Estivemos à fala com o Diretor Nacional de Tecnologia da Microsoft Portugal, Manuel Dias, cuja missão, acima de tudo, é olhar para o projeto estratégico de inovação e suportar esses projetos e visões e transformá-los em parcerias como é o caso com o Governo de Cabo Verde, “que para nós não é apenas um projeto estratégico, nem mais um projeto, ou apenas mais uma digitalização, é olhar para o futuro de Cabo Verde e perceber quais são os pilares estratégicos onde nós nos podemos apoiar”.
Não se faz tecnologia por si só, faz-se com pessoas, com visão, “mas acreditamos” muito estrategicamente e não só na Microsoft Portugal, e na Microsoft Corporate, Mundial, que este é um dos casos de referência a nível internacional.
Neste programa de desenvolvimento digital em Cabo Verde, o país é o primeiro do continente africano a beneficiar deste programa e tecnologia. Vai ser um “copilot”, que é uma ferramenta de inteligência artificial estratégica para a Microsoft, e que visa acima de tudo, dotar as pessoas de muito mais capacidade operacional de produtividade, e Cabo Verde é o primeiro país a disponibilizar desse “copilot” para todos os dirigentes da administração pública. A transformação da administração pública vai ser mais uma referência a nível mundial, é um projeto que “muito nos orgulha esta parceria”. Não é de agora, como anunciou o Secretário de Estado de Cabo Verde. Foi assinado em 2023, na Assembleia Geral das Nações Unidas, e o Diretor da Microsoft Portugal refere que “não é um pequeno projeto, é acima de tudo, e de realçar esta parceria.”
Vamos a tempo de dominar a inteligência artificial
“Somos muito otimistas quanto ao desenvolvimento da tecnologia e a nossa missão, na verdade, é democratizar o acesso à tecnologia enquanto amplificador das capacidades humanas.” Pode-se extrapolar, mas no final do dia aquilo que “queremos enquanto humanos é usar a tecnologia para sermos muito mais produtivos, muito mais criativos”, fazer tarefas de maior valor acrescentado e deixar as tarefas de menor valor acrescentado para as máquinas. E tem sido sempre assim ao longo das várias revoluções tecnológicas, e sempre que olhamos para o imprevisto, temos sempre essa perspetiva que é relevante.”
É também importante quando se desenvolve tecnologia para as pessoas. É garantir que ela é usada de forma responsável. É garantir que “temos o controlo e a regulação “in place” para que as pessoas possam usar de forma confiável, segura, com privacidade, inclusão e com transparência”. É aquilo que “tentamos colocar todos os dias nos produtos que trazemos para o mercado, nas soluções.”
Máquinas que criam máquinas, futurologia ou realidade?!
Para o Diretor da Microsoft Portugal considera que há muito “futurismo” nesse campo. “O mais importante é como é que passamos do hype para o valor de negócios para as pessoas, para as empresas, e para a administração pública. E é por isso que as competências, que a parte dos skilling serem tão relevantes, a tecnologia só tem sucesso, se as pessoas a souberem usar de forma responsável, eficiente, e produtiva. E é isso que nós ambicionamos para essa área.” Reforça o Diretor.
Foi colocado a questão para o caso português, qual é o patamar, em termos de tecnologia, que se encontram os nossos técnicos, Engenheiros e outros profissionais ligados às tecnologias, e se os seus conhecimentos são suficientes em Portugal.
O Diretor foi perentório na resposta dizendo que “vivemos numa guerra global de talento, seja em Portugal, seja em CaboVerde, e hoje em dia muito daquilo “que estamos a ver em Portugal trata-se, por um lado, de retenção dos melhores talentos.” Há muito talento e muito bom, sem dúvida alguma, “mas quando nos comparamos com outros países na Europa, estamos muito atrás no número de licenciados em tecnologias de informação”. Há desafios a fazer. As competências que temos, considera-as muito boas. E a prova disso são os muitos unicórnios e empresas portuguesas de sucesso lá fora.
