No início do mês de junho, o governo português decidiu juntar o Ministério da Cultura com o Ministério da Juventude e do Desporto. Esta decisão valeu ao governo bastantes críticas da parte de vários jornalistas e artistas. O Jornal Comunidades Lusófonas esteve à conversa com vários artistas portugueses que vivem em Toronto, no Canadá, para perceber qual é a opinião dos que vivem fora do país.
Afinal porquê criamos arte? Segundo o Daniel, um pintor e artista plástico de Toronto, a arte faz parte de ser humano, é o que nos define e nos separa dos outros animais. “Já pintávamos nas paredes das cavernas antes de construirmos as nossas casas”, conta ele.
Para ele como para todos os artistas que o Jornal Comunidades Lusófonas entrevistou, um mundo sem arte parece impossível; talvez porque os humanos não podem existir sem arte. “Tudo parte de um desenho numa folha de papel ou de uma ideia partilhada com outros. Da construção dos nossos carros à construção das nossas instituições”, explica.
Para a fadista Jennifer Bettencourt, a música é uma linguagem universal e por essa razão não deveria ser elitista. “É importante ter fundos para poder criar programas artísticos acessíveis a todos”, diz. Ela também acredita que a música é uma forma de criar conexões com os outros e, durante a pandemia, as pessoas perceberam o quão importante eram as relações sociais. “Podíamos ouvir música em casa, mas não era a mesma coisa que quando íamos a um concerto e sentíamos as mesmas emoções que as pessoas à nossa volta”, sublinha.
O Rui Pedro, músico e fundador do grupo instrumental Mute Sounds, também acha que a música é uma forma de partilhar emoções. “A música cria reações na nossa mente que nos fazem não só sentir emoções mas também passam informações da vida, inspiram e transmitam algo que não se pode transmitir através das palavras”, explica. Para ele, um mundo sem cultura é um mundo sem humano.
Uma forma de pensar que ressoa com o Ricardo Araújo que faz fotografia e vídeo. Se a fotografia tem um papel utilitário na sociedade porque acompanha as estórias e permite comunicar, também congela um momento que transmite uma forma de ver o mundo através das lentes do artista. “O sol nasce todos os dias mas nunca acontece a mesma coisa. A fotografia permite guardar estes momentos únicos”, conta.
“É um momento de inspiração, faz parar e obriga a refletir. Acredito sinceramente que uma imagem vale mais do que mil palavras”, acrescenta a pintora Carla Antunes. Para ela, um mundo sem arte é como um mundo sem alma ou sem sol: falta-lhe tudo para poder existir. “E mesmo se o mundo fosse só a preto e branco, já aí reúnem-se todas as cores”.
Mas se a nível social, a cultura faz quase parte do nosso ADN, o que representa para os artistas que criam essa dita cultura? Para a Jennifer, a música é uma forma de se expressar e de criar relações com as pessoas à sua volta. “Espero que quando as pessoas me ouvem, se sentem ligadas naquele momento comigo e umas às outras. Também quero deixar uma impressão nas pessoas e inspirá-las”, diz um sorriso nos lábios.
Para o Daniel que começou por pintar retratos a óleo e que se dirigiu pouco a pouco para o Pop Art e que também mistura têxtis nas suas obras, a arte sempre foi uma forma de perceber o que ele queria da vida, nas suas relações com os outros e com ele próprio. “Desenhava antes de escrever. Cresci conforme descobria novas formas de me exprimir através das minhas obras de arte”, explica.
O Ricardo também cresceu com a sua arte: a fotografia. Quando teve o seu primeiro aparelho aos 14 anos, começou por tirar fotos de rua. “Estraguei muitos rolos de fotografia a tentar perceber qual era a diferença entre boas fotografias e arte”, goza. Para ele, a fotografia tem um papel sentimental porque guarda as memórias. Ou seja, uma fotografia pode ter “bastante calor porque tem uma nostalgia”. A Carla também vai buscar um certo conforto na arte que abre um espaço para expressar-se e transmitir mensagens ao mundo. “Sou muito sensível ao ambiente em que me encontro e portanto preciso deste espaço para mim”, explica. Quanto ao Rui Pedro, a arte foi uma salvação quando esteve num hospital em Lisboa porque tinha um cancro na garganta. “Estive fechado entre 4 paredes durante 8 meses e não podia falar. A guitarra foi um escapo. Talvez teria dado em doido sem a música!”, relembra numa voz quase impercetível devido a lhe terem tirado as amígdalas. E se todos têm as suas histórias pessoais, todavia têm algo em comum: esperam todos que um dia a arte seja vista como algo fundamental para as nossas sociedades!
Andreia Portinha Saraiva
