A portuguesa Dora Sampaio tem feito um percurso académico e profissional fora de Portugal. Não há oportunidades de conseguir uma carreira na área em que se formou e teve que ir para o estrangeiro conseguir um emprego mais estável do que em Portugal. A vida cá “é boa, há os amigos e a família, mas quando se pensa na carreira tudo muda.”
Dora Sampaio, saiu de Portugal vai fazer este ano dez anos, em 2013. “A minha formação é nas áreas das migrações, isso gerou a curiosidade de ir para fora, a na altura quando saí há dez anos, saí para ir prosseguir estudos, e na altura consegui uma bolsa da FCT, (Fundação para a Ciência e Tecnologia)”, para seguir estudos de Doutoramento, e na altura, na Universidade Sussex, no Reino Unido, em Brighton, no sul da Inglaterra.
“Foi nesse contexto na altura que saí de Portugal. A minha ideia era explorar um bocadinho como era fora de Portugal, não tinha a ideia de ficar fora do país tanto tempo, mas foi com a ideia dos estudos “que saí, abrir horizontes, e ver outras formas de trabalhar”.
“Depois de estar em Inglaterra, já não me via a estar em Portugal, pois habituamo-nos a fazer as coisas doutra maneira, este bichinho da emigração fica connosco.” Durante o período em Inglaterra, lecionou na Universidade de Sussex, e entretanto surgiu uma oportunidade de trabalho na Alemanha. E quando saiu da Inglaterra foi para a Alemanha, na altura, “eu via algumas possibilidades em Portugal, mas na verdade, eu terminei o Doutoramento em início de 2018, e Portugal estava ainda um pouco em baixo, reflexo dos anos da ajuda externa e uma uma crise muito agravada.”
Formada em Geografia Humana, Estudos de Migrações pela Universidade de Lisboa, e em Portugal não há muitas possibilidades, mas uma delas, (voltando atrás, antes de sair de Portugal, trabalhava como Assistente de investigação, na Universidade de Lisboa), e ainda hoje em Portugal, em termos de pretender ficar na Universidade a lecionar, “as oportunidades são muito reduzidas. E na altura não havia grandes possibilidades de voltar.” Refere a Professora.
Seguiu para a Alemanha, e da Alemanha foi para a Holanda, está em Utrecht, não fica longe de Amesterdão, (30 minutos). Dá aulas numa Universidade de Utrecht, uma das universidades com maior número de estudantes no país, e muitos estudantes internacionais também. “Eu leciono e trabalho em projetos de investigação, nomeadamente na área das migrações, envelhecimento e famílias transnacionais. Dou aulas em Inglês, estou a aprender Holandês, mas não sou fluente ainda, e como o corpo estudantil é muito diverso, inclusivamente tenho estudantes de Portugal, as aulas, o mestrado é todo ele em Inglês, e até mesmo ao nível da licenciatura, alguns cursos, que são em Inglês. Estou em Utrecht mais ou menos há um ano e meio.”
Planos de Regressar
“A ideia de regressar em algum momento está lá, mas o meu companheiro não é português, e isso adiciona ainda mais um elemento de complexidade, regressar a Portugal também significa ele ter que aprender a língua, e na Holanda encontramos um país ‘neutro’ para os dois”. Tem planos de regressar, dentro de uma década, se calhar, metade do tempo em Portugal e outra metade fora de Portugal, mas “o que eu observo é que as possibilidades que eu vejo no estrangeiro é que eu duvido muito que eu tivesse conseguido em Portugal”. Numa década terminou um doutoramento, fez um pós-doutoramento, e teve oportunidade de trabalhar com equipas no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha, e conseguiu um trabalho que é permanente e lhe permite desenvolver projetos para o futuro. “Eu penso que em Portugal, muito dificilmente, – e falando com colegas que por várias razões ficaram em Portugal, é difícil.
Há outras coisas que em Portugal tem, estar com a família e amigos. Mas em termos de progressão profissional, fora de Portugal, as coisas acontecem a outro ritmo.
Como é que os Holandeses vêm os imigrantes
“Vou voltar um bocadinho atrás para responder à pergunta. Quando estava na Inglaterra, estava a fazer o Doutoramento em 2016, quando o referendo do Brexit aconteceu, e vi o processo a desencadear-se depois, todo o processo era implementar a ideia do Brexit. Apesar de estar no sul da Inglaterra, na cidade de Brighton, que é bastante liberal e muito aberta à diversidade, a verdade é que se observou como o país mudou e a sua abordagem relativamente aos imigrantes.” Observou um ressentimento generalizado nos media, “toda a gente a vir para aqui, não precisamos de mais imigrantes”, referiam as manchetes dos jornais. A Holanda, é muito aberta a profissionais estrangeiros, mas também “sinto, nos últimos meses, que se tem vindo a modificar um pouco a narrativa, pelo menos nos jornais, a minha análise é baseada no que falo com colegas, e o que aparece nos media. Tenho a sensação que a Holanda está a ficar mais relutante em receber imigrantes. A narrativa sobre imigração na Holanda centra-se mais em torno da chegada e acolhimento de refugiados e as políticas são mais de conservadorismo liberal.” Porque a chegada de refugiados é mais evidente do que em Portugal, fala-se mais sobre esta questão. Mais recentemente, tem havido maior discussão no sentido de limitar o número de estrangeiros no país, mas com o envelhecimento da população holandesa, a imigração é um fator muito importante para o país.