecida como Lucy, de quem teve dez filhos, fixando-se em Read Island, onde comprou um vasto terreno e partilhou parte da sua prosperidade derivada da atividade piscatória com a comunidade local.

O pioneirismo de Joe Silvey na construção da sociedade multicultural no Canadá levou a que em 25 de abril de 2015 a Câmara de Vancouver, situada

na Colúmbia Britânica, a terceira maior província do Canadá, onde vivem atualmente cerca de 40 mil portugueses e lusodescendentes, inaugurasse em Stanley Park um monumento em sua homenagem. Concebido pelo bisneto de Silvey, o escultor Luke Marston, a estrutura comemorativa inclui a estátua do baleeiro açoriano e das suas duas mulheres nativas, sobre uma calçada portuguesa, para fazer a ligação à pátria origem.

Segundo alguns historiadores, o baleeiro açoriano oitocentista contribuiu indelevelmente para o desenvolvimento da província localizada no extremo oeste do Canadá e para a tolerância étnica. Sendo que, o então presidente da Câmara de Vancouver, aquando da inauguração do monumento de homenagem ao português Joe Silvey, assegurou que o mesmo, é concomitantemente, “um ponto de reconciliação entre os Povos das Primeiras Nações e a restante comunidade”.

Salientando ainda, estamos “a trabalhar arduamente para sermos a cidade da reconciliação. Vamos todos trabalhar neste objetivo multigeracional”, de modo, através da figura pioneira e inspiradora de Joe Silvey, “tentar ser um modelo para um futuro cheio de esperança, harmonioso, entre as nossas culturas”.

Daniel Bastos - Professor/Historiador
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