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Sábado - 8 Fevereiro 2025

Projeto de empoderamento feminino “A Costela de Lilith” culmina na apresentação da peça de teatro comunitário “Depois da Bruma” na ilha das Flores

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De 27 a 29 de Setembro, às 20h00 e às 20h45, o Museu Municipal das Lajes das Flores recebe a apresentação da peça de teatro comunitário “Depois da Bruma”, resultado de um trabalho intensivo com diferentes mulheres da comunidade da Ilha das Flores, baseado no projeto “A Costela de Lilith”. Esta é uma produção da 9’ Circos — Associação de Artes Circenses dos Açores, com a co-produção do Coletivo Creativo das Flores, da Etxe Escola de Artes do Uruguai e do Teatro Umano.

Este espectáculo é baseado no livro “A costela de Lilith”, inspirado nas histórias individuais e colectivas das mulheres, com adaptação de textos de Gabriela Silva e Maria de Jesus Tomaz. A figura de Lilith tem sido controversa ao longo da história. Ela é, segundo os textos hebraicos, a primeira mulher… A que antecedeu a Eva, criada à imagem e semelhança de Deus e, portanto, igual em tudo ao seu companheiro Adão.

Lilith e Adão vivem no paraíso durante muito tempo, mas a relação entre eles rompe-se quando ela lhe pede para se deitar em cima dele. Deitar-se debaixo dele, com as asas dobradas, provoca-lhe fortes dores nas costas… No entanto, Adão sente o pedido como uma afronta e tenta subjugar Lilith à força. Adão não quer uma mulher companheira, quer uma mulher submissa.

Assim, Lilith não vê outra solução senão voar para longe do Éden em busca de um lugar melhor, onde possa ser ela própria. Lilith voou. Ela viveu nas rochas, nos montes e nas montanhas, no deserto e na floresta. Viveu em muitos sítios diferentes e, para sua surpresa, encontrou pessoas como ela: MULHERES. Mulheres com sangue como o dela. Mulheres que habitaram a terra com os mesmos anseios, com o mesmo sofrimento.

E durante muito tempo, Lilith observou-as agachada em silêncio. Mas uma noite, enquanto cavalgava através da bruma, as dúvidas envolveram-na. A dor apoderou-se dela. A confusão era demasiado forte. E a sua asa quebrou-se, e ela caiu numa ilha: um pedaço de terra perdido no mar, no pequeno ninho ínsula das Flores e chamou-lhe «Flor das Flores».

Quando a terra a absorveu, também ela se absorveu nela. Derreteu-se no topo de uma colina, e nela depositou o seu rosto, os seus seios e o seu útero. Nela chorou. Isolada, sozinha, sem asas, Lilith esconde-se na ilha. A noite torna-se na sua maior aliada, e as vozes daquelas que partilham o seu sangue envolvem-na e protegem-na. Na ilha, Lilith percebe quem são elas: mil e uma mulheres que habitam o seu EU.

Mulheres sós como ela que, dentro de si, choravam prantos de sal e de medo. Mulheres que sabiam que o horizonte não acabava ali. Protegida e apoiada pelas vozes de mulheres como ela, Lilith encontra a coragem para atravessar a bruma, para a enfrentar, para encontrar a sua asa e para recuperar a sua voz e a sua força. Os versos que brotam da natureza, as palavras escondidas no quotidiano, as tragédias vividas por outras como ela fá-la-ão renascer.

A rapariga, a dama e a velha. Três estados que se complementam e se unem através do parto, dos conhecimentos herdados, dos conhecimentos adquiridos e aqueles transmitidos. Lilith encontra a irmandade, e nela, e graças a elas, consegue curar as suas asas. É tempo de viajar. É preciso voltar ao tempo da natureza. Esquecer é impossível. Irmã, dá-me a tua mão para que o voo volte a descolar com mais força.

Jornal Comunidades Lusófonas
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