Mineola é uma Vila que fica a 30 quilómetros da cidade de Nova Iorque, onde Paulo Pereira e os seus familiares assentaram há mais de quarenta anos. É uma Vila “simpática onde vive uma comunidade portuguesa expressiva”. Paulo Pereira é Professor de profissão a tempo inteiro, e acumula funções como Mayor na Câmara da Vila de Mineola. Gosta do que faz, quer na escola, quer como político, e tem muitas responsabilidades, pois “não é fácil” presidir uma Vila com um orçamento de 25 milhões de dólares anuais. A Vila tem cerca de 21 mil habitantes, sendo que 15% da população entre 2500, 3000 habitantes são portugueses. Gosta de Portugal e nunca se esquece das suas raízes e vem à terra Natal com frequência, até a família (filhos), já estão rendidos aos encantos da terra lusa.
Paulo Pereira, 52 anos, emigrou para os Estados Unidos junto com os seus pais e os seus três irmãos mais velhos, em 1977, vai fazer agora 47 anos que está por terras do “Tio Sam”. “Vim para cá com seis anos, não tinha frequentado a escola formal em Portugal, porque saí de lá mesmo antes de começar a escola”.
Entrou no primeiro ano, numa escola americana, ao fim de dois anos os seus pais verificaram que estava a esquecer-se do português, ler e escrever, pois nunca tinha andado na escola em Portugal.
Decidiram e “mandaram-me ir viver com a minha madrinha em Veiros freguesia que pertence ao concelho de Estarreja, distrito de Aveiro, entre 1979 e 1981”. Entre os oito e dez anos passou-os em Portugal, onde fez a quarta classe. E foi através desses ensinamentos que nunca mais se esqueceu de falar Português, ler e escrever.
Regressou aos Estados Unidos, em 1981, e desde aí, “estou cá em Mineola”. Alguma parte da sua família decidiu emigrar para os Estados Unidos, “tinha cá o meu tio, e esse foi o motivo que nós decidimos ficar por aqui, não fomos para Boston, ou para Newark, ou Connecticut”.
Terminou o Secundário na Escola local, Mineola High School, e entrou na Adelphi University, onde se licenciou em História. Prosseguiu os estudos e fez mestrado também em História, na Queens College, em Nova Iorque. E em 1993, começou a dar aulas na escola onde estudou, lecionando as disciplinas de Estudos Sociais e História, e por lá continua, “estou no meu trigésimo primeiro ano de ensino”.
Pretende reformar-se em 2026, aos 55 anos, ao fim de 33 anos de carreira. Pois, enquanto tirava o mestrado já estava a dar aulas.
Conheceu a sua mulher, que é portuguesa, em Portugal, enquanto fazia uma pós-graduação no ISEG, no Verão de 2001. “Conhecemo-nos lá”. Casou em 2004, e têm três filhos, e vão todos os anos a Portugal. Durante a pandemia ele e a mulher tiraram uma licença sabática, sem vencimento, e juntamente com os três filhos ficaram a viver em Portugal durante seis meses.
Desde fevereiro de 2021 até agosto de 2021, estiveram em Lisboa, dava aulas numa Escola Internacional, “os meus filhos também frequentaram essa escola”. Regressou em agosto desse ano e retomou a sua posição como professor.
Durante aquele tempo em que era Vice-Presidente da Câmara, conseguia fazer esse trabalho à distância. Agora como Presidente da Câmara seria muito mais difícil. Em 2008, foi a primeira vez que se estreou na política, por influência de um amigo, Jack Martins, que naquele tempo era o Mayor de Mineola. Hoje é Senador Estadual por Nova Iorque, amigo de infância que lhe pediu para concorrer, “não tinha grande interesse nesse cargo, mas para fazer-lhe o favor concorri, ganhei numa campanha renhida, que estava a concorrer contra uma senhora que lá estava há oito anos, mas consegui ganhar.” Foi Vice-presidente desde 2011 até 2022, e depois em 2022 o Presidente da Câmara não quis concorrer de novo, “eu concorri e ganhei.”
Vai fazer um mandato de quatro anos, sem limite, pretende concorrer mais um. Continua a dar aulas a tempo inteiro e a fazer este trabalho que supostamente é part-time, “mas não é”, porque “nós temos, uma Vila, bastante complicada, tem 21 mil habitantes, mais de cem funcionários, à minha responsabilidade, com um orçamento de 25 milhões de dólares, anuais”. Departamento de obras públicas, saneamento, água, parques, Biblioteca Municipal, Piscina Municipal, Bombeiros, praticamente tudo, à exceção das escolas.
