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Quando a Mudança Se Mostra em Rodapé – Sem Correntes Crónica semanal

Destaques

09 novembro 2025

Esta semana, deparei-me com uma frase pequena no rodapé de uma notícia online, quase escondida, quase muda: “Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.” Não era novidade técnica, mas foi, para mim, a primeira vez que a vi expressamente declarada. E isso marca um ponto de viragem. A informação que chega ao espaço público já não é construída apenas por mãos humanas. É construída a quatro mãos, com sistemas que sintetizam e organizam e com pessoas que assumem responsabilidade editorial. A questão já não é se a IA está presente. A questão é como garantimos transparência, rigor, critérios e responsabilidade pública quando passamos a co-produzir informação com estas novas entidades.

E isso obriga-nos a olhar também para nós. Que tipo de cidadãos nos estamos a tornar ao conviver com estas novas criaturas que criamos. Se antes a autoria e a interpretação eram territoriais, agora são partilhadas. Se antes queríamos apenas usar tecnologia, agora temos de aprender a coexistir com tecnologia, sabendo que ela influencia o olhar com que vemos o mundo. Não se trata de substituir a voz humana, nem de imitar a humana na máquina. Trata-se de reconhecer que entrámos na era da co-responsabilidade cognitiva. E isso exige consciência, método e ética, não entusiasmo cego nem rejeição defensiva.

Eu uso sempre IA porque me ajuda a escrever e a pensar comigo mesma de forma muito mais rápida. Por outro lado, acredito que pode ser uma ferramenta importante para quem tem desafios resultantes de neurodivergência ou outros. Seja como for, ao ver esta nota, sei que testemunhamos momentos históricos. Não menos.

No mundo das notícias que me chamaram a atenção nestes últimos dias, deixo aqui um formato mais telegráfico, centrado no que me afecta como cidadã e no que considero que afecta também quem me lê:

Na COP30, em Belém (Brasil), voltou a estar em foco o financiamento climático e a pressão diplomática para manter o compromisso global dos 1,5 °C. O tempo das declarações abstractas parece ter terminado. A partir daqui contam-se responsabilidades. Ou não, porque o “homem da América” continua a não estar lá. Sabemos também que muitos dos que lá estão garantem financiamentos que, se fossem para outro lado, seguiriam o vil metal. Entre a hipocrisia de uns e o descaso de outros, ficam os que acreditam que temos de cuidar da nossa casa terrestre. E, como cidadã, sei que é na mudança de hábitos que o cuidado reside, não apenas nos grandes planos mundiais.

Na Holanda, a formação de governo prossegue com a D66 na liderança das negociações. Rob Jetten permanece como figura central. A prioridade é estabilizar governação, energia e habitação, temas que têm impacto directo na vida quotidiana de quem vive no país. Mas a notícia é outra. A extrema direita implodiu internamente. Numa síntese telegráfica, quase aristotélica: quando chega ao poder, revela a incapacidade de governar aquilo que reduz a slogans. Expõe-se a incompetência dos fanfarrões dos nossos tempos.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia avançou com o plano para a rede de alta velocidade até 2040. O objectivo é encurtar tempos de viagem entre capitais e integrar sistemas ferroviários nacionais. A execução será longa, mas a direção é estratégica porque liga mobilidade, coesão territorial e desenvolvimento económico. Por mim, é bem-vinda se os preços forem aceitáveis. Neste momento, pago mais por uma ligação Eurostar do que por uma ligação aérea. Se assim for, qual é o incentivo. Fica a nota pessoal de quem já tenta usar esta alta velocidade.

Em Portugal, é semana pré Web Summit e foi anunciado que a Comissão Europeia aprovou mais de 358 milhões de euros para 132 novos projetos ao abrigo do Programa LIFE, dedicados à transição para energias limpas, à proteção da biodiversidade e à adaptação climática. Portugal surge contemplado em três destes projetos, alguns em parceria europeia. O país posiciona-se no cruzamento entre transição verde e economia da inovação. Ou seja, queremos ser competitivos com aquilo que, depois, dizemos ser imperativo. Explico: há fundos para investir em programas verdes que depois são usados para argumentar que a Europa não é capaz de competir, com o relatório Draghi a ser mencionado como um apelo messiânico do “estamos a ficar mais pobres”. São fundos, são impostos, colocados em programas que, por outro lado, são vistos como causa de falta de competitividade. E, entretanto, o cidadão sente as condições de vida europeias a serem afectadas a sério. A contradição não é teórica. É vivida.

Para terminar,  continuam as guerras que parecem intermináveis. O Sudão mostra os limites da crueldade humana e o Brasil além eventos globais continua o acumular de vidas perdidas, numa  guerra interna em que se matam criminosos, em que se perdem polícias  é inocentes que cheguem, chegando ao ponto de encarcerar  jornalistas que querem mostrar esta dura realidade ao mundo….

Termino a minha coluna a olhar pela janela… lá fora ,  o outono, com as  suas cores gloriosas, deixa adivinhar um inverno especialmente frio.

E como sempre, que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.

Declaração de responsabilidade: Todas as opiniões e reflexões expressas nos textos, entrevistas ou publicações da autora são estritamente pessoais. Não devem ser entendidas como representando posições oficiais de qualquer organização, empresa ou instituição com as quais mantenha ligação profissional ou institucional. Embora desempenhe diversos cargos de liderança, consultoria e direção, as suas reflexões pessoais permanecem independentes e não devem ser atribuídas a essas entidades.

Por Marisa Monteiro Borsboom

Marisa Borsboom / Correspondente no BENELUX
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