Júlio Oliveira, Presidente do IPO do Porto, disse ao Jornal Comunidades Lusófonas, que as cinco décadas de existência do Instituto, e apesar de existirem três instituições similares, o IPO de Coimbra e de Lisboa, marca a diferença a nível nacional e internacional. O Instituto Português de Oncologia do Porto “é o único centro compreensivo de cancro em Portugal”. Muito se tem feito ao longo destes anos e o IPO do Porto tem-se destacado em algumas áreas oncológicas, identificadas no país e fora dele. Foi reconhecido pelo trabalho desenvolvido pela Organização Europeia de Institutos de Oncologia, a (OECI).
O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO), é reconhecido pelo elevado padrão de qualidade na prestação de serviços e cuidados que oferece aos doentes oncológicos, “não só no diagnóstico no tratamento e seguimento dos sobreviventes”, como nos cuidados que são oferecidos na fase final de vida. Para além do elevado padrão de qualidade que é oferecido, é também integrado numa dimensão que é muito importante na temática da oncologia, a investigação. Esta última, é integrada num contínuo de cuidados que são oferecidos aos doentes oncológicos na Instituição e no país.

A densidade da investigação e a qualidade da mesma que é desenvolvida no IPO, não se resume na pesquisa laboratorial. É essencialmente investigação que tem por objetivo, trazer novas tecnologias, novas métodos, novos medicamentos, para que esses medicamentos tenham impacto na vida vida dos doentes. Permitindo um aumento da sobrevivência e melhorias na qualidade de vida.
Nos últimos anos tem havido grandes evoluções, com a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos para a oncologia, mas as tecnologias de hoje, em alguns tumores, principalmente aqueles que estão associados a maior taxa de mortalidade, como é o caso do cancro do pulmão, e o cancro retal metastizado, tem hoje tratamentos que permitem prolongar a vida dos doentes.

“O caso do cancro do pulmão é um dos casos mais paradigmáticos” até há poucos anos. Mas com a evolução de conhecimentos da biologia dos tumores, é possível “desenhar medicamentos, desenvolvê-los de acordo com a biologia, que se foi descobrindo, e conhecendo melhor, permitindo controlar a evolução da doença. O IPO do Porto, procurou organizar-se, bem em relação a outras instituições de saúde em Portugal, “nós estamos organizados”.
Os modelos de centros americanos, foram uma inspiração para o IPO do Porto. O Dr. Guimarães dos Santos foi um dos principais impulsionadores “desta instituição” desde a sua génese, trazendo esse modelo dos Estados Unidos, onde lá esteve a trabalhar e concebeu um modelo de organização centrado no doente oncológico. E com o desenrolar do tempo foram criadas as “clínicas de patologia.”

Quando os doentes entram na Instituição, e têm um certo tipo de cancro, têm de fazer exames complementares de diagnóstico, em várias zonas do edifício. O que se pretende é criar uma equipa que segue o doente de forma regular, e um “ecossistema” de cuidados em que o doente esteja no centro desses cuidados.
O IPO do Porto, tem “o estatuto de centro compreensivo de cancro” sendo o único do país, os outros dois Institutos Portugueses de Oncologia, são dois centros oncológicos, mas não são centros compreensivos. “O IPO do Porto, é o único hospital de Portugal que tem integrado na estrutura do hospital um centro de investigação.”

Os dois IPOs, de Lisboa e Coimbra têm desenvolvido investigação, mas “não tem a sua estrutura própria de investigação reconhecida pela Fundação da Ciência e Tecnologia”. O IPO do Porto é o único hospital em Portugal que tem “internalizada” a estrutura de investigação.
Isto tem permitido um desenvolvimento consistente, coerente, e concertado entre as diferentes valências. É a instituição que em Portugal desenvolve mais ensaios clínicos de oncologia, tendo o ano passado cerca de 300 doentes envolvidos em ensaios clínicos, “nós queremos mais que duplicar estes números, no próximo biénio.”
Por essa razão vê-se o investimento que tem sido feito, temos procurado canalizar esse investimento numa melhor organização, em torno deste aspeto, mas também investimento em infraestrutura. Neste momento está a ser concluído, a criação de um piso totalmente dedicado à investigação clínica, onde o ecossistema dos ensaios clínicos, vai ser todo centralizado naquele espaço.
Os doentes que estão incluídos em ensaios clínicos vão ter num mesmo espaço a possibilidade de colherem as análises, que são mais exigentes, com mais colheita, vão poder fazer o tratamento endovenoso, em contexto de hospital de dia, com a prescrição da medicação do seu tratamento oral.
Também vão ter mais consultas, e em certos casos, nomeadamente em ensaios clínicos, numa fase mais precoce têm de ser testados em seres humanos, e “nós evoluímos nesse sentido.”
Todos os grandes centros internacionais, na Europa e nos Estados Unidos, quando têm um certo tipo de maturidade e de robustez na sua organização, é desenvolverem ensaios clínicos com medicamentos cada vez mais inovadores, é preciso criar condições para que esses medicamentos possam ser experimentados pela primeira vez em seres humanos.
