À esquerda o Mayor de Houston, no centro a esposa do Cônsul José
Ivo e à direita o Cônsul Honorário de Portugal em Houston
O Jornal Comunidades Lusófonas
conversou com o Cônsul Honorário José Ivo, que, segundo o mesmo, foi convidado informalmente pela primeira vez no fim de 2014 pelo então Embaixador de Portugal nos EUA Nuno Brito, “mas nessa altura descartei a possibilidade de assumir essa função devido à minha vida profissional intensa”. Mais tarde, em 2016 e “mais próximo da minha reforma, registei a minha disponibilidade perante pessoas da comunidade portuguesa em Houston”, que decidiram fazer um abaixo-assinado ao novo Embaixador a recomendarem-no para o lugar de Cônsul Honorário. Foi nomeado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros no início de 2017, onde exerce funções desde então.
A Comunidade portuguesa de Houston, Texas, não é muito expressiva. Segundo a estimativa pessoal do Cônsul Honorário, vivem cerca de mil portugueses na área metropolitana de Houston (a quarta maior nos EUA, com quase 7 milhões e meio de habitantes). No entanto, o censo americano de 2020 aponta para cerca de 8.000 habitantes de origem portuguesa. A grande maioria destes serão seguramente cidadãos americanos, descendentes das diferentes vagas de emigração portuguesa para os Estados Unidos, e que, pelo menos cultural e sentimentalmente, continuam a manter as suas raízes portuguesas.
“O Texas é o segundo maior Estado americano em PIB, área e em população” confirma o Cônsul Honorário. É o maior centro a nível mundial da indústria petrolífera, e agora também da indústria das energias renováveis.
Houston tem o maior centro médico e de investigação em Life Sciences no mundo. Austin é o segundo Silicon Valley. Por isso, qualitativamente, “na nossa comunidade no Texas temos portugueses de altíssimo nível e valor profissional, que são atraídos por estas oportunidades de carreira profissional.” Quantitativamente, toda esta atividade económica continua a atrair muitos portugueses e, portanto, a comunidade está a crescer.
Segundo o Cônsul Honorário, face à realidade geográfica deste país, e à crescente presença de portugueses no Texas pelas razões já abordadas, dispõe de competências para auxiliar os nossos nacionais que residem nesta região, no que diz respeito a questões notariais, quando normalmente teriam de se deslocar até Washington D.C. Atende várias dezenas de pessoas por mês, na sua residência, onde está sediado o Consulado Honorário.
Há todo o trabalho de apoio à comunidade feito diariamente via telefone e emails. Desde 2021, diz José Ivo, “Tenho também organizado, em conjunto com a nossa Embaixada em Washington, a deslocação de um funcionário consular para a realização de Presenças Consulares semestrais em Houston, e assim poder dar resposta à procura de outros serviços, tais como a renovação de cartões de cidadão e de passaportes. Têm sido um êxito, para grande alegria da nossa comunidade. São atendidas entre 150 e 200 utentes por Presença Consular.”
Com talvez menor visibilidade para a maioria dos cidadãos, mas com grande importância, o Cônsul Honorário realiza ainda um vasto trabalho de representação de Portugal junto das autoridades municipais e estaduais, dando apoio em diversos assuntos ligados à Embaixada, incluindo na preparação de visitas governamentais ao Texas. Também colabora com empresas portuguesas que querem cá vir se instalar, ou simplesmente falar com ele para adquirirem mais conhecimentos sobre a realidade local. “Tenho igualmente registado o interesse crescente dos norte americanos sobre Portugal, com um aumento significativo das perguntas que me fazem sobre o nosso país e como podem fixar residência.”
“Fiz carreira profissional em mais que uma multinacional, e os Estados Unidos é o nono país, e o quarto continente, onde eu e a minha família já vivemos. Por isso, vivi por muitos anos a experiência de como é importante para nós, emigrantes portugueses, ter por perto algum apoio do nosso país.” Ora, o que sente é que aqueles de “nós”, a quem a vida pessoal e profissional felizmente correu bem e continuam com saúde, têm uma certa obrigação, na medida do possível, de devolver qualquer coisa à sociedade a que pertencem. Neste sentido, “não há nada mais valioso para dar que o nosso próprio tempo”, e sente-se muito honrado pela oportunidade de poder ajudar portugueses que, como ele, se aventuraram em ir trabalhar para fora e fazer vida em terras longínquas. Também é membro fundador do Conselho da Diáspora Portuguesa desde 2012, e aí também colabora para ajudar Portugal no que seja possível.
Sendo reformado, continua no ativo, sente-se mais “leve”, principalmente porque agora “sou muito mais o dono do meu próprio tempo, e já não tenho que me sujeitar a uma vida profissional intensa de longas horas diárias e constantemente sob pressão. É o lado bom da reforma…”