Em entrevista ao CEO da EDP Inovação, António Coutinho, falou ao Jornal Comunidades Lusófonas sobre as várias energias que existem no mercado nacional e internacional. Portugal continua ainda muito dependente das energias fósseis, apesar de os esforços atuais serem na direção das energias limpas e não poluentes. Portugal usufrui de uma geografia que o coloca à frente de muitos países a nível europeu a até nível mundial.
Um sol de fazer “inveja” um mar todo ao nosso dispor e ventos que nos permitem captar essa fonte energética limpa. Mas como não há bela sem senão, todas as energias limpas implicam um investimento avultado inicial, mas a médio e longo prazo é compensador. Eis o que o CEO da EDP Inovação tem a dizer sobre a transição energética e o que ela comporta.
Para António Coutinho a transição energética é basicamente a forma como hoje consumimos a energia, que é essencialmente através de combustíveis fósseis. Reduzir profundamente essa energia e “passamos para eletricidade, nós passamos pela eletricidade, porquê? Porque grande parte da energia renovável é elétrica, resultando na única forma que temos de consumir energia sem emissões é através de eletricidade com renováveis”. O aspeto interessante no meio disto é “quando fazemos essa transição, vamos reduzir o consumo de energia, isto é, quando usamos um carro elétrico em vez de um carro a gasolina, reduzimos quatro vezes o consumo energético que temos.” Os carros elétricos são muito mais eficientes. “Quando mudamos do nosso esquentador de gás, para uma bomba de calor, reduzimos 3,4 vezes o nosso consumo de energia, portanto, a transição energética basicamente é reduzirmos emissões consumindo menos energia,” explica o CEO da EDP Inovação.
Custo é médio prazo e se vale a pena essa tradição energética em termos financeiros
O Presidente da EDP Inovação garante que “essa transição energética vale muito a pena. Temos uma forma diferente de um ponto de vista de custos de a gerir, mas ela vale muito a pena porque vamos consumir menos energia.” A diferença é que, em vez de estarmos a pagar todos os meses, partimos de um investimento inicial mas esse investimento é elevado”. Esse é o ponto menos positivo das energias limpas, mas no final de contas os gastos a longo prazo vê-se numa redução significativa na fatura de cada mês. Temos por exemplo um carro elétrico. É mais caro que um carro a gasolina, mas depois o seu custo de utilização mensal é francamente mais barato, é mais barato no que diz respeito ao consumo de energia e é mais barato em termos de manutenção, pois não há necessidades de mudar o óleo, e outras operações normais de manutenção de um veículo a gasóleo ou gasolina. Portanto, a transição energética vai-se traduzir em menor custo a longo prazo. Inicialmente há um investimento, mas depois os resultados são positivos e muito mais ecológicos. É nesse ponto que a inovação vai traduzir em baixar esses custos o mais possível ou arranjar até outros modelos de negócio que permitam que as pessoas não tenham que fazer esses investimentos.
Fusão e energia Nuclear
E relação à Fusão de energia, resolvia-se “o problema energético do mundo” adianta o António Coutinho. O problema é que tecnologia, que neste momento há à disposição nem é uma questão de saber qual é o custo, não há ainda, tecnologicamente à disposição. “Ainda não conseguimos resolver esse problema. Ainda não conseguimos trazer o Sol à Terra para produzir energia de uma forma infinita. Portanto, a única solução que temos é a solução da fusão Nuclear e há várias propostas para fazer. Uma delas é ter reatores nucleares bem mais pequenos. Mas se esses reatores nucleares não são baratos, ainda está muito por demonstrar. O que nós sabemos é que a tecnologia solar e a tecnologia eólica já com armazenamento são francamente mais baratos e provavelmente continuam a ser francamente mais baratos até 2050.” Afirma o CEO Inovação.
Com o aumento da população vai haver um incremento nos painéis solares e eólicos. É comportável esse investimento em termos de aumento de painéis solares e eólicos?
A questão em primeiro lugar é saber se hás outras opções, e claramente não há, pelo menos até ao momento. Hoje utiliza-se e produz-se energia elétrica através de gás natural. É muito mais caro do que produzir energia elétrica através do solar e do eólico, portanto, hoje é muito mais económico para todos os consumidores finais, a utilização deste tipo de energia.
Nem todas as pessoas têm telhados para colocar os seus painéis solares, mas há muitas que têm, e há mais casas individuais em Portugal do que prédios. Há muita gente que pode produzir a sua própria energia em sua casa, que depois pode utilizar, pode armazenar, pode aquecer a água, pode utilizar para o seu próprio carro, essa é a grande mudança que vamos ter nos próximos anos.
