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Quarta-feira - 29 Outubro 2025

EXCLUSIVO – Cidade da Beira: 118 anos de reinvenção permanente

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São 118 anos uma idade relativamente jovem para uma cidade. A cidade da Beira é um exemplo disso: uma urbe que olha com orgulho para o passado, não deixando de mover-se com determinação para o futuro.

“Estou a reinventar aquele lugar, a Beira, para que ele permaneça vivo dentro de mim”. A citação é de Mia Couto, escritor nascido na Beira, e serve tanto para explicar a origem do seu livro “As areias do Imperador” como para entender esta terra onde a história, a memória, a beleza se entrecruzam na Costa, próximo ao Oceano Índico

Reinvenção é uma palavra feliz para falarmos da cidade que faz, este ano, 118 anos. Porque esta é uma terra que se foi moldando à influência dos seus habitantes, às suas características, às suas ambições.

Antes da vinda dos portugueses, a região era habitada por povos locais, principalmente da etnia Shona, que se dedicavam à agricultura, à pesca e ao comércio. Integravam o reino de Monomotapa, conhecido pela sua riqueza em ouro, e tinham laços comerciais com comerciantes indianos e árabes.

A chegada dos navios comandados por Vasco da Gama, em 1498, trouxe consigo grandes alterações. Os portugueses aportaram a Moçambique em 1498, e a administração colonial foi instalada três anos mais tarde, e o território ficou dependente do Estado da Índia até 1752.

A colonização foi lenta e demorada. Inicialmente os portugueses exploraram a via comercial: Moçambique desempenhou uma função de entreposto comercial e de ponto de apoio aos navios.

O historiador Luís Filipe Alencastro refere sobre este período que “ os portugueses praticamente não interferiram no processo produtivo da região, e não conseguiram beneficiar com os circuitos de comércio local”. A atividade económica da região estava voltada para a conexão com a Índia, e essa foi uma realidade que se manteve durante séculos.

Em 1569, Moçambique foi elevada à condição de capitania, englobando a região de Sofala e a do Monomotapa. A ocupação territorial de Moçambique, iniciada em 1507, foi contudo lenta e frágil, segundo este historiador.

A história da Beira como território independente começa, verdadeiramente, no século XIX. A povoação foi fundada em 1887, numa zona conhecida como Aruângua, ultrapassou rapidamente Sofala como principal porto no território da atual província de Sofala.

O seu nome original homenageava o rio local, o Chiveve, mas a visita do Príncipe Dom Luís Filipe, em 1907, que possuía o título de Príncipe da Beira, levou a um novo nome de batismo – cidade da Beira. Foi o primeiro membro da família real a visitar Moçambique.

A nova cidade, fundada a 20 de Agosto de 1907, passou a organizar-se à volta da Companhia de Moçambique, sediada na Beira. Essa sede de progresso já era visível antes, em 1899, quando se construiu a ferrovia que ligava a região à Rodésia, mas o crescimento foi acelerando a sua dinâmica com a chegada da iluminação elétrica, em 1907, o serviço telefónico urbano, em 1911, e, em 1934, já havia mais de 500 automóveis a circular na cidade.

Em 1942, a administração da cidade, deixou de estar nas mãos da Companhia e passou para a gestão direta do Governo português. Abre-se, então, um tempo de profunda mudança que se reflete na arquitetura local – é o período da construção da nova Estação da Beira, do Porto da Beira e de outro ex-libris da cidade, o Grande Hotel.

Após a independência de Moçambique, a cidade soube reinventar-se novamente. O seu cosmopolitismo acentuou-se, apesar de passar por vicissitudes como a guerra civil ( 1977-1992) ou o ciclone Idaí em 2019.

O seu Porto é um dos principais da África austral e serve como entreposto de exportação e importação para países como Zimbábue, Zâmbia, Malauí e República Democrática do Congo. A Beira possui uma Indústria diversificada, abrangendo áreas como a pesca, a agricultura, os têxteis, o comércio e o Turismo.

O Turismo é, precisamente, uma das áreas com maior crescimento e locais emblemáticos como a Praia do Macuti, com o seu farol histórico e o navio encalhado, a Catedral da Beira, construída com pedras da Fortaleza de Sofala, a Casa Infante de Sagres, edifício histórico da era colonial ou o Parque Nacional da Gorongosa, são símbolos da beleza intemporal da cidade.

A Beira continua, em 2025, com a sua prodigiosa reinvenção. É uma cidade dinâmica, voltada para o mundo, que não quer parar o seu movimento rumo ao futuro.

Rui Marques

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