“Temos a primeira unidade de ensaios clínicos de fase 1, em oncologia, criada no IPO do Porto em 2019, e está a expandir, vamos ter dentro “deste espaço”, uma área dedicada a ensaios clínicos de fase mais precoce, para conseguirmos antecipar o acesso a medicamentos inovadores, e que são altamente impactantes. “Conseguimos controlar por períodos mais prolongados, ganhos em termos de qualidade de vida dos doentes”.
Para além deste investimento muito focado na inovação e ensaios clínicos no IPO do Porto, estamos a falar também em investimento em equipamento tecnológico, na área do diagnóstico, na área do tratamento cirúrgico, está programado, há menos de um mês, o IPO do Porto, foi informado e celebrou um protocolo com o Estado Português, no sentido de renovar o seu parque tecnológico.
O investimento ronda os 20 milhões de euros, que serão para a renovação do parque tecnológico, com Ressonância Magnética, Tacs, Equipamento na Medicina Nuclear, aquisição de um Robôt Cirúrgico, e renovação de Equipamento de Radioterapia.
O IPO do Porto tem um parque de radioterapia de aceleradores lineares, radioterapia, o maior do país, e o maior da península Ibérica.
Brevemente ficará concluída a ampliação na área cirúrgica de ambulatório, onde está instalado um equipamento que é único no país, e é possível fazer durante o ato cirúrgico radioterapia intra-operatória. “Estamos a procurar que se mantenha, que cresça e seja cada vez mais diversificado, que esta característica do IPO do Porto”, é procurar estar na linha da frente na introdução de novas técnicas, novas tecnologias, novos medicamentos, sempre na expectativa de oferecer o melhor padrão de cuidados, procurando melhorar a qualidade da vida dos doentes.
A expectativa de vida
O IPO do Porto, criou uma estrutura que está a ser reconhecida a nível internacional, em termos de avaliação de qualidade de vida dos doentes que são submetidos a tratamentos, especialmente a tratamentos inovadores na prática clínica. “Estamos muito focados nos medicamentos inovadores. Esta é uma área que está em fase de investimento e desenvolvimento na instituição. Não só numa dimensão de investigação, mas também de avaliação concreta.
“Temos um gabinete de avaliação de qualidade de vida, uma área dedicada à avaliação em contexto do mundo real”, com vista a gerar o maior impacto dos medicamentos, e outros procedimentos, mas muito focado nos medicamentos inovadores. Não só numa questão de investigação, mas também de avaliação concreta.
O cancro que mais mata em Portugal
O cancro que mais mata em Portugal é o cancro do colorretal, e a nível mundial, é o cancro do pulmão. O pulmão na esmagadora maioria das vezes tem uma causa, e que é evitável, que é o tabaco. Se houvesse um consumo mais reduzido do seu consumo, seguramente seria evitável o cancro do pulmão.
O consumo do tabaco não tem apenas associado o cancro no pulmão, mas também outras doenças que lhes estão associadas, doenças cardiovasculares, e a doença pulmonar crónica.
Existem outros casos associados ao tabaco, o cancro da cabeça e do pescoço, o cancro do esófago, o cancro da bexiga, “há múltiplas neoplasias”, como o cancro do útero, que estão associados ao tabaco, e o pulmão é uma das principais causas como fator de risco associado ao consumo do mesmo.
O impacto financeiro também é importante, porque para tratar um doente de oncologia, o tratamento do cancro do pulmão pode estender a milhares de euros, mensais, para controlo de doença, “não estamos a falar de tratamentos, com o objetivo de curar a doença, mas sim de controlar a doença.” Felizmente por vezes há curas, “mas estamos a falar de vários milhares de euros por mês, durante anos em muitos casos. Também pelo que custa ao erário público, ao Sistema Nacional de Saúde, que é o serviço público que é de todos, e pelos impostos pagamos.
Os avanços que têm havido
Os dados mais recentes que dispomos, no Registo Oncológico Nacional, que neste momento está à responsabilidade do IPO do Porto, revelam as taxas de mortalidade dos principais cancros. Também há um relatório Europeu que contextualiza a Oncologia em Portugal no contexto Europeu.
“Algumas conclusões que lá estão referidas são muito relevantes, e não são más notícias, são boas notícias.” Refere o Presidente do IPO.
Portugal está melhor que a União Europeia, em termos de sobrevivência, após o diagnóstico da doença em vários cancros, o da mama, do cólon, do pulmão, diferentes tipos de cancro ginecológico. Tem havido uma melhoria em todos os tumores do cancro, do sangue também, os resultados que foram obtidos em termos de sobrevivência, Portugal está melhor que a média europeia.