Portugal é um país do Sol, um vento, uma geografia também ajuda a captação de energia das várias fontes; solar, eólica e marítima, porque não apostar mais nestas três, ao invés de continuar a usar as energias poluentes.
Portugal sempre foi um líder deste processo de transição energética, hoje temos um nível de penetração de energias renováveis, que é dos mais altos a nível europeu, e até nível mundial. O que acontece é que “temos que continuar a fazer investimentos”. “Temos que ter ligações à rede, que demoram tempo a ser construídas, portanto temos aqui alguns desafios que se colocam com tornar tudo Iisto possível e continuar a produzir energia renovável até, “deixarmos de ter ser necessidade de produzir com gás natural, que é hoje a forma como produzimos energia sem ser renovável.” É um desafio que temos que por algum tempo para fazer. “Mas temos de continuar a fazer esse investimento.”
Ao nível de poluição, em que lugar, ou em que patamar é que Portugal se encontra?
É uma questão muito difícil de responder, no ranking de poluição onde é que estamos. Temos que ter em consideração duas coisas, a primeira temos que ter em conta que nem toda a energia que consumimos é elétrica. Em Portugal só 22% da energia que o país consome é que é energia elétrica. O resto da energia essencialmente fóssil.
Para os “nossos” carros e para as “nossas indústrias”, dois terços dessa energia. Não é útil, é energia perdida. É a grande oportunidade que temos, de fizermos a transformação, e que vamos desperdiçar menos energia. Este é o primeiro aspeto. O segundo aspeto é energia das ondas, das energias que provêm do mar. O mar vai ter um papel importante na transição energética porque tem as ondas, o vento, o sol, são preciso fazer tecnologias e desenvolvê-las para começarem a produzir energia no sentido da descarbonização da economia. Hoje são tecnologias que ainda estão um pouco maduras. São tecnologias que por este fato são mais caras. Daí, só desenvolvermos essas tecnologias em escala quando estiverem bem maduras, em escala, optarmos pelas fontes energéticas do vento e do sol, no nosso território, e aí temos muito para onde podemos fazer.
Portugal tem capacidade capital humano para poder investir nessa no setor
Para António Coutinho a transição energética vai exigir um grande nível de investimentos. O mundo investiu 1.8 triliões de dólares em 2023, mas tem que investir 4.5 triliões, três, quatro vezes mais todos os anos até chegar 2050 e, obviamente é uma das áreas onde vai ter que crescer mais e que vão fornecer os aerogeradores, as eólicas, as bombas de calor e as baterias, que vão ser necessárias para transição energética.
Essas novas fábricas que vão sendo construídas, têm que ser feitas em todo o mundo. Em todos os países e que estão a lutar para as desenvolver. Esses equipamentos produtivos são construídos para fornecer a economia. “A Península Ibérica e, no caso específico em Portugal, tem ótimas condições do ponto de vista de custos de energia, de materiais, para poder ter ter fábricas que são parte desta solução. Se estamos a falar de aerogeradores, estamos a falar de bateria, mas não só isso, há muitas tecnologias onde podem entrar. Temos de estar atentos a isso.”
As tecnologias apresentadas não são poluentes?
Não são poluentes. “Vamos estar a usar eletricidade que já hoje produzimos de uma forma bastante renovável e cada vez mais. Esse é um primeiro aspeto. Outro aspeto é que as próprias tecnologias estão a evoluir, num sentido de serem cada vez menor a sua pegada ambiental. Por exemplo, quando falamos das baterias, falamos das baterias de lítio. Mas já há baterias de sódio. As baterias de sódio, que temos presente no sal, das salinas. Estamos a falar desse tipo de baterias. Portanto, as tecnologias estão a evoluir no sentido para que a sua pegada seja cada vez seja cada vez menor e, portanto, acreditamos que aí que a inovação vai dar resposta para termos de facto um mundo melhor e um mundo que todos queremos deixar para os nossos filhos e netos.”
Mensagem para o futuro em relação às energias
“Temos que ter confiança no que fazemos. Pensamos que a mudança não vem ao virar da esquina. Vem por sermos muito consistentes e trabalharmos para um para um objetivo, que é claro que é um objetivo termos um mundo melhor e sustentável.”
Mensagem para os governantes e para a população em geral
“É acreditarem que é possível e pensarem que é um esforço coletivo que não acontece amanhã, mas acontece por vontade de todos.” Finaliza o CEO da EDP Innovation.