Olivier Bonamici, é um imigrante francês que se deixou entregar aos encantos de uma portuguesa há vinte cinco anos, os mesmos que tinha quando veio para Portugal, tendo o fruto desse amor resultado em dois filhos. O resto fica registado nestas palavras que em baixo deixamos ao leitor.
“Tenho vinte cinco anos de França e vinte cinco anos de Portugal, e a minha história é diferente daqueles franceses que vêm para cá, muitas vezes por razões, fiscais.
“Eu fiquei cá unicamente por amor”. Em França era jornalista e quando veio para cá também veio trabalhar numa rádio francesa, a Rádio Paris-Lisboa, tendo ido à posteriori para a Eurosport e mais tarde para a SIC, sempre em programas ligados ao desporto.
“Fui contratado por uma rádio Francesa a operar aqui em Portugal” e tinha como público uma pequena comunidade francófona que vive em Portugal.
Quando chegou a Portugal, há 25 anos, o a língua francesa tinha mais peso em Portugal, havia muita gente que falava francês, “agora as coisas mudaram”, revela-nos Olivier.
Quando chegou, era o fim da “influência da era francesa”, – agora já se fala um pouco mais francês, muito por causa do turismo. “A geração dos portugueses mais antigos falavam muito bem francês, hoje é mais o inglês”.
Havia uma rádio pública francesa em Lisboa, que tinha programas em língua portuguesa e outra na língua francesa. Trabalhou lá quase 10 anos, mas essa Rádio Pública Francesa fechou e “eu vi-me num dilema” e numa viragem total da carreira. Ou ficava cá, ou regressava a França, mas como já estava casado e tinha filhos, decidiu começar a aprender a falar português para poder trabalhar, e apostar na comunicação social portuguesa.
Arranjou um trabalho no canal de televisão Eurosport, canal que ainda hoje trabalha, “sou comentador de ciclismo”.
Também acumula funções de jornalista (há mais ou menos sete/oito anos) na Rádio Renascença, “tenho três crónicas por semana”. À segunda e quarta feira, onde falo de desporto, na vertente sociológica, cultural, ou económica. E na sexta-feira, um programa de uma hora que se intitula “Visto de Fora”, com uma colega espanhola e um colega pivô português, onde damos a nossa visão vista de fora, que se carateriza na vertente política, social e económica, mas sempre com a visão de um estrangeiro que vive em Portugal, “trabalho há quatro anos neste programa”.
“Para mim era impossível arranjar emprego e trabalhar como jornalista em português, porque eu não falava “mesmo nada de português”. Foi a descoberta de uma língua nova, de uma cultura nova, duma realidade nova, de hábitos culturais completamente diferente da minha educação, algo que guardo como positivo.
A cultura em Portugal
“É uma cultura com a qual me identifico muito. A minha descendência é Italiana, sou francês mas fui educado metade por franceses e outra metade por italianos”. Portugal “para mim é um compromisso”.
Portugal tem um clima que é agradável de se viver, e tem uma gastronomia fora do comum. Gosto da comida Italiana, e depois descobri a culinária portuguesa e fiquei completamente fã. Portugal não tem o monopólio da comida e do clima, nem da gastronomia, também há outros países que têm muita cultura. Mas a questão é que tem a ver com o humanismo, são pessoas que, em geral, são muito humanas.
A desvantagem é a ausência de stress, e não cumprir com as tarefas à hora certa. Para mim é uma confusão. Falta de disciplina. Mas esta caraterística mais humana “gosto bastante”. No geral identifico-me mais com os portugueses, são mais afáveis. Mais doces, mais acolhedores, em 25 anos de Portugal só fui “uma única vez discriminado”.
Portugal, é comparado a França nos anos 50, 60, onde havia uma doçura. É um país que também tem os seus defeitos, tais como a indisciplina, “eu não entendo”, há falta de cultura geral nas escolas. Saber, por exemplo quem foi Cleópatra?
Na infância fala-se muito pouco de cultura geral aqui. “Para mim isso é um problema”, as pessoas leem muito pouco jornal e na sua generalidade, não lê de todo, “é a taxa mais baixa da Europa”.
É uma dicotomia, ora fico chateado com algumas coisas que se passam cá, ora fico muito satisfeito com outras. Por exemplo, “fico surpreendido com a forte relação que os português têm às suas tradições e com a terra”.
Portugal visto pelos Franceses
A imagem que eu tinha de Portugal antes de vir, era uma imagem de muita ignorância da minha parte, porque o que nós aprendíamos na escola era sobre a época dos descobrimentos, sobre Magalhães, Vasco da Gama, e a Linda de Susa e mais nada.” Total ignorância. Portugal na altura não estava na moda, hoje está na moda, já há muitos franceses que vivem aqui, a imagem de Portugal mudou.
Mas ainda há alguma estigmatização, eu estava à espera de um país mais atrasado. Face também um pouco a colagem da maneira e onde viviam os portugueses em França, na sua maioria, nos subúrbios, mais pobres, das grandes cidades, nomeadamente em Paris. E quando chego a Portugal fico com uma noção diferente daquela que eu tinha, de um país, que se tinha modernizado, por um lado devido ao facto de pertencer à União Europeia, mas de facto ainda há uma ideia por parte de alguns países que Portugal é atrasado, mas em menor escala do que há 25 anos. Muito também devido ao Turismo, e por fazer Portugal a preferência de turismo dos franceses, para passar férias e até viver.
O emigrante português em França “neste momento tem uma excelente ideia dos emigrantes portugueses, e que não levantam qualquer problema, e são pessoas trabalhadoras”.
A terceira geração de portugueses é uma geração completamente integrada. São franceses, têm nomes portugueses, mas com integração total. Mas também se deve salientar e porque é uma questão muito negativa, a maneira de ver dos portugueses que ficaram cá em Portugal na época do Salazar, e os emigrantes que partiram, há uma incompreensão total sobre os portugueses face aos emigrantes porque, irritam os portugueses, que diziam que os emigrantes queriam mostrar as coisas que compravam lá fora, ou quando falavam, “não aceitavam quem falava mal português, e eram criticados por isso”.
Falar Português ou Francês
No meu caso e a única maneira de os meus filhos serem bilingues era eu falar só francês em casa. Ainda hoje, sempre que estamos em casa e não há amigos ou pessoas portuguesas, eu falo sempre francês com eles. Só não falo quando estão outras pessoas em casa.
A mensagem que eu diria a um imigrante que quisesse vir para Portugal, é que este país é fenomenal, e que “sabe muito bem” viver em Portugal, porque é um grande país com grandes pessoas e muita história. Mas também o alertava, e diria cuidado!, que respeitasse a história do país, e os seus hábitos.
Há coisas que eu não compreendo, o machismo é algo que não gosto e faz-me impressão, mas “temos que respeitar”. Quando vamos viver para outro país temos que respeitar a sua história na sua cultura, é preciso respeitar e aceitar as regras.
A opinião que eu daria a um português que queira emigrar, era para não se fechar em si. Quando não há assimilação da cultura do país onde se vive e se recolhem sobre si, pode ser um fator negativo de aculturação. Há que saber dar espaço à cultura do país onde se está emigrado. Na minha opinião os portugueses fecham-se muito nas suas tradições, na ida aos restaurantes portugueses, no rancho folclórico, são muito agarrados às tradições portuguesas. “Quando é demasiado, também é negativo. Há outras riquezas culturais nesses países”.