Paula Ferreira, nasceu na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Os pais decidiram emigrar para o Canadá em 1970. Encontra-se lá há 55 anos, quando partiu frequentava o terceiro ano da escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. No Canadá continuou os estudos, terminando o 12º ano com a intenção de continuar a estudar na universidade, mas não foi possível, por circunstâncias da vida casou-se nova e dedicou-se à família, e à vida profissional, mas como a vida é uma caixinha de surpresas, aos 40 anos entrou na Universidade de Macgill em Montreal, onde frequentou e completou o curso de Gestão em Recursos Humanos.

Trabalhou na mesma empresa durante 38 anos, os primeiros 20 anos, em Administração, como Técnica Superior, e os últimos dezoito ocupou as funções de Generalista em Recursos Humanos e Diretora de Recursos Humanos, com remuneração executiva.
Em 2006, convidaram-na para se juntar à Casa dos Açores do Quebeque, “aceitei e ocupei o posto de Secretária no Conselho de Administração, mas só o fiz durante um ano, porque a minha vida profissional requeria que viajasse muito e não sentia que estava tão disponível para fazer tudo que necessitava fazer.” Relembra Paula Ferreira.
Anos mais tarde, em 2019, foi novamente convidada, e desta vez já se encontrava na reforma. Aceitou e está no Conselho de Administração desde 2019. Os primeiros três anos como Secretária, o quarto, como Vice-Presidente e estes três últimos como Presidente.

Como é ser Presidente, numa sociedade em que os homens continuam na sua maioria a ocupar lugares de liderança?
Na opinião da Presidente considera que é um ponto interessante, no sentido que pessoalmente, ocupando o lugar como Presidente, “não penso duas vezes que sou a mulher e não o homem,” mas tem os pés bem assentes e é bastante realista, “sei que na nossa Comunidade, uma Comunidade relativamente jovem, porque os primeiros imigrantes chegaram ao Canadá em 1953. Estamos a falar somente de 72 anos, eu vejo a nossa comunidade, como uma Comunidade um pouco conservadora,” observa a Presidente.
Ainda tem muitos campos daquelas primeiras gerações que emigraram, e nota, que talvez haja um respeito mais elevado pela “autoridade” de um homem, mas repara Paula Ferreira:“eu sinto-me bem na minha pele, e sei que faço um bom trabalho, e digo isso porque tenho testemunhos dos nossos sócios, da Comunidade, no afirmativo, eu sinto-me bem, e na nossa Casa eu sou a segunda mulher a ocupar o posto de Presidente. E a casa do Quebeque tem 47 anos.”
A Comunidade está evoluir. E o futuro será diferente. Mas com a imigração relativamente jovem, ainda há uma certa perceção sobre a mulher a ocupar um posto de liderança. Ao mesmo tempo, “eu sinto-me bem, no sentido que estou muito orgulhosa das minhas raízes portuguesas. Donde nasci, da rica cultura que o meu pequeno país tem. E eu penso também que à medida que vou envelhecendo, sinto aquela grande conexão às minhas raízes, e a oportunidade que tenho de a divulgar, de partilhar, de mostrar, quanta riqueza, quanta beleza existe. Para mim tudo isto vale a pena.” Revela a mesma.
Sente-se uma guerreira e que veio quebrar muitos estereótipos, nessa área?
“Sim, estou totalmente de acordo com esta descrição, eu tenho também que dizer que talvez a razão porque me sinto assim confortável, é porque trabalhei numa empresa multinacional onde estive exposta a vários desafios com CEO’s de várias empresas, num ambiente profissional elevado, como membros dos governos federais, municipais, provinciais, e todos estes anos e toda esta experiência, eu faço hoje na Casa dos Açores, rodeada pelas pessoas que me circundam, sinto que toda esta experiência, ajuda-me a fazer o que eu faço.
A Comunidade é um pouco conservadora e entre nós, por exemplo, conheço muitas senhoras da minha idade que não saem de casa sem o seu marido. É inacreditável, em pleno 2025, mas é uma realidade.” Atenta Paula Ferreira.
São pessoas, das primeiras imigrações, mas ainda existe, no entanto, “os nossos filhos que estão nos 30/40 anos que nasceram no Canadá, que é o país deles, às vezes, a minha filha confidencia-me que apesar de ter nascido aqui, ainda se sente dividida, não completamente integrada, porque ainda hoje em dia, quando ela conhece alguém diferente, há pessoas que lhe perguntam: onde nasceste?
“Ainda há estas situações. Ainda há alguma discriminação – um pouco velada – , mas ela está lá, mas o país é maior do que esses pequenos pontos, é muito rico e tem muitas culturas.” Revela.
Sempre foram bem tratados, “o Canadá é um país maravilhoso, há muitas oportunidades, é multicultural, nós sentimo-nos em casa. Ao mesmo tempo, temos vários grupos étnicos, o Canadá permite que os portugueses tenham a sua comunidade e têm comunicação social em português, mas, ao mesmo tempo, ainda hoje perguntam: “os teus pais de onde vieram?”
“Isto faz-nos pensar por vezes duas vezes.” Diz Paula Ferreira, revelando também que: “a minha filha as e netas nascerem cá, estão completamente integradas na sociedade Quebequense, pertencem aos clubes desportivos, têm um grupo vasto de amizades, é um país multicultural, com pessoas com as mais diversificadas raízes; portuguesas, italianas, iranianas, é uma realidade aqui no Canadá, é um país com muita riqueza, que estas etnias, e várias culturas trazem ao país, e haver ainda aquelas pequenas observações….”, destaca.
Mensagem que gostaria de dar aos portugueses que pretendam ir para o Canadá?
“A minha sugestão seria: Chegar ao Canadá com o espírito aberto, de se integrar o mais cedo possível. Claro que é importante manter as nossas raízes e talvez participar numa associação, num festival sobre a nossa cultura. Mas se a intenção é de viver no Canadá, de fazer a vida no Canadá, a minha sugestão passa pela integração o mais rapidamente possível e terem sempre orgulho em serem portugueses, e darem valor às nossas raízes. Mas quanto mais cedo a pessoa se integra, especialmente as crianças, envolvidas em todas as atividades onde está inserida, melhor,” enfatiza Paula Ferreira, uma portuguesa com muitos anos e experiência de emigração.



