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Domingo - 16 Fevereiro 2025

Livro resgata memórias da sociedade, emigração e resistência na ditadura

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O antigo militar e oposicionista Fernando Mariano Cardeira (ao centro), ladeado do historiador Daniel Bastos (dir.), e do tradutor Paulo Teixeira, no Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública a quem o fotógrafo engajado doou em 2022 o espólio que integra o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”

No próximo dia 12 de abril (sexta-feira), é apresentada em Lisboa a obra “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. O livro, concebido pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentado às 18h00 na Associação 25 de Abril.

Capa: Memórias da Ditadura

A apresentação da obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador e investigador José Pacheco Pereira, estará a cargo do militar, antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques.

Neste novo livro, realizado com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, estrutura nacional que tem como missão definir e concretizar o programa de celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70.

Passagem da fronteira a salto (Gerês, 23 de agosto de 1970)

Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70.

Assembleia de estudantes na Universidade de Coimbra de novembro de 1968

No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, e numa época em que mais de metade da população portuguesa nasceu já depois da Revolução de Abril, a publicação desta obra constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o país como era há 50 anos. Um dever de memória e um exercício de cidadania no fortalecimento da democracia através da importância da história para inquirir o passado, pensar o presente e projetar o futuro.

Bairro da Quinta do Narigão (Lisboa, 1968)

Segundo José Pacheco Pereira, historiador e investigador que assina o prefácio da obra, “tudo o que constituía contexto dos anos finais da ditadura está presente neste livro, o país pobre, miserável e injusto onde, desde a mortalidade infantil à nascença, ao analfabetismo, aos bairros da lata, à insegurança de viver em sítios errados quando havia um desastre como as cheias de 1967, que matou “naturalmente” os mais pobres e deixou incólumes os mais ricos, mesmo quando viviam em locais onde choveu mais, o movimento estudantil que tinha tirado as universidades ao controlo de regime, o movimento operário reprimido nos seus mínimos direitos, a condição das mulheres vítimas de todas as violências que a censura proibia de contar, já para não falar da repressão, das prisões, da tortura, e, por fim, da guerra colonial”.

Embarque de tropas para Moçambique (cais da Rocha)

Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora.

Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, o antigo oposicionista regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

Daniel Bastos - Professor/Historiador
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