Mineola é um dormitório de Manhattan, “temos praticamente só vivendas de uma família, mas perto da estação de comboios temos apartamentos, e alguma densidade de habitação, mas continua a ser uma Vila residencial. Estamos a 35 minutos de comboio do centro de Manhattan, e em termos de distância, não chega aos 30 quilómetros.”
É por isso que as pessoas gostam “de cá viver”. Estão perto do centro da “Big Apple”, mas a Vila é calma, segura, limpa, as escolas “são muito boas”, os valores imobiliários são muito elevados, as casas são muito caras. Têm a comunidade com mais portugueses per capita no Estado de Nova Iorque. A comunidade mais densa, entre os doze, quinze por cento da população, à volta de 2500, 3000 habitantes portugueses só na Vila de Mineola. Mas a comunidade tem-se espalhado e tem comprado casas em áreas muito próximas, mas não pertencem a Mineola.
No capítulo da sua vida com a ligação a Portugal, decidiu este ano concorrer ao Conselho das Comunidades Portugueses, ganhou a eleição, e agora também é Conselheiro das Comunidades Portuguesas (CCP). Pretende ir a Portugal para fazer o plenário das Comunidades portuguesas, nos próximos meses.
“Gosto de ser Mayor de Mineola” (Presidente)
“Gosto de trabalhos que envolvam ter muita responsabilidade. Estar à frente de uma câmara não é tarefa fácil, e já tenho uma visão para o que pretende tornar o município, “quero que seja um destino”.
“Não temos praias, ou grandes atrações, a nossa História, não tem muitos séculos, só fomos fundados em 1906, mas a nossa localização dá para que possamos usar isso a nosso favor.”
“Gosto do meu trabalho. Tenho ideias, e uma equipa que vai concretizar essas ideias, sejam elas em termos das artes, de concertos no nosso parque no verão, sejam ideias sobre receitas através de impostos, ou de melhorar os serviços que temos, e de acrescentar aos serviços que nós oferecemos”.
Recentemente a Governadora de Nova Iorque, reconheceu, Mineola, uma das Vilas que mais está a desenvolver em termos de habitação, “eu sei que atualmente é um assunto importante em Portugal. Nós também estamos a passar por isso cá, mas temos crescido, muito na baixa da Vila. E nem toda a gente gosta de ver a densidade de prédios, e querem manter uma vila suburbana. Mas nós temos que enfrentar e ultrapassar o futuro, senão ficamos ultrapassados.”
O seu maior desafio como Mayor (Presidente), é tentar equilibrar esta noção de que “somos uma Vila residencial”, uma Vila suburbana, de vivendas de uma só família, com a necessidade, de habitação e o desenvolvimento perto da nossa baixa onde se encontra a estação de comboios.
Algumas pessoas pensam que “nós estamos a crescer demais, e que estamos a abandonar aquele estilo de vida que queriam”. “Eu penso que não”, porque onde estão a apostar em maior densidade e altura, numa maior massa de habitação, é na Baixa da Vila. Na sua opinião continuam a usufruir a qualidade de vida que estão acostumados, e aos mesmo tempo “temos que alargar a “cerca” para crescermos”.
“Temos que crescer, e temos que atrair casais novos, famílias novas, porque nós estamos a envelhecer. Precisamos de solteiros, que venham para cá, que gastem dinheiro, que apostem na nossa comunidade.
O maior desafio é encontrar o equilíbrio entre progresso e manter a qualidade de vida para que as pessoas que cá estão a viver há mais tempo, se lembrem de uma vila pequena, sossegada, de outros tempos. Mas por outro lado, temos que acompanhar as mudanças dos tempos, de uma forma controlada, de uma forma inteligente, e entrar com os olhos abertos. “Não é só construir, e de dizer que sim a tudo. Não quer ser conotado como um irresponsável, esse é é o seu maior desafio, o equilíbrio entre o progresso e alma do Mineola, “estarmos envoltos” no desenvolvimento sustentável.
O regresso a Portugal
Pondera um regresso a Portugal “sempre fez parte da minha história, e agora com a minha família constituída, também fará parte da vida da minha mulher e dos meus filhos. Mas sim, não sei se a tempo inteiro, provavelmente, durante a reforma alguns mesinhos, de certeza absoluta que o farei.”
Ainda mantêm a casa dos pais, porque naquele tempo todo o dinheiro poupado era para investir em Portugal numa casa. Mas as coisas mudam, e de repente Portugal vira moda, e agora já há interesse por parte desses emigrantes de segunda e terceira geração em investir no país.
Há americanos que quando sabem que “sou português me dizem que já ouviram falar”, que é um bom país para os reformados, e é muito lindo, seguro e barato.
“Eu pretendo passar muito mais tempo em Portugal quando me reformar. Em termos relativos ainda é barato, principalmente quando se é estrangeiro. Não sei se a tempo inteiro, mas uns meses valentes lá permanecerei.