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Quinta-feira - 15 Maio 2025

“A minha carreira devo-a aos emigrantes”

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Era ainda miúdo e já andava com a concertina nos braços, mas nunca sonhou ou ambicionou, quer na infância quer na juventude, chegar onde chegou. Faz músicas para alegrar o povo e dos trocadilhos provoca grande animação. Confessa que gosta muito de tocar para os estudantes, assim que começa a música logo a cantam de fio a pavio. É sempre uma alegria tocar e cantar para os estudantes, conta-nos Quim Barreiros, numa entrevista, de quem empurra a reforma lá para longe. O seu novo álbum “A Tatuagem do Tomé” teve lançamento no passado mês de março, seguramente, mais um sucesso a contar com muitos outros de sua autoria.

Quando era pequeno e adolescente, não tinha ideia do que viria a ser, foi crescendo e aprimorando o seu desempenho em cada espetáculo, está no coração das pessoas. “Eu comecei a gravar em 1971”. Quando lançou o seu primeiro LP “Quim Barreiros-Acordeão”. Já lá vão 52 anos, “e as minhas cantigas estão espalhadas por todo o mundo português”. Quando se fala numa determinada música identifica-se Quim Barreiros.

O palco que mais gostou de atuar não foi revelado, dizendo que todo o palco é importante. “Somos todos iguais”, mas antigamente, a palavra que mais me “emocionava era a saudade, a nossa dança, o nosso Folclore, que eu lhes transmitia e portanto, não há palco melhor nem aqui, nem ali, nem acolá”. É igual, atuar na Austrália, África do Sul, qualquer palco que Quim Barreiros vai, agora mais comedido, porque a idade avança, “é sempre muita alegria, para mim, não há o melhor palco, nem a melhor festa”.

Quando pisou a primeira vez um palco no estrangeiro em 1971 numa digressão, – porque antigamente faziam-se várias digressões com vários artistas portugueses – e havia os cabeça de cartaz. Aqueles homens e mulheres que estavam “lá em cima, no topo da carreira”. Quando havia falta de cantores para preencher o programa, “lá ia eu para um desses palcos”. Ninguém conhecia o Quim Barreiros, “com o meu acordeãozinho”, com “a minha concertina”, recorda que a primeira atuação foi nos Estados Unidos, na comunidade americana.

Normalmente as atuações eram à sexta-feira, e nesse dia, o empresário procurava uma coletividade mais pequena.

Quando íamos a Newark, – Estado de New Jersey, Estados Unidos – ao sábado ou ao domingo à tarde, (porque é uma comunidade muito grande) os artistas, de uma maneira geral são muito solicitados. Fazendo um parênteses disse: “Eu devo a minha vida profissional aos emigrantes”!

Matar Saudades

Não tenho dúvida alguma “que consigo através da minha música matar as saudades dos portugueses lá fora”, se há “artista português que gostavam e gostam, eu sou um deles”. “Sou um artista que mais tocou e cantou para os portugueses”, nos últimos anos. Com a idade é que tem declinado atuações, mas não lhe faltam convites para ir à América, Canadá, Venezuela, Brasil e Austrália.

Não há uma colectividade nos Estados Unidos, seja da Costa Leste, seja da Costa Oeste, em “que eu já lá não estivesse”. E no Canadá, desde Montereal a Vancouver, passando por todas as associações, “eu já lá estive e mais que uma vez”.

Os países que foi com mais frequência foram os europeus, devido à distância. A Europa é mais fácil ir do que à América, e é ainda mais difícil ir ao Brasil, Canadá, Venezuela. Na Europa, a França, o Luxemburgo, a Suíça, a Alemanha, são comunidades onde o artista português vai com mais frequência.

É sempre tratado com muito carinho, cá dentro e lá fora por onde passa, “isso é resultado de eu sempre tratar bem as pessoas, por onde passei por qualquer colectividade eu deixei sempre a porta aberta. Deixei sempre ficar amigos, simpatia, e recordo com saudade terras e clubes que fui lá várias vezes”.

As coisas agora já não são como antes. Eu ia para a América e ao Canadá, em outubro e regressava em Junho do ano seguinte. Tinha sempre trabalho, à sexta, sábado e domingo. Desde Massachussets, Rhode Island, Nova Iorque, Pensilvania, Virginia, e na Costa Leste em toda a Califórnia, S. Joaquim, S. José, Los Angeles, por muitos lados, “toquei nessas coletividades todas”.

Eu ia para a América e ao Canadá, em outubro e regressava em Junho do ano seguinte. Tinha sempre trabalho, à sexta, sábado e domingo.

Mas hoje não é fácil. Mas não é só na América do Norte, é no Brasil, na Venezuela. Lá aparece um clube ou outro que quer festejar uma data. Mas não se compara com aquilo “que nós fazíamos”.

Que conselho daria a um emigrante?

“Se está bem no país que o acolheu, deixe-se estar, e nunca se esqueça de Portugal, e quando se reformar, que se “divida”, – há aqueles amigos meus que viveram há 30, 40, 50 anos no país que os acolheu e depois de um momento para o outro querem vir para Portugal, e a maioria das vezes falha. Mais vale um tempinho ali, e outro além…”. É o conselho que ele dá aos emigrantes, e que está aqui sempre de braços abertos.

Quim Barreiros ainda não pensou na reforma, tem de ser gradual. “Trabalho não falta, tenho 75 anos, e tenho de estar ciente da minha idade.”

As queimas das fitas ainda solicitam muito a presença e atuação de Quim Barreiros, confidenciou-nos que os estudantes sabem as cantigas de cor, porque cresceram com elas, e “quando vou atuar na queima das fitas é sempre muito fácil”. “Este público são das nossas aldeias, vilas, e cidades, e quando eu toco para eles, (desde que andavam na escola, no liceu, e quando chegam às universidades) eles já sabem as cantigas todas. Portanto, “são festas muito fáceis de fazer. Eu começo a cantar, e eles continuam como se fosse eu. A malta nova é um espetáculo! Eles são um espetáculo dentro do meu espetáculo. É uma frescura”.

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