Da esquerda João Caixinha, o Ministro da Educação João Costa e a Embaixadora de Portugal Junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias.
O Jornal Comunidades esteve à conversa com João Caixinha, Coordenador dos Programas de Língua Portuguesa e Assuntos Educacionais nos Estados Unidos da América. E revelou-nos como a língua portuguesa se tem destacado naquele país, tendo já cerca de 20 mil alunos a aprender português no ensino básico e secundário, e outros 10 mil alunos nas Universidades Americanas.
“Comecei a minha atividade profissional como docente de Português em Portugal, formei-me em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa, na via educacional.”
Após o estágio, no antigo Liceu Pedro Nunes, começou a dar aulas de Português como qualquer outro profissional do ensino.
Passou por várias escolas e regiões de Portugal, até se aproximar de Sintra que é região “que aprecio, pois estudei lá, embora tenha nascido em Moçambique”. Nessa altura, sentiu a necessidade de ir para África, não só porque tinha nascido nesse continente, mas porque gostaria de contribuir de alguma forma.
Quando era jovem ouvia as histórias dos seus pais do que era África, mas não tinha esse conhecimento do que era essa realidade. Então pensou que sendo professor de Português poderia “contribuir para melhorar alguma coisa”.
Abriu um concurso para o Zimbabué, para um projeto que era uma parceria entre o Ministério da Educação e o antigo IPAD (Instituto Português para o Desenvolvimento), que nessa altura ainda não estava no Camões, I.P., eram dois institutos separados, e então “fui como professor cooperante”. Foi assim a primeira experiência num projeto de formação de professores do ensino da Língua Portuguesa.
Esse foi o primeiro contacto com uma realidade diferente, e depois foi alargando os seus horizontes, abraçou outras experiências, passando pela África do Sul, Moçambique, Espanha e Andorra, onde também lecionou como docente do ensino básico e secundário e/ou como docente ao abrigo de protocolos no ensino superior através do Camões, I.P. a ensinar a Língua e a Cultura Portuguesas, nessas dimensões de professor ou docente.
Dessa experiência adquirida, onde esteve na África do Sul (2002-2006), que foi o ultimo país, onde era docente de vários níveis de ensino, inclusivamente na Universidade de Stellenbosch, voltou para Portugal onde integrou a equipa do EPE (Ensino Português no Estrangeiro) no GAERI (Gabinete dos Assuntos Europeus e das Relações Internacionais), e trabalhava juntamente com o Gabinete do Secretário de Estado da Educação, e foi aí que soube da abertura deste concurso para os Estados Unidos, que na altura a tutela do EPE ainda estava com o Ministério da Educação, e havia este concurso para Consultor de Língua Portuguesa, junto do Departamento de Educação de Massachusetts.
No GAERI desempenhou funções técnico-pedagógicas, já trabalhava com vários países da rede de ensino do EPE, nomeadamente com os Estados Unidos, Canadá, Suíça, África do Sul e Austrália. Pensou que tinha o perfil indicado porque já tinha experiência de ensino e de trabalho em vários contextos internacionais.
Concurso para o Departamento de Educação de Massachussetts
Concorreu e ficou em primeiro lugar e foi para Massachusetts, mais precisamente para Boston, para trabalhar diretamente com o Departamento de Educação de Massachusetts, com as escolas do ensino público americanas onde se ensinava o Português, e, portanto, “cá cheguei nos finais de 2008, princípios de 2009, e já faz quase 15 anos que cá estou”.
Depois quando a tutela do EPE passou do Ministério da Educação para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Instituto Camões acolheu o ensino básico e secundário no EPE, e foi nessa transição que foi também integrado no Instituto Camões, “porque acabei por ficar como adjunto da coordenação do ensino, para além de acumular funções de consultor no Departamento de educação”. Os leques das suas responsabilidades alargaram, porque passou a prestar apoio às escolas comunitárias portuguesas, mais ligadas à Diáspora Portuguesa, e sobretudo na região de Massachusetts, que tem comunidade expressiva de origem portuguesa, sobretudo proveniente dos Açores, mas também continental. Existe uma estimativa de 279 mil portugueses em Massachusetts de acordo com os censos que se fizeram nos Estados Unidos.
Em 2010 passou a ser adjunto da coordenação, e havia uma coordenadora de ensino, e até 2017 continuou a exercer essas funções de adjunto. Na costa leste existiam outros estados que era preciso coordenar e assumiu a coordenação do ensino, a nível nacional nos EUA, e atualmente trabalha com dois adjuntos, um está a desempenhar funções em Newark, no estado de Nova Jérsia, e outro em São Francisco, na Califórnia, “temos uma equipa de três elementos, com uma estimativa de mais ou menos 20 mil alunos” que aprendem o nosso idioma no ensino básico e secundário. Só na região da Nova Inglaterra, que inclui três áreas consulares, Boston, New Bedford e Providence, estimam-se cerca de 10 mil alunos, e os outros 10 mil nas restantes áreas do País.
A importância e visibilidade do português
Desse universo de 20 mil alunos, 98% aprendem o Português nas escolas públicas americanas (incluindo as privadas e as católicas). Hoje em dia o Português já não é expressivo nas escolas da Diáspora (escolas portuguesas comunitárias), que têm cerca de 3 mil alunos no total. Estas escolas foram muito importantes nas décadas de 70, 80 e 90, mas depois foram perdendo alunos à medida que o Português se tornou uma língua integrada no currículo das escolas americanas, e isso despertou um interesse generalizado desde o cidadão americano a outras nacionalidades, que residem nos Estados Unidos e querem aprender o nosso idioma.
“Continuamos a apoiar (Camões, I.P. e Coordenação do Ensino) afincadamente as 50 escolas portuguesas comunitárias, com 3 mil alunos e são muito importantes, porque mantêm as fortes raízes à nossa cultura, estão sediadas em clubes, associações e igrejas portuguesas, com ranchos folclóricos, bandas filarmónicas e, portanto, com uma componente cultural ligada a Portugal muito forte. Incentivando também as crianças a conhecerem os nossos valores, património, história e cultura.
E são essas mesmas crianças ou jovens que frequentam a escola comunitária portuguesa da Diáspora, que vão prosseguir estudos no ensino secundário, porque estas escolas funcionam desde o pré-escolar até ao 9º ano de escolaridade, e após essa etapa têm de se inscrever em cursos no ensino integrado. O Camões, I.P. fez os programas para estas escolas comunitárias.
Ao longo destes últimos 10 anos, temos um crescimento considerável de alunos, e também nas Universidades onde cerca de 10 mil alunos estão a aprender Português, com a criação de 18 protocolos de cooperação com universidades americanas, e mais recentemente foram criadas, com o apoio da (FLAD), várias cátedras para investigação em língua Portuguesa em universidades americanas e estamos a propor mais cátedras, em parceria entre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e o Camões, I.P. para promover o ensino e a investigação. Esses protocolos possibilitam a vinda de docentes e professores de Portugal para as Universidades americanas e fomentam a mobilidade de estudantes e de professores. (Continua amanhã)