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Terça-feira - 11 Novembro 2025

Pilares de Liderança

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“You want to lead one day? Well, learn how to follow.”; eis o mote de Game of Thrones a propósito de liderança. E liderar é isso, perceber a anatomia do serviço, ser-se leal com ela, na mesma medida em que se é assertivo.

Em período próximo a autárquicas tal torna-se fundamental, porque sem liderança, torna-se impossível qualquer localidade ser organizada ou ser servida.

Que elementos definem então a liderança? A meu ver três grandes áreas, a saber o Conteúdo, a História e as Virtudes. A primeira porque torna claro e concreto o plano de líder e a sua Visão. A segunda porque cria o seu contexto e identificação criando Proximidade. E a terceira porque remete para as características que dão sentido à sua liderança, incrementando a Confiança nela.

Um corpo para ser sustentado e não ruir precisa de um esqueleto. E diria mais, quanto mais alto o corpo, mais importante é que a sua base seja sólida e que o seu cume seja concreto e direccionado. Como que imaginando uma pirâmide, o Conteúdo de uma candidatura deve ser robusto (a sua base), sem no entanto, ser vago, tendo como ápice da sua concretização medidas muitos concretas e exequíveis que visem resolver, melhorar ou minorar os problemas ou desafios que se lhe atravessam. Daí o topo de uma pirâmide ser um vértice, porque a Visão necessita de foco. Há muito programa eleitoral que se perde pelo facto de, querendo ser extenso e falaciosamente completo, procurar ser uma panaceia para todo o tipo de problemas, quando na verdade não se concentra, nem no que urge no momento, nem na rota a definir. Como escreveu o psicólogo canadiano Jordan Peterson em “12 rules for life” cabe ao Homem que quer liderar não ter a cegueira da tradição e do passado, do imutável, a defini-lo, mas não obstante, o respeitar das suas raízes ter a Visão para definir as prioridades para Hoje e resolver o Caos que as mudanças trazem. Na mitologia egípcia, basta lembrar o símbolo arquétipo do olho sagrado (de Hórus) no cume de um triângulo, representando precisamente a identificação desse tipo de Visão como fio condutor da civilização. Lembrar que Hórus, um salvador na cultura do Nilo, surge como filho de Osíris (a Tradição, a Ordem, a Rigidez/Cegueira) e de Ísis (Submundo, mistério, renascimento) para precisamente derrotar Seth (o Caos, Antipoder). É interessante perceber que já há milhares de anos existe essa directriz cultural de que liderar é aproveitar o caos para com invenção restabelecer novas ordens e renascermos com novos caminhos, mas sem esquecer as raízes. Hórus quando derrota Seth dá a sua visão ao pai, Osíris, pois esse último representa o próprio Egipto ao passo que Hórus representa a visão para o Povo e consequentes reformas. Como tal, em remate do ponto do Conteúdo/Visão importa estabelecer poucas metas para a pólis/vila que queremos servir, desde que as mesmas sejam concretas, realizáveis, bem planeadas e, sobretudo, sendo dirigidas a necessidades (caos) reais.

A visão política, isso é, a sua ideologia e plano concreto de ação, será infrutífera se não tiver um contexto ou História bem definidas, pois num mundo democrático é fundamental que a visão também inspire. Platão defendia que o motor da ação do Homem fosse o desejo ou o amor por um objeto – uma pessoa, uma causa – o qual permitiriam ao indivíduo ser transformado, embebendo em si mesmo as características do alvo que busca. A modos de exemplo, se alguém busca ser um candidato a uma causa que quer de facto resolver os problemas do seu cidadão, ele tomará as características do cidadão, tornando-se empático, isto é, próximo desse. A Proximidade portanto, é a pedra basilar da História de um político. Sem ela, não existe identificação entre eleito e eleitor. Num mundo em clara queda da organização Ocidental no qual as instituições democráticas não conseguem responder com velocidade e empatia às necessidades do cidadão comum, torna-se urgente a liderança política inspirar transparência. Como o filósofo e economista nipo-americano Francis Fukuyama escreveu em “Ordem Política e Decadência Política” a sociedade democrática só pode resistir se entre as instituições e os cidadãos que essas servem, houver uma máquina de transparência que não fomente expetativas irreais e que simultaneamente não seja demasiado burocrática para afastar o Cidadão do Político. Fomentar esse envolvimento do cidadão é extremamente necessário porque isso é o que valida a Proximidade. E isso faz dos movimentos de cidadãos um alicerce insubstituível em eleições como Autárquicas, seja como alternativa a movimentos populistas antipoder que nada mais são do que um Seth dos tempos modernos, e um binómio aliado/adversário extremamente útil face ao poder partidário tradicional que se tornou cego e afastado tal como Osíris. Filosofar, amar, fazer política e resolver problemas como o da mobilidade, o da atração de investimento, a crise da habitação, a densidade populacional ou falta dela, e o do reconhecimento do Poder e Transparência das instituições precisam, quer de visão, quer desse elemento de ser próximo, de ser alguém que alia expediente (vontade de fazer um caminho) com o reconhecimento da indigência (da necessidade, da pobreza) aliando a isso os conhecimentos técnicos necessários. Essa é a definição de Filosofia Platónica de paixão que está muito bem construída em “O que é a filosofia?” do Professor António de Castro Caeiro, e que na minha opinião deve perfilar a História de um bom movimento político. A saber, quer horizontal na medida em que é próximo e envolve cidadãos, e vertical na medida em que junta profissionais tecnicamente competentes e não dinastias de políticos locais.

Por fim, e não menos importante, uma boa candidatura deve além da visão e da proximidade juntar Virtudes, ou seja, um conjunto de elementos que nutra Confiança. Uma boa liderança tem de simultaneamente juntar as características do Rei-Filósofo de Platão com as das boas aventuranças do Sermão da Montanha de Cristo, isto é, embeber as 2 principais raízes da civilização ocidental, a helénica e a cristã. Um bom líder tem portanto de ser reconhecido por ser íntegro, não-egocêntrico, autodisciplinado e estudioso como instruiu Platão em “A República” . E tem de ter igualmente os elementos de bem aventurança como a humildade, a emotividade, a paciência, a justiça, a não cobrança, a franqueza, o diálogo e a coragem. Ser, enfim, o que Kissinger define como estadista, um indivíduo ou conjunto de indivíduos que para lá de visão e proximidade também inspiram confiança, não pelo seu espírito corporativista mas pela sua alma de sacrifício.

Dêem às autarquias e a qualquer organização de poder local o que de facto elas precisam, a legislação necessária para a sua autonomia e soberania tendo sempre em conta esses 3 pilares, sem esquecer que a participação cívica do cidadão tem de estar muito mais para lá do que apenas o voto.

Autor: Pedro Miguel Santos

Pedro Miguel Santos
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