No menu items!
10 C
Vila Nova de Gaia
Quinta-feira - 23 Janeiro 2025

Votos e Cidadãos

Destaques
O voto mais do que uma expressão de um direito, deve ser o ponto de começo da expressão da responsabilidade de um cidadão. É dever do cidadão estar ciente do que vota porque isso é, na maior parte das vezes, a sua principal ou até mesmo a única ação política.
Embora algum tempo falte para a próxima eleição, tal tema é tão basilar que o escolho para abordar nesta época de votos de ano novo.
A democracia, a ‘kratia’ ou poder que emana do “demos”, isto é, das gentes ou do povo, falha, no sentido de que um poder implica também responsabilidade. Esse poder coletivo pode inclusive ser pernicioso no momento em que o povo, mais do que tomar uma decisão individual e pessoal, substitui essa liberdade em troca de uma vontade coletiva fixada na moda, na perceção e na revolta, e não num plano ou ideia para uma polis futura. Quando um poder não reflete um plano esse torna-se aleatório e em espuma dos tempos, que tal como a espuma das ondas desaparece face à força das águas. Isto é, o governo do povo, se esse não tiver identificado com os reais problemas que existem, será sempre um governo que procurará bodes expiatórios e inquisições para o azar que lhe será destinado. A kratia do povo em muito se assemelha a outra palavra que provém de “demos” – daemon – e que significa demónio ou deus, ou simplesmente sorte, ou na nossa língua, Fado. E de sorte nenhum sistema político pode sobreviver.
Por isso mesmo, é que acho o ato de votar algo muito importante mas que é apenas o início de um papel maior do cidadão. E como tal não deve ser aleatório, nem sequer monotemático, porque mais vale um abstencionista consciente do que uma pobre ceifeira votante (em alusão a Fernando Pessoa).
O cidadão só pode ser cidadão se tiver ciente, não dos seus problemas, mas dos problemas que a História recente nos mostra que serão decisivos para a nossa nação.
E não, não é o Martim Moniz, ou um problema de imigração ou a possibilidade de um estado policial, o nosso grande divisor de águas a pensar. Basta olhar para o resto do país para entender que isso é apenas espuma e discussão irrelevante.
E escrevo mais, que mais do que pensarmos em segurança, redistribuição de riqueza, em listas de espera, ou em epifenómenos, por mais nobres ou não que o sejam, devíamos antes ser capazes de entender que não se pode construir pirâmides sem antes criar bases, e isso só é possível, apenas com reformas que respondam às principais mudanças de Portugal e do mundo.
Como tal, um verdadeiro político e um povo que exerça a sua kratia terão antes de apresentar soluções para um Portugal com mais presença no interior, com mecanismos ou projetos para distribuir água em tempos de seca, no que cortar noutras áreas para ter um SNS sustentável, num modo de energia barato que permita o reforço da sua balança  comercial sem aventurismos da moda climática, no seu reavivamento industrial com o devido aporte digital, numa educação menos padrão e que permita maior liberdade de escolha a pais e alunos, etc.

Esses são alguns pontos e mais poderão ser discutidos a quem quiser ser de facto, primeiro, cidadão, e depois político.

Porque o que distingue um político é a capacidade de decidir já, e não esperar décadas como a espera pelo um aeroporto prometido ainda por Marcelo Caetano. Falta em Portugal isso, mais cidadãos e menos daemons. 

Erige-te e sê cidadão, hoje, é o que Te espero.

Autor: Pedro Miguel Santos

Pedro Miguel Santos
Ver Também

EXCLUSIVO: AICP – Academia Internacional da Cultura Portuguesa, às portas do 60º aniversário

O Jornal Comunidades Lusófonas esteve à fala com a Presidente Maria Regina Mongiardim da (AICP), Academia Internacional da Cultura...