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“Bruxelas é uma cidade muito fácil de se viver”, começa desta forma Nuno Quental a falar da sua experiência a trabalhar e viver fora de Portugal, mais concretamente na Bélgica. Vive fora de Portugal há 12 anos, onde viveu também noutro país. “Adorava poder voltar para Portugal”, mas considera que “o país não é para jovens”, antes pelo contrário “é contra os jovens”, e que estes têm de pagar o preço do legado dos mais antigos que não souberam tomar as rédeas do país.
Nuno Quental vive atualmente em Bruxelas, estudou no Porto, na Universidade Católica, na Escola Superior de Biotecnologia e tirou Engenharia do Ambiente. O ambiente “sempre foi a minha paixão desde sempre, desde criancinha que tem muito apego a tudo que se refira ao ambiente na sua generalidade”.
Foi um curso que lhe pareceu o mais adequado, “o meu paí era Engenheiro Químico, eu também sentia aquele interesse pelo mundo da Engenharia, e a Engenharia acabou por acontecer.”
Ainda ficou na Católica alguns anos, como professor a fazer vários estudos, não era investigação, mas sim Consultoria, com câmaras Municipais, que na altura era a Agenda XXI local. Tinha a ver com consequências que vieram da Cimeira do Ambiente do Rio de Janeiro. Eram processos participativos ao nível local, “foram trabalhos muito interessantes”, e após cerca de cinco anos a trabalhar decidiu tirar o doutoramento.
Tirou o doutoramento no Téncnico, na área do Território, a par do Ambiente, que está relacioanda, com o ordenamento do território, com o urbanismo.
Continuou a viver no Porto, mas o doutoramento foi tirado em Lisboa, embora a sua orientadora fosse de Guimarães, ia variando, às vezes ia a Lisboa, outras ia a Guimarães, outras ficava pelo Porto, “mas a minha carreira académica são a combinação das duas, a Engenharia do Ambiente e o Doutoramento.
Antes de ir para Bruxelas, foi para a Alemanha, em Bona. É uma cidade pequena que fica perto de Colónia, junto à Bélgica. “Estive lá uma ano e três meses.” “O trabalho era bom”, refere Nuno, mas era muito mal pago, não conseguia poupar dinheiro nenhum.
O salto para Bruxelas
Em conversa com um amigo surgiu uma oportunidade nas Instituições Europeias. Na altura era para substituir uma senhora que estava grávida, era urgente, enviou o Curriculo, ao chefe de unidade, e foi aceite.
O seu primeiro emprego nas Instituições Europeias foi noutra entidade ligada aos Sistemas de Inteligência de transporte, “fui em concurso normal, não conhecia ninguém, concorri, fui aceite e fiquei lá nove meses”. Mas o primeiro trabalho que fez em Bruxelas não gostava.
Depois, num jantar com um amigo, passado nove meses, ele falou-me nesta oportunidade, no Comité Económico Social. Que é uma instituição muito pouco conhecida das Instituições Europeias, que não tem muito peso, mas é semelhante ao congénere europeu do Comité Económico Social que existe em Portugal.
É um sítio agradável de se trabalhar. Fui aceite, a colega que veio do parto foi ocupar o seu lugar, e como já estava lá algum tempo lá fui para outros departamentos trabalhar, “na Assembleia iam surgindo oportunidades e lá fui ficando, e fiquei lá a trabalhar mais ou menos três anos. Foi sobretudo nas áreas dos transportes e na área das energias renováveis.”
Entretanto saí de lá, porque iam-me dando contratos de curto prazo, de três meses, e já começava a ficar um pouco farto, e desconfortável com aquela realidade. Depois houve uma vaga na Comissão Europeia, à qual concorri e foi aceite na Direção Geral de Investigação. Foi trabalhar na área da energia. Esteve lá uns “aninhos”, à volta de três anos. Depois disso, foi para onde se encontra hoje, uma Agência que é das Pequenas e Médias Empresas do Conselho Europeu de Inovação. “Comecei no European Innovation Council, a trabalhar com Startups.”
Como é trabalhar e viver em Bruxelas?
Não custou muito ir para Bruxelas, na a Alemanha custou mais. Começou logo com a barreira linguística, e foi uma coisa muito nova, não conhecia ninguém lá, e foi de fato muito mau. “O meu primeiro apartamento na Alemanha era minusculo, sem qualidade nenhuma, e isso também não ajudou e pesou.”
Depois quando fui para Bruxelas, já tinha lá um amigo. Conheci lá uma pessoa, é uma cidade muito internacional, é fácil conhecer portugueses, depois o francês é mais fácil de aprender do que o alemão.
Em Bruxelas, “lá fui reaprendendo o francês, também fiz cursos. Não é muito difícil integrar-se lá.
12 anos a viver fora de Portugal
Não se sente arrependido ter ido, mas se tivesse arranjado emprego em Portugal talvez não tivesse emigrado, “sou muito agarrado à minha família, não vou dizer que é fácil, vou muitas vezes a Portugal, a minha mãe está muito incapacitada fisicamente, procuro ir ajudá-la, faço isso com gosto, mas gasta-se também muito dinheiro, mas faço-o com gosto.”
Mas gosta da escolha que fez, não se arrepende do passo que deu. “Se eu consegui-se arranjar um trabalho interessante em Portugal, gostava de voltar para Portugal.”
É um país que critica muito, em muitos aspetos, “mas não deixa de ser o nosso país”. Sempre que vai a Portugal sente-se em casa. “E eu não sinto isso em mais lugar algum.”
Apelo a quem queira emigrar
A mensagem sobre Portugal, é que “é um país muito construído e virado para os mais idosos, e contra os jovens, contra os portugueses e em particular contra os jovens”. Se houver portugueses que queiram mudar de vida e ter melhores condições de vida penso que o devem fazer. Diz com muita mágoa, porque pensa que o país, podia estar mais evoluído, que crescesse mais e que os jovens construíssem o seu futuro lá. “E espero que um dia vá para Portugal para passar os conhecimentos aprendidos fora do país e que outras pessoas façam o mesmo.”