No menu items!
21.8 C
Vila Nova de Gaia
Terça-feira - 15 Outubro 2024

“Nas antigas instalações da rádio de onde partiu a 1.ª senha de ativação da Revolução de Abril ainda se respira liberdade e respeito pelos direitos humanos…”

Destaques

O 7.º piso do n.º 162 da Avenida Elias Garcia, em Lisboa, ainda mantém “religiosamente”, os mesmos materiais, o espaço onde existia a cabina de rádio, com piso em cortiça, separada por uma divisória com janelas de vidro. «Faltam cinco minutos para as 23 horas. O Paulo de Carvalho com o Eurofestival de 74: “E Depois do Adeus”»…

Cinquenta anos depois “ainda ecoam os valores de liberdade, de integridade e de respeito pelos direitos humanos” nas instalações do espaço de onde saiu a primeira senha que ativou a Revolução de Abril. A garantia é de Joaquim Dantas Rodrigues, advogado, especialista em Direito Internacional.

Nesse não tão longínquo 24 de abril de 1974, e quando faltavam 65 minutos para o dia histórico, dessa morada, então ocupada pela Rádio Alfabeta (afiliada dos Emissores Associados de Lisboa, que incluíam a Rádio Graça, o Clube Radiofónico de Portugal, a Rádio Peninsular e a Rádio Voz de Lisboa), entrou em antena a voz do locutor de serviço, João Paulo Diniz, que lançou a canção que fez sair para a rua o plano engendrado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA). Que viria a pôr fim aos 41 anos de ditadura do Estado Novo.

Web

Nesse 6.º piso funcionava então «Alfabeta-Discos» uma editora direcionada para o fado e o cançonetismo nacional. Onde gravavam artistas como Lenita Gentil, António Chainho, Manuel de Almeida, João Casanova, Daniel Garcia, Valério Silva, Gabriel Cardoso entre muitos outros.

Na celebração dos 45 anos do 25 de abril, a morada mereceu uma placa evocativa, fixada pela Câmara Municipal de Lisboa no passeio junto da entrada do edifício. E uma comitiva da CML, da Junta de Freguesia e da Associação 25 de Abril visitou então as instalações da Dantas Rodrigues & Associados.

A 22 de abril de 1974, recorde-se, o locutor radiofónico João Paulo Diniz foi abordado pelo capitão piloto-aviador Costa Martins. E depois de uma primeira conversa seguiu-se-lhe uma segunda, à noite, com o major de Artilharia Otelo Saraiva de Carvalho, também na companhia de Costa Martins, no snack-bar do Apolo 70, sito à Av. Júlio Dinis, perto do estúdio emissor da Rádio Alfabeta.

Desse encontro ficou combinado que a senha para o arranque dos preparativos militares seria dada às 23h55m de 24 de abril, com a colocação em antena da música «E Depois do Adeus», cantada por Paulo de Carvalho, que acabara de representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado 19 dias antes em Brighton, Inglaterra.

O plano que passava pelo 7.º piso do n.º 162 da Avenida Elias Garcia não foi, porém, isento de um contratempo de ordem operacional, que obrigaria os militares a alterar em uma hora o que estava previsto para o dia 24. A intervenção de João Paulo Diniz foi assim antecipada para as 22h55.

E assim aconteceu, não sem que um acaso, relacionado com uma falha brusca do sinal, tivesse feito com que o emissor fosse abaixo, provocando desse modo as maiores apreensões junto dos “conjurados”. Mas, sorte das sortes, o sinal restabelecer-se-ia às 22h51, quatro minutos antes do horário da 1.ª senha que ativaria a revolução. «Faltam cinco minutos para as 23 horas. O Paulo de Carvalho com o Eurofestival de 74. “E Depois do Adeus”»…

Ver Também

Memórias da ditadura revisitadas no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos

O historiador Daniel Bastos (esq.), acompanhado do fotógrafo Fernando Mariano Cardeira (ao centro) e do tradutor Paulo Teixeira (dir.),...