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Domingo - 8 Dezembro 2024

EXCLUSIVO: Luís Morgadinho: “A revolução dos cravos têm um grande significado nos dias de hoje”

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No sábado 27 de Abril decorreu a gala anual da Associação 25 de Abril, na Casa Abril em Toronto. O evento reuniu mais de 150 pessoas de Portugal e do Canadá, entre elas um capitão de Abril: o Tenente-General Luís Nelson Ferreira dos Santos.

“O evento correu muito bem, a meu ver! Tivemos bastantes media canadianos presentes, pessoas de relevo de Portugal e do Canadá como a Cônsul-Geral Ana Luísa Riquito, a Deputada do parlamento canadiano Julie Dzerowicz, o Conselheiro das comunidades portuguesas Laurentino Esteves e claro o Tenente-General Luís Nelson Ferreira dos Santos que foi o nosso convidado este ano” conta Luís Morgadinho, professor em Toronto e presidente da Associação Cultural 25 de Abril, núcleo Salgueiro Maia.

Tenente-General Luís Nelson Ferreira dos Santos a escutar música da LusoCanTuna

Além destes convidados várias associações, sindicatos e artistas estavam presentes. O evento começou às 18h30 com discursos e jantar e acabou “por volta das três da manhã com muita animação” segundo o presidente. “Acho que foi um sucesso, as pessoas estavam animadas e dançaram muito. Não é só ser serio, é importante que seja mesmo uma festa” adiciona com um sorriso nos lábios.

Todos os anos, a associação convida um dos capitães de Abril à celebração do 25 de Abril. Durante a estadia do seu convidado, os membros da associação mostram-lhe Toronto através da perspetiva da diáspora portuguesa. Por exemplo, uma das paragens obrigatória é a visita ao monumento em homenagem a Aristides de Sousa Mendes no Arlington Parkette.

Enquanto Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes concedeu milhares de vistos de entrada em Portugal a refugiados de várias nacionalidades que desejavam fugir da França em 1940. O número total de vistos passados é desconhecido mas algumas fontes apontam o número de judeus salvos do holocausto na ordem dos dez mil. Assim, o Tenente-General Luís Nelson Ferreira dos Santos e a sua esposa visitaram este monumento e muitos mais durante a estadia.

Mas se a associação já existe há 30 anos e participa a vários eventos da comunidade portuguesa em Toronto, mudou muito através dos anos e é mais formal do que no início. “Ao princípio, a associação organizava um encontro no restaurante com ex-combatentes e depois é que se ligou à Associação 25 de Abril em Portugal” explica Luís Morgadinho.

Para os fundadores que tinham fugido do país por causa do regime ou que fizeram o serviço militar no ultramar, a revolução simbolizava o fim do sofrimento, a liberdade e a democracia. “Quando o regime finalmente caiu, para eles foi incrível. A data do 25 de Abril tem muito significado para eles” descreve.

O desenvolvimento da associação é em parte graças a Carlos Morgadinho, o pai de Luís, que fez parte da associação quase desde o início e teve a ideia de criar uma revista anual em 2004. “Ele esteve bastantes anos à frente da organização: talvez uns 20 anos. Mesmo se ele não fundou a associação, sempre investiu muito porque também esteve em Angola durante a guerra. Para ele, era importante que a associação continuasse a funcionar e então teve a ideia da revista para receber fundos da parte dos patrocinadores” relata.

E desde então, todos os anos a associação organiza uma gala para festejar a data do 25 de Abril e publica uma revista para comunicar os valores da revolução dos cravos. E em 2020, Luís Morgadinho criou o website para estabelecer a presença digital da associação. “Quando o meu pai fazia parte da associação, eu não ligava muito. Mas quando ele faleceu em 2019, tive vontade de continuar o trabalho que ele tinha feito” conta.

“A associação é pequena mas é a única, que eu saiba, que existe fora de Portugal e que está ligada à Associação 25 de Abril em Portugal. É bastante surpreendente porque há países com talvez mais imigração portuguesa e mais perto de Portugal como a França que não têm associação do 25 de Abril” acrescenta o presidente.

Para ele, a data da revolução não é só importante para os Portugueses mas também faz parte das grandes revoluções do fim do século vinte. “A revolução dos cravos representa os três “D”, ou seja a democracia, a descolonização e o desenvolvimento que têm um grande significado nos dias de hoje” explica o professor.

“Também acho que o 25 de Abril é uma resposta ao golpe de estado que aconteceu no Chile em 1973 quando o Augusto Pinochet tomou posse do governo com o apoio dos Estados Unidos. Foi um golpe de estado da direita que criou o neoliberalismo e influenciou o mundo capitalista no qual vivemos. Portanto, a revolução dos cravos foi um golpe de estado da esquerda. Pode não parecer muito significante porque na Europa houve maiores revoluções como na França e na Rússia mas é significante porque é uma resposta à influência do neoliberalismo” conclui Luís Morgadinho.

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