Mas é preciso reter esse talento e trazê-lo para Portugal e isso também é um desafio. A Microsoft está a trilhar esse caminho, aquilo que “nós estamos a desenvolver em Portugal, as várias iniciativas também governamentais e parcerias que a Microsoft estabelece é também nesse sentido, de apoiar o ecossistema de empreendedorismo. Ainda ontem anunciámos em Portugal, a Inovation Factory, em parceria com a Unicorn Factory Lisboa.” Reforça. Apoiada pelo Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, uma parceria estratégica no sentido de acelerar a adoção de inteligência artificial nos vários setores de Portugal e, portanto, essa é uma das áreas.
Outra das áreas “interessantes”, semelhante ao que Cabo Verde vai fazer, é a pareceria que temos com o INA com IA Business School para capacitar líderes da Administração pública que têm que tomar decisões, neste novo mundo inteligência artificial e, portanto, “é um caminho que se está a fazer.” É uma “maratona”. Como “costumo dizer, os outros países também estão a fazer, para nós conseguirmos reter talento e atrair talento, temos que fazer à mesma velocidade ou às vezes mais rápido, mas penso que estamos nesse caminho.”
Uma Microsoft à portuguesa
Manuel Dias considera que temos muito capital, e muito bom. “Não sei se é uma Microsoft da dimensão que está há 34 anos em Portugal, mas é impressionante ver que começaram com algumas centenas de pessoas, e hoje já contamos com mais de 1700 colaboradores em Portugal, com mais de 60 nacionalidades a trabalhar a partir do cantinho Ibérico, com um centro de suporte para todo o mundo” e, considera “que temos que apostar no capital humano.” Mas também há outros fatores, como a estabilidade democrática no país, e as infraestruturas. Há qualidade de vida, “temos o clima, as nossas universidades que são muito boas.” Os recursos às próprias universidades “são muito boas e este Web Summit é a prova daquilo que nós conseguimos fazer. De forma continuada, não só cá dentro, mas também atrair pessoas de fora.”
Só em Lisboa trabalham na Microsoft mais de 1700 pessoas, mas muitas destas pessoas não são portuguesas, algumas estão a fazer trabalho remoto. “Temos americanos que vêm para Portugal e que trabalham remotamente para a América, para a Microsoft Corporate, é bastante diverso hoje em dia.”
Uma Mensagem aos nossos emigrantes espalhados pelo mundo inteiro perante os novos desafios, a tecnologia e inteligência Artificial
A Mensagem é: muitos desses emigrantes foram lá para fora porque “apostaram nas competências, na formação, e é muito relevante”. “Recomendo a Portugal, que veja o que está a ser feito em Portugal pelas vias tecnológicas, pelo Governo, o trabalho que nós estamos a fazer na área de inteligência artificial, as várias iniciativas, há muita coisa para fazer.”
Há desafios muito interessantes, e o Web Summit é uma boa bandeira daquilo que hoje em dia é possível fazer no ecossistema do empreendedorismo. E, portanto, se possível voltar, “digo aos emigrantes, mas também digo aos não portugueses que possam vir para Portugal e tirar partido deste ecossistema, que acho que é bastante interessante e tem enorme potencial.”
Estamos em posição de construir as “novas naus”?
Eu penso que sim, sou bastante otimista e vejo muito talento todos os dias. Muitas coisas a serem feitas todos os dias em Portugal e lá fora, este caso da parceria da Microsoft com Cabo Verde é um excelente exemplo e, portanto, acho que muito disto depende das pessoas, depende da vontade e da visão, e isso existe. Depois, obviamente, a execução é um desafio, mas se acreditarmos que somos capazes, que temos o talento as pessoas, a tecnologia, o digital hoje em dia é muito mais global. É muito mais fácil de fazer muitas destas iniciativas hoje. É verdade que se perdemos redes, se calhar estamos mais perdidos. Penso que sem dúvida alguma estamos no bom caminho.