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Domingo - 16 Fevereiro 2025

Provedora Sta. Casa Misericórdia de Paris: “A minha família sempre respondeu aos apelos”, ajudar ao próximo está-lhe no ADN

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O Jornal Comunidades esteve a conversar com Ilda Nunes, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Paris, na qual nos fez um retrato sobre esta Instituição, que tem por objetivo ajudar portugueses (e não só), que se encontram em situação financeira menos favorável. Apesar das dificuldades também dão apoio no preenchimento de documentação importante e todos os demais apoios que as pessoas necessitem. Para Ilda Nunes ajudar o próximo é muito natural, pois a sua família sempre ajudou pessoas, “Em nossa casa quem pedia ajuda nunca saía de mãos a abanar”.

A Santa Casa da Misericórdia de Paris foi criada em 1994, porque o Cônsul-Geral de Portugal em Paris na época, Dr. Tadeu Soares, se apercebeu que os Portugueses, que tinham emigrado nos anos 60, chegavam à idade da reforma. Muitos tinham problemas para fazer os pedidos da mesma. Alguns não tinham descontado em Portugal, e mesmo se tinham descontado em França nem sempre tinham os justificativos. A situação estava mesmo muito complicada. O Cônsul-geral com um grupo de pessoas que se preocupavam com a situação desses compatriotas, decidiram criar uma Santa Casa da Misericórdia em Paris.

A SCM de Paris foi criada há quase 30 anos no dia 13 de junho de 1994, sendo o Santo António, o seu Padroeiro.
“A nossa ação dirige-se essencialmente para pessoas portuguesas, mas não só. A grande maioria são famílias, cujo os agregados familiares podem ter entre 2 e por vezes até dez membros, os quais encontram grandes dificuldades financeiras entre outras”, refere a Provedora.

As necessidades vão desde a habitação, ajuda alimentar, roupas, tradução de documentos, acompanhamento a hospitais, visita a pessoas isoladas, apoio psicológico, redação de cartas a familiares ou administrações. “As dificuldades são uma constante. Para responder a esses pedidos nós temos uma componente Social 24 horas por dia, sete dias por semana, por telefone, e sempre que é necessário fazemos marcações, e as pessoas são recebidas, em geral, por dois membros benévolos da misericórdia, para tentar resolver o problema».

Também têm uma voluntária advogada, que dá apoio jurídico cada vez que é necessário. A Misericórdia de Paris dá apoio a cerca de 3 mil famílias.

Todo o trabalho realizado atualmente pela Misericórdia de Paris é realizado por benévolos. Quando é possível financeiramente contratam um assalariado. Mas, quando os fundos diminuem não é possível realizar essa despesa. “Nós não temos património, nem rendimentos e é difícil manter essa pessoa contratada. A DGACCP (Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas que depende do Ministério dos Negócios Estrangeiro), atribui alguns subsídios relativos a atividades pontuais. No entanto, não podem ser utilizados para as despesas correntes».

A SCM de Paris é regida por uma lei Francesa de 1901, tal como qualquer outra associação, seja ela de lazer, cultural ou desportiva (…).

Na época natalícia a SCMP também envia um vale de 50€ aos detidos. Há uns anos atrás, o Ministério dos Negócios Estrangeiros contribuía com metade e a Santa Casa doava a outra metade. Deixou de ser o caso há vários anos. Mas a SCM de Paris continuou a enviar esse montante, que permite a essas pessoas poderem comprar pasta dos dentes, escova e etc.

Muitos reclusos mantêm um contacto epistolar com a SCMP. Por vezes “escrevem-nos para pedir roupa, ténis, selos, envelopes”(…) é quase uma ajuda psicológica através da escrita de cartas, “eles escrevem-nos e nós também retribuímos”.

Também ajudamos as pessoas hospitalizadas, idosas ou isoladas, por vezes não têm família ou então os familiares desinteressaram-se por elas, ou vivem longe.

«No que diz respeito à ajuda alimentar a SCM de Paris faz uma recolha de produtos cada ano na época do Natal. Mas, este ano conseguimos fazer também uma na época da Páscoa, pois as prateleiras estavam a ficar vazias». No entanto, o impacto na Páscoa não foi o mesmo que no Natal só receberam algumas ajudas de associações e paróquias.

“Temos também várias ações programadas: As Jornadas Sociais que vão decorrer do 9 a 11 de junho, a ação principal é uma jornada no Consulado-Geral de Portugal em Paris”, este ano o tema é: “Pandemia, Guerra e Crise de poder de compra, devido ao impacto da Guerra e da Pandemia”.

Em setembro será realizada a Assembleia-Geral. Dia 1 de outubro será realizado o evento «Correr para a Misericórdia». Este evento tem como objetivo angariar fundos. Mas, nos três últimos anos de pandemia foi complicado realizar essas ações com participação suficiente. No ano passado a corrida foi realizada. Infelizmente, não houve participação suficiente. Foi mais um encontro, uma festa com artistas, um reativar da ação, mas quase que se gastou mais do que o se conseguiu angariar.

No dia 1º de novembro serão homenageados os defuntos sepultados no Jazigo da SCM de Paris em Enghien-les-Bains.

No dia 11 de novembro terá lugar o «Dia nacional da Misericórdia em França», (pela primeira vez), cujo o objetivo é angariar fundos.

Este ano o jantar de Gala solidário, terá lugar no dia 18 de novembro. O objetivo também é angariar fundos. Há artistas que doam quadros, esculturas; cantores que vêm sem receberem cachet (…)

No dia 15 de junho haverá uma reunião no Consulado-Geral de Portugal em Bordéus, para analisar a situação nessa região porque também aí ajudam famílias. “Somos a Santa Casa de Misericórdia de Paris, porque foi em Paris que foi criada. No entanto, a nossa ação é em todo o território francês. Enviamos alimentos para Bordéus, Limoges, Lyon, e Marselha», ajudam várias famílias espalhadas pelo território francês.

A Provedora da Santa Casa é professora interprete de conferência, e tradutora. “Vim de miúda para França, éramos dois irmãos. O meu irmão teve que sair de Portugal por motivos políticos. Em seguida o meu pai veio vê-lo a Paris e acabou por ficar também. Eu e a minha mãe viemos mais tarde”. São emigrantes um pouco fora do contexto dos habituais emigrantes que saíram por motivos económicos, “Os meus pais tinham comércios, e não se enquadram no paradigma do emigrante tradicional”. Mas na família “respondemos sempre ao apelo de solidariedade», são uma família que sempre foram muitos dados ao próximo, por exemplo “as pessoas que vinham bater à nossa porta pedir ajuda, nunca as deixávamos sair sem nada”. “Os meus pais sempre foram muito solidários”,

A Santa Casa “contactou-me, aquando da sua fundação. Mas, eu na época estava muito ocupada com os estudos e a ocupar-me das minhas duas filhas. Trabalhava como interprete num hospital da região parisiense e em serviços sociais, mas sempre estive ligada a associações. Fui Presidente da Associação Mémoire Vive/Memória Viva, que trabalha sobre a memória e a história da emigração portuguesa em França. Quando cessei essa função nomearam-me Presidente Honorária”. Entrou no Conselho Administrativo da SCM de Paris em 2011, como Secretária-geral. Em 2020 aceita a função de Provedora, com a vontade de melhorar a situação da Santa Casa de Paris, desde 2020, há três anos. E em breve vai haver eleições, novamente.

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