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Falar de Ruy de Carvalho é um constante exercício mental, são tantos os trabalhos realizados ao longo de mais de 81 anos até aos dias de hoje, que a nossa cabeça rodopia. Ainda se encontra a trabalhar com os seus 96 anos, que faz com que o artista se confunda com o homem e vice-versa. Começou como amador aos 15, 16 anos, mas foi aos 20 que deu o seu pontapé de partida, – como profissional – para o mundo da arte de representar na sua primeira peça de teatro “Rapazes de Hoje”, de 1947.
Trabalhou em muitas peças, “foi uma carreira longa, trabalhei em quase todos os teatros, em quase todo o país, fiz digressões, fiz teatro do Povo”, revela Ruy de Carvalho.
Começou muito cedo, como amador, e aos vinte “estreei-me como profissional”. Como qualquer primeira experiência ou a primeira vez “faz-nos um pouco de nervoso miudinho, e sobretudo há muito respeito pelo nosso trabalho, quando se gosta daquilo que se faz. Que é o que eu faço, respeito muito o meu trabalho, e especialmente para quem trabalho, o público, que é o nosso juiz, o público é o nosso juiz”, reforça o ator.
Tinha irmãos atores e “passou-me pela cabeça ser ator, faltava saber se tinha jeito. Era necessário ter-se jeito, se não se tem, não vale a pena. Mas acha que tinha um pouco de jeito. E penso que valeu a pena.” Disse o Artista de duas mão cheias de talento e de uma simplicidade admirável, – a fama não lhe subiu à cabeça.
“Conheci um homem do teatro que era o Ribeirinho, do Pai Tirano, é o outro ator que trabalhou com o Vasco Santana. Era um mestre que me ensinou muita coisa, a parte prática e teórica do teatro. Aprendi muito, tentar servir melhor as pessoas que me queriam ouvir e ver.” Gosta de todas as peças que fez e faz, considera as peças como filhos, mas a peça que mais gostou de fazer foi com José Cardoso Pires, chamava-se “O Render dos Heróis”, no Teatro Moderno de Lisboa”. Era uma Dramaturgia, de José Cardoso Pires e Fernando Gusmão, nos anos 60.
Vida e Obra: “Tenho prémios de crítica, tenho prémios de televisão”
Fico fascinada por estar a entrevistar o senhor das artes, uma voz calma e serena, mas muito segura do que diz, relata a sua vida e obra. Para nos contar em prosa a sua vida, sempre ou quase sempre a trabalhar, e fá-lo com amor e dedicação, pois tem um amor à arte de representar como tinha pela sua companheira de viagem nesta vida.
Há muitos anos atrás estava com um amigo e viu uma mulher muito bonita, e Ruy de Carvalho diz ao seu amigo: “Aquela mulher bonita que estás a ver ali vai ser a mãe dos meus filhos”, e foi, ainda Ruy era novo e sonhador, “essa mulher continua aqui comigo”, confessou-nos, já partiu há 16 anos, mas continua aqui ao meu lado. – Risos de ternura, e de quem ama – “costumo dizer em tom de brincadeira: sou um viúvo alegre”.
Planos para o futuro, “vou continuar a trabalhar até quando me deixarem estar. A próxima peça que vou fazer é no dia 8 de julho, no Mosteiro da Batalha”.
Quem é o Ruy de Carvalho?
Ruy de Carvalho, fala de si na terceira pessoa: “Pensa que é honesto, e quer servir com honestidade todos aqueles que me querem ver, esse é o Ruy de Carvalho, que trabalha por amor àquilo que faz”.
Perguntei-lhe se nunca pensou emigrar quando era mais novo, para poder atingir outros patamares a nível internacional, mas prontamente disse: Se emigrasse seria sempre como português, não queria emigrar, não queria sair de Portugal.
“Tentaram que eu emigrasse mas eu nunca quis sair, trabalhei noutros países mas nunca como emigrante”.
“Gosto muito dos nossos emigrantes e tenho uma palavrinha de felicidades para todos eles, gosto muito deles, e que consigam realizar os sonhos, e que honrem nome do nosso o país”. São os votos de Ruy de Carvalho. Uma vida longa, cheia de trabalho e de muitos prémios honoríficos, são “sete ao todo”, de quem dizia não se lembrar, referiu um a um, os prémios honoríficos que recebeu. Tem uma memória muito viva, talvez seja esse o segredo da sua longevidade, exercitar constantemente o cérebro.
Recebeu Prémios de Imprensa para o Teatro (1962, 1981, 1982, 1986); Prémios de Imprensa para o cinema (1965, 1966, 1971); Prémios da Crítica Especializada (1961, 1962, 1964, 1965, 1981); foi nomeado, em 1987, para o Prémio Garrett da Secretaria de Estado da Cultura; em 1998, é galardoado com o Globo de Ouro para a Personalidade do ano; foi galardoado com o Prémio Luís de Camões da Universidade Lusíada de Lisboa, o Prémio Byssainha da Fundação Bissaya Barreto; em 1999, é galardoado com o Globo de Ouro de Melhor Ator.
Prémios Honoríficos
Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (9 de junho de 1993)
Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (27 de fevereiro de 1998)
Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (26 de março de 2010)
Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (30 de outubro de 2012
Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1 de março de 2017)
Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1 de março de 2022):
Medalha de Mérito Cultural (1990)
Prémio Carreira (1998)
Personalidade do Ano em Teatro (1999)
Melhor Actor de Ficção e Comédia (Televisão) (2002)
Prémio Sophia (2017)
Prémio da Lusofonia – Prémio Carreira (2017)
Estes foram alguns dos prémios que recebeu, no que diz respeito às peças no teatro, televisão e cinema não sabe quantas foram, mas foram muitas. Mas nem Ruy de Carvalho sabe dizer quantas foram, talvez umas trezentas e tal peças. Neste momento está a fazer uma peça “A Ratoeira”, e uma peça sobre a sua vida, “Ruy – A história devida”.