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Mário Augusto é jornalista há quase 40 anos na televisão portuguesa. Viaja pelo mundo a fazer entrevistas às figuras mais ilustres do cinema, dentre outras. Com a sua experiência e mundividência, tem uma visão muito alargada sobre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Nesta entrevista faz-nos um esboço sobre a sua experiência na diáspora.
“A diáspora portuguesa no mundo sempre exerceu em mim um fascínio incrível.” Na sua família houve sempre emigrantes, avós e tios que estiveram na Venezuela, e outros no Canadá. Tem uma imagem romântica da sua infância quando recebia as prendinhas que vinham de lá. Havia pouca coisa diferente cá. Lembro-me que as primeiras sapatilhas ADIDAS vieram do Canadá. As primeiras T-shirts diferentes e coloridas com estampagens muito diferentes vieram de prenda da Venezuela.
“Mais tarde, talvez por esse fascínio, quando comecei a viajar, sempre tentei ter contacto com essas comunidades emigrantes e fiz vários trabalhos de jornalistas em que investiguei sobre essas rotas de emigração.” Afirma Mário Augusto.
Das recordações mais doces que “tenho da infância, é a de escrever e ler as cartas dos meus tios, à minha avó analfabeta. As descrições que faziam encantavam-me.”
Na qualidade de observador resultante dessas viagens tem uma visão sobre as comunidades “muito bem entrosada e respeitada”. Historicamente os portugueses onde chegaram marcaram a cultura e os costumes das povoações onde se integraram. Exemplo disso, “um caso que conheço bem e estudei exaustivamente, a comunidade portuguesa do Havai.”
Perguntamos-lhe que se tivesse que escolher um país para emigrar qual seria, ao que nos respondeu que ”houve períodos da minha vida que poderei experimentar , especialmente estados unidos, mas a vida e as experiências que me levaram em redor do mundo, deram-me esse prazer de experimentar por tempos curtos essas terras e ter um pouco dessa experiência.”
Vê o caso da emigração portuguesa, como sendo um “caso de sucesso”, muita determinação, integração e esforço para deixar marca de trabalho e vontade de vencer.
O país que mais o impressionou foi a comunidade portuguesa do Havai. “Conheço muitas comunidades emigrantes, mas a que mais me impressionou foi a dos portugueses nesse país. Foram para lá 27 mil no final do século XIX até 1913. E é talvez de todas as experiências de emigração as mais duras e resilientes. Hoje as marcas desses primeiros emigrantes no Havai fazem-se sentir em tudo o que se passa nas ilhas. “O que mais me espantou foi o orgulho dos descendentes nas suas raízes portuguesas ao ponto de ainda agora manterem ranchos e grupos etnográficos, grupos culturais e as tradições que os antepassados para lá levaram.” Afirma o Jornalista.
A nova onda de migração, “não tem nada a ver com a emigração dos anos 60/70”. Na sua opinião referiu-nos “que os tempos são outros, hoje o mundo é mais global, viaja-se imenso e as novas camadas de emigração são mãos de obra especializada e reconhecida internacionalmente.” O mundo hoje é diferente e “os portugueses são mais reconhecidos.”
Não se vê a trabalhar noutro país, e confessa que não troca por nada, considera-se “um privilegiado porque viajo muito, conheço outros países e faço o que faço com paixão, muita sorte e vontade de continuar a fazer este trabalho a que me dediquei há quase 40 anos.”