O tratamento do cancro em Portugal fica mais barato do que a média europeia, e os dados de sobrevivência são melhores, isto é “algo que nos devemos orgulhar”, mas obviamente, “há quem olhe pelo copo meio cheio, mas há que olhar com o copo meio vazio. Há muita coisa para fazer e melhorar.”
É imperativo um sistema mais robusto, capaz de não só integrar a inovação que está a surgir a uma velocidade cada vez maior, mas a um custo muito elevado. Está a prever-se uma tensão de sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e do suporte financeiro que nos permite integrar e permitir o acesso aos medicamentos inovadores por parte da população e dos doentes oncológicos, quando se concretizam, o custo dos medicamentos está a subir mais de 10% por ano.
Desenvolvermos mais a pesquisa clínica, que pode atenuar um pouco este problema dos custos, só atenua, não só na sua essência, é preciso um modelo diferente de financiamento, e de partilha de risco, isto não é um problema só de Portugal, mas sim de todo o ocidente.
A exigência aos sistemas de saúde a nível internacional são cada vez maior. Os custos estão a crescer a uma velocidade demasiado rápida, e é necessário repensar os modelos de financiamento.
A questão dos rastreios
É muito importante para a sociedade e para o país, que exista um grande investimento na prevenção, e promoção de estilos de vida saudáveis, que evitam o aparecimento de doenças cardiovasculares, doenças oncológicas, mas também que haja outro pilar que é muito importante, que é o dos rastreios.
Encontrar um cancro que ainda está na sua fase inicial e desenvolver um tratamento com intenção curativa. Há uma relação muito direta entre a deteção precoce da doença e o tratamento em fase, também ela precoce da doença, a sobrevivência é muito superior, daquela em que é detetada numa fase muito mais avançada, sintomatologia apresentada, daí a importância dos rastreios.
Não só em Portugal, mas ao nível europeu, impera um investimento maior nos rastreios. Há rastreios do cancro da mama, do colorretal, e o cólon do útero, apesar de haver algumas assimetrias regionais. Há uma tendência maior de cobertura da população da região Norte do país, mas estes rastreios ocorrem em todo o país.
Existem mais três tipos de tumor, que estão a ser alvo de algumas iniciativas, e para serem incluídos nos programas de rastreios, são o cancro gástrico, do estômago, o cancro da próstata e o cancro do pulmão, em população considerada de risco.
Existem alguns projetos com os quais em alguns o IPO está envolvido, que são a implementação de projetos piloto, para se definir qual a melhor estratégia para o desenvolvimento, de um rastreio, uma intervenção de deteção mais precoce possível.
Esperamos que nos próximos anos, ou meses possa ser possível a implementação destes três rastreios a uma escala cada vez maior, e abranja todo o país.
No caso do cancro da mama, o exemplo de Portugal, é um exemplo que até é reconhecido do ponto de vista Internacional, como caso de sucesso. Não será indiferente a isso o papel da Liga Portuguesa contra o Cancro, que tem feito um trabalho importante, na implementação, e alargamento desse rastreio, e agora com cobertura nacional desse meio.
Nem tudo resulta de um rastreio ou de prevenção
“O cancro é uma doença que resulta numa alteração dos genes, uma desregulação dos genes, as células do indivíduo, por vezes são fatores externos e por vezes internos, muitos deles ainda são desconhecidos e desconhece-se a causa”. Explica o Doutor Júlio Oliveira. É difícil em alguns tipos de cancro conseguir desenvolver uma estratégia assertiva em termos de prevenção. Sabemos, que, do ponto de vista de prevenção, existe um conjunto de medidas e hábitos de desenvolver determinados tipos de cancro.
A prática de uma vida saudável e uma alimentação variada
O rastreio é sem dúvida uma arma muito importante, um instrumento disponível, que está à disposição na sociedade, acessível às pessoas, para poderem evitar uma doença, que se for identificada numa fase mais avançada pode ser fatal.
Quando estas doenças são detetadas numa fase mais precoce, pode vir a ter sucesso e pode até mesmo curar.
Quando falamos na palavra “cura” no cancro, “é preciso usar com muita prudência, mas que existe a probabilidade de a pessoa ficar curada é tanto maior quanto mais precoce for a deteção da doença”.
“A vida oncológica é muito impactante na vida das pessoas, na profissão, na vida familiar, nas dinâmicas familiares, que são optadas e muitas vezes foram muito disruptiva, e um centro oncológico deve conseguir compreender e dar apoio aos doentes nesta fase de maior fragilidade das suas vidas, e também apoio aos familiares.”
O Centro de Investigação do IPO tem cerca de 300 investigadores, profissionais que estão registados no Centro de Investigação do Porto, para além desses 300 profissionais, também há médicos e enfermeiros que participam em projetos de investigação. Neste Centro, incluem investigadores na área laboratorial, mas também alunos de Doutoramento, e de Mestrado. É um Centro com alguma dimensão. O IPO do Porto em termos de ensaios clínicos é o único centro de investigação do país. É muito completo e recebe doentes de todo o país e de fora dele, em alguns